O bebê Ian, cujo nascimento está previsto para o dia 25 deste mês, tem Síndrome do Coração Esquerdo Hipoplásico, doença cardíaca grave e rara que impede o desenvolvimento do lado esquerdo do coração, responsável pelo bombeamento de sangue para todo o corpo. Para tentar sobreviver à doença, diagnosticada ainda no útero da mãe – a veterinária Marcia Nassaro Fernandes, de 25 anos -, Ian precisa passar por três cirurgias complexas, a primeira logo após o nascimento.
Não bastasse a gravidade da síndrome, Marcia ainda terá de lutar na Justiça para garantir que o plano de saúde cubra as despesas médicas. A Golden Cross, empresa da qual a mãe é cliente, negou autorização para a cirurgia no dia 27 de outubro. A alegação, segundo Marcia, é a de que o cirurgião que faria a operação não é credenciado. "O plano de saúde alega que eu deveria ter ficado com algum conveniado, mesmo eu tendo explicado que só existe esse no Brasil", diz.
Marcia mora no Rio, mas está desde o último fim de semana em São Paulo, cidade onde atua o cirurgião José Pedro da Silva, cardiologista da Beneficência Portuguesa pioneiro na técnica cirúrgica pela qual Ian precisa passar. Marcia terá de ficar na capital pelo menos até o quinto mês de vida de Ian, que ficará internado até obter alta da segunda cirurgia.
"Sempre paguei religiosamente o plano mais top de linha que eles oferecem, sonhando que se um dia eu precisasse, eles me acolheriam. Não consigo imaginar que R$ 25 mil seja caro demais para uma empresa do nível da Golden Cross", diz Marcia, citando o valor cobrado pelo médico para fazer o parto – uma cesariana normal – e a primeira cirurgia. A veterinária afirmou que não tem como custear a operação e terá de recorrer à Justiça para tentar obter liminar que garanta ao pequeno Ian o direito à vida.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula o setor de saúde suplementar, informou que a Síndrome do Coração Esquerdo Hipoplásico faz parte do rol de procedimentos que os os planos devem oferecer e, caso nenhum médico conveniado faça a cirurgia, ela deve ser integralmente reembolsada ao beneficiário.
A Golden Cross informou por meio de sua assessoria que a rede credenciada da empresa conta com outras equipes habilitadas a realizar a cirurgia, tanto em São Paulo como no Rio. "A Golden Cross orienta a associada a escolher uma dessas opções para realizar o procedimento ou,opcionalmente, arcar com as despesas de seu médico particular e solicitar reembolso nos termos e limites do que dispõe seu contrato."
A técnica
O tratamento mais usado é uma técnica cirúrgica paliativa de reconstrução, conhecida como técnica de Norwood, desenvolvida na década de 1980 e bem estabelecida na prática cirúrgica atualmente.
"Demorei três anos até conseguir um sobrevivente porque é uma técnica complexa, que modifica totalmente o fluxo sanguíneo do coração", disse Silva. Depois das três operações, o lado direito passa a fazer a função do esquerdo, bombeando sangue para todo o corpo. Silva já operou 55 crianças com hipoplasia que estão vivas até hoje, entre as quais uma menina de 11 anos, que mora em Campinas.