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Setor hospitalar se consolida

Sempre preocupado, com razão, com o estado clínico de seus clientes, o setor hospitalar brasileiro está em processo de profissionalização e não deixa de observar atentamente sua própria saúde, dessa vez financeira. Para especialistas, a busca por boas práticas de gestão cria oportunidades para pequenos e médios empresários, especialmente nas atividades meio, de suporte aos serviços médicos. Nichos de mercado como tecnologia de informação (TI), consultorias em gestão, treinamento e capacitação de funcionários, manutenção clínica, revenda de equipamentos, vigilância, entre outros, oferecem boas perspectivas. Na maioria dos casos, o capital inicial para a abertura do negócio não passa de R$ 500 mil.
As perspectivas se tornam melhores se analisarmos o bom momento do setor, que, apesar das turbulências ocasionadas pela conjuntura econômica internacional, segue em crescimento. Segundo dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Serviços de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde, o estado do Rio de Janeiro possui atualmente 378 hospitais e 1.862 clínicas privadas, que empregam cerca de 153 mil trabalhadores diretos. O faturamento segundo dados do Datasus, foi de R$ 782 milhões no ano passado. "A rede privada aplica em melhorias, pelo menos, 10% de seu faturamento", afirma José Carlos Abrahão, presidente da Federação de Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado do Rio de Janeiro (Feherj).
Pois é justamente na prestação de serviços variados que as pequenas e médias empresas podem lucrar. "Antigamente, tínhamos pacientes. Hoje, temos consumidores, o que nos obriga a melhorar constantemente. Ao mesmo tempo, temos como obrigação prestar atendimento médico de qualidade. Por conta disso, terceirizamos serviços como recolhimento e tratamento de resíduos hospitalares, treinamento de colaboradores, entre outros, para focar em nossa atividade fim", explica Eduardo Salluh Balbino, proprietário da Clínica Balbino e diretor da Associação de Hospitais e Clínicas do Rio de Janeiro (AHCRJ).
Segundo Guilherme Jaccoud, diretor da Feherj, o setor hospitalar vem passando por uma transformação nos últimos anos, cuja marca principal é a busca por uma gestão mais eficiente. "Costumo dizer que os hospitais são parecidos com aeroportos, tamanha sua complexidade de atividades e serviços. Por isso, mais do que nunca, necessitam uma gestão profissional. Clínicas e unidades de saúde privadas são empresas e, como qualquer negócio, devem ser lucrativas. O setor caminha nessa direção, mas ainda enfrentamos gargalos como a qualificação e capacitação da mão-de-obra", afirma.
Observando a reestruturação do setor hospitalar, o empresário Evandro Rua criou, em 1992, a Evandro Rua Consultoria Empresarial e decidiu investir suas atenções no mercado. "O movimento de consolidação aconteceu, principalmentre, a partir da criação da Agência Nacional de Saúde (ANS) e do Plano Real, quando o setor passou a se preocupar mais com seus custos e, portanto, a buscar uma gestão mais profissional. Identifiquei uma demanda muito grande por sistemas que auxiliam o processo e comecei a trabalhar em cima disso", afirma Rua, que, antes de abrir sua empresa, teve passagens por Xerox, Esso e Ceras Johnson.
Segundo Rua, é possível abrir uma consultoria com investimento de R$ 30 mil. "O investimento é baixo porque não é preciso um ponto, uma vez que a prestação do serviço se dá no próprio cliente. Tive um escritório e depois o fechei porque não havia necessidade. Além disso, de início, a contratação de um colaborador não é necessária", acredita. O faturamento pode ser variável até a montagem de uma carta de clientes fixa. "Na medida em que se fica mais conhecido no mercado, maior é a comissão, paga por hora. Hoje, um consultor em início de carreira recebe entre R$ 80 e R$ 100 por hora", estima.

Hoje, seus principais clientes são os hospitais Pró-Cardíaco, Pronep Soluções em Saúde e Clínica Saint Romain. "O interessante é que cada cliente possui demandas específicas. O grande desafio da consultoria é, a partir do sistema utilizado, customizá-lo para as necessidades de cada um". Segundo Rua, seu principal custo hoje se encontra na capacitação de seus colaboradores. "O treinamento representa cerca de 10% do faturamento. É claro que aprendem muito no dia-a-dia de trabalho, mas é importante complementar com cursos", afirma.

Em 1994, Rosangela Arruda se uniu a dois sócios para atuar na prestação de serviços para o setor hospitalar. Ao observar a crescente demanda por capacitação em hospitais e clínicas, decidiu criar a FAT Faturamento. "Hoje, oferecemos três serviços distintos: terceirização na área de faturamento, treinamento e consultoria hospitalar. No entanto, eles se complementam. Durante a consultoria, posso identificar a necessidade de treinar os colaboradores do cliente ou mesmo de terceirizar o faturamento para otimizar a gestão", afirma Rosângela.

Para ela, o investimento inicial para a abertura de uma empresa nesse nicho de mercado fica em R$ 60 mil. O retorno, segundo Rosângela, vem com o tempo. "Trata-se de um trabalho a longo prazo, porque até você ter clientes fixos leva um tempo. É importante ter conhecimento do setor hospitalar para se arriscar", adverte. Hoje, a FAT faturamento atende hospitais e clínicas em todo o estado. "Também faço treinamento para algumas operadoras como Golden Cross e Amil", revela. Segundo a empresária, o ano foi muito positivo para a empresa. "Ampliei o escritório, contratei mais colaboradores e ainda obtive aumento de receita. Estimo fechar 2008 com um crescimento entre 15% e 20% no faturamento", revela.
Há 36 anos no mercado, a Reciclage oferece serviços de coleta, transporte e reciclagem de efluentes químicos usados em fixadores e reveladores de raios X, além de instalar estações de tratamento nas próprias unidades de saúde. Segundo o proprietário, Claudio Erico Gomma, sua área de atuação não se limita ao setor hospitalar abrange também reveladoras de filmes fotográficos mas é nesse mercado que encontra seus principais clientes. "Por meio de licitação, firmei contrato com a prefeitura do Rio para atender a todos os hospitais municipais. Além disso, presto serviço para clínicas privadas e unidades de saúde na capital e no interior do estado. Posso dizer que o setor hospitalar representa 80% do faturamento", afirma.
Segundo Gomma, os principais custos de seu negócio são o transporte dos resíduos e a mão-de-obra. Ao mesmo tempo, aponta outras dificuldades. "Fundamental para quem deseja investir nesse nicho de mercado, a certificação junto à Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) é um complicador. É trabalhoso obter a autorização", alerta. O empresário acredita que o investimento para abrir uma empresa chegue a R$ 100 mil, com o ponto incluído. "É necessário ter espaço para armazenar o material que será recuperado e montar uma boa logística para o transporte".
Baseada em São José dos Campos e incubada no Centro para a Competitividade e Inovação do Cone Leste Paulista (Cecompi), a Delta Life foi aberta no ano passado. Semana passada, durante a Hospital Business 2008, feira de negócios e congresso do setor ocorrido no Rio, a empresa apresentou ao mercado o protótipo do seu produto, o DL200, que auxilia na terapia intravenosa ao promover controle preciso no uso de medicamentos.
Segundo um dos sócios, Wagner Aredês, a demanda por softwares e produtos médicos está em alta. "O DL200 está pronto, mas ainda não o lançamos oficialmente. No entanto, participamos de eventos médicos e a aceitação tem sido muito boa. Até aqui, já recebemos muitos pedidos, principalmente da rede pública", revela.
Segundo Aredês, o plano de negócios da Delta Life prevê a produção de 500 peças por mês. O foco inicial são hospitais, públicos e privados, instalados no Rio, São Paulo e Minas Gerais. "Montamos nossa linha de produção no parque tecnológico de São José dos Campos. O investimento inicial para a abertura do negócio foi de R$ 500 mil", revela. Para ele, a incubação é uma boa dica para quem pretende entrar nesse mercado. "Barateia os custos e facilita o acesso a linhas de crédito para pesquisas e mão-de-obra qualificada", acredita.
Para o empresário, a principal dificuldade para quem pretende investir nesse segmento também se encontra na certificação. "A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é muito rígida", afirma.