Sempre preocupado, com razão, com o estado clínico de seus clientes, o setor hospitalar brasileiro está em processo de profissionalização e não deixa de observar atentamente sua própria saúde, dessa vez financeira. Para especialistas, a busca por boas práticas de gestão cria oportunidades para pequenos e médios empresários, especialmente nas atividades meio, de suporte aos serviços médicos. Nichos de mercado como tecnologia de informação (TI), consultorias em gestão, treinamento e capacitação de funcionários, manutenção clínica, revenda de equipamentos, vigilância, entre outros, oferecem boas perspectivas. Na maioria dos casos, o capital inicial para a abertura do negócio não passa de R$ 500 mil.
As perspectivas se tornam melhores se analisarmos o bom momento do setor, que, apesar das turbulências ocasionadas pela conjuntura econômica internacional, segue
Pois é justamente na prestação de serviços variados que as pequenas e médias empresas podem lucrar. "Antigamente, tínhamos pacientes. Hoje, temos consumidores, o que nos obriga a melhorar constantemente. Ao mesmo tempo, temos como obrigação prestar atendimento médico de qualidade. Por conta disso, terceirizamos serviços como recolhimento e tratamento de resíduos hospitalares, treinamento de colaboradores, entre outros, para focar em nossa atividade fim", explica Eduardo Salluh Balbino, proprietário da Clínica Balbino e diretor da Associação de Hospitais e Clínicas do Rio de Janeiro (AHCRJ).
Segundo Guilherme Jaccoud, diretor da Feherj, o setor hospitalar vem passando por uma transformação nos últimos anos, cuja marca principal é a busca por uma gestão mais eficiente. "Costumo dizer que os hospitais são parecidos com aeroportos, tamanha sua complexidade de atividades e serviços. Por isso, mais do que nunca, necessitam uma gestão profissional. Clínicas e unidades de saúde privadas são empresas e, como qualquer negócio, devem ser lucrativas. O setor caminha nessa direção, mas ainda enfrentamos gargalos como a qualificação e capacitação da mão-de-obra", afirma.
Observando a reestruturação do setor hospitalar, o empresário Evandro Rua criou, em
Segundo Rua, é possível abrir uma consultoria com investimento de R$ 30 mil. "O investimento é baixo porque não é preciso um ponto, uma vez que a prestação do serviço se dá no próprio cliente. Tive um escritório e depois o fechei porque não havia necessidade. Além disso, de início, a contratação de um colaborador não é necessária", acredita. O faturamento pode ser variável até a montagem de uma carta de clientes fixa. "Na medida em que se fica mais conhecido no mercado, maior é a comissão, paga por hora. Hoje, um consultor em início de carreira recebe entre R$ 80 e R$ 100 por hora", estima.
Hoje, seus principais clientes são os hospitais Pró-Cardíaco, Pronep Soluções em Saúde e Clínica Saint Romain. "O interessante é que cada cliente possui demandas específicas. O grande desafio da consultoria é, a partir do sistema utilizado, customizá-lo para as necessidades de cada um". Segundo Rua, seu principal custo hoje se encontra na capacitação de seus colaboradores. "O treinamento representa cerca de 10% do faturamento. É claro que aprendem muito no dia-a-dia de trabalho, mas é importante complementar com cursos", afirma.
Em 1994, Rosangela Arruda se uniu a dois sócios para atuar na prestação de serviços para o setor hospitalar. Ao observar a crescente demanda por capacitação em hospitais e clínicas, decidiu criar a FAT Faturamento. "Hoje, oferecemos três serviços distintos: terceirização na área de faturamento, treinamento e consultoria hospitalar. No entanto, eles se complementam. Durante a consultoria, posso identificar a necessidade de treinar os colaboradores do cliente ou mesmo de terceirizar o faturamento para otimizar a gestão", afirma Rosângela.
Para ela, o investimento inicial para a abertura de uma empresa nesse nicho de mercado fica em R$ 60 mil. O retorno, segundo Rosângela, vem com o tempo. "Trata-se de um trabalho a longo prazo, porque até você ter clientes fixos leva um tempo. É importante ter conhecimento do setor hospitalar para se arriscar", adverte. Hoje, a FAT faturamento atende hospitais e clínicas em todo o estado. "Também faço treinamento para algumas operadoras como Golden Cross e Amil", revela. Segundo a empresária, o ano foi muito positivo para a empresa. "Ampliei o escritório, contratei mais colaboradores e ainda obtive aumento de receita. Estimo fechar 2008 com um crescimento entre 15% e 20% no faturamento", revela.
Há 36 anos no mercado, a Reciclage oferece serviços de coleta, transporte e reciclagem de efluentes químicos usados em fixadores e reveladores de raios X, além de instalar estações de tratamento nas próprias unidades de saúde. Segundo o proprietário, Claudio Erico Gomma, sua área de atuação não se limita ao setor hospitalar abrange também reveladoras de filmes fotográficos mas é nesse mercado que encontra seus principais clientes. "Por meio de licitação, firmei contrato com a prefeitura do Rio para atender a todos os hospitais municipais. Além disso, presto serviço para clínicas privadas e unidades de saúde na capital e no interior do estado. Posso dizer que o setor hospitalar representa 80% do faturamento", afirma.
Segundo Gomma, os principais custos de seu negócio são o transporte dos resíduos e a mão-de-obra. Ao mesmo tempo, aponta outras dificuldades. "Fundamental para quem deseja investir nesse nicho de mercado, a certificação junto à Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) é um complicador. É trabalhoso obter a autorização", alerta. O empresário acredita que o investimento para abrir uma empresa chegue a R$ 100 mil, com o ponto incluído. "É necessário ter espaço para armazenar o material que será recuperado e montar uma boa logística para o transporte".
Baseada
Segundo um dos sócios, Wagner Aredês, a demanda por softwares e produtos médicos está em alta. "O DL200 está pronto, mas ainda não o lançamos oficialmente. No entanto, participamos de eventos médicos e a aceitação tem sido muito boa. Até aqui, já recebemos muitos pedidos, principalmente da rede pública", revela.
Segundo Aredês, o plano de negócios da Delta Life prevê a produção de 500 peças por mês. O foco inicial são hospitais, públicos e privados, instalados no Rio, São Paulo e Minas Gerais. "Montamos nossa linha de produção no parque tecnológico de São José dos Campos. O investimento inicial para a abertura do negócio foi de R$ 500 mil", revela. Para ele, a incubação é uma boa dica para quem pretende entrar nesse mercado. "Barateia os custos e facilita o acesso a linhas de crédito para pesquisas e mão-de-obra qualificada", acredita.
Para o empresário, a principal dificuldade para quem pretende investir nesse segmento também se encontra na certificação. "A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é muito rígida", afirma.