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Falta de médicos nas cidades, um problema crônico

Falta de médicos no País

            Dos 5.564 municípios brasileiros, 455 não contam com um único médico da saúde pública durante os 365 dias do ano. Na Região Sudeste, faltam profissionais em 111 municípios. No Sul, o número sobe para 116. O problema é mais grave no Nordeste, onde 177 cidades não têm médico. Em sua grande maioria, são cidades pequenas, pobres e distantes das capitais e grandes centros econômicos. Em São Paulo , entram na lista apenas as cidades de Sagres, com 2,3 mil habitantes, e Suzanápolis, com uma população de 2,9 mil pessoas.

            O levantamento foi feito pela pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob encomenda do Ministério da Saúde, e divulgado no encontro da Global Health Workfare Alliance (GHWA), que ocorreu no fim de semana em Ouro Preto. A entidade é vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS) e uma de suas funções é pressionar os governos a assegurar maior presença de médicos nas áreas onde há carência deles. Realizado com base em dados de outubro, o estudo mostrou que o Brasil hoje tem 1,15 profissional de saúde com diploma superior para cada 100 mil habitantes – um pouco acima do limite recomendado pela OMS, que é de 1 por 100 mil. Em alguns Estados , como o Acre, na Região Norte, a relação é de apenas 0,8.

            Os números refletem a dificuldade das Secretarias Estaduais de Saúde de encontrar médicos dispostos a trabalhar em municípios pequenos e longínquos, onde não há laboratórios de análises clínicas, prontos-socorros equipados e centros cirúrgicos. Entre as especialidades com maior carência, aponta o estudo da UFMG, estão a anestesiologia, a psiquiatria, a medicina intensiva e, principalmente, a pediatria. No Nordeste, 42% dos hospitais públicos disseram ter dificuldade para aumentar o quadro de anestesistas e de pediatras. No Sul, 25% têm o mesmo problema.

            Para os especialistas, a falta de médicos não decorre somente do número insuficiente de profissionais formados anualmente pelas 176 faculdades de medicina existentes no País – número menor apenas do que o da Índia. Tão grave quanto esse problema é a falta de atrativos financeiros e profissionais que estimulem os médicos a atuarem no interior, onde ganham pouco, as condições de trabalho não são as ideais e não há acesso a informações especializadas numa área do conhecimento que vem se expandindo cada vez mais rapidamente.

            A má distribuição de médicos tem um impacto direto nos indicadores de saúde. A falta de atendimento básico, por exemplo, é um dos fatores que concorreram para a epidemia de dengue que assola o País nos períodos de chuva. Hoje também começam a faltar profissionais dispostos a trabalhar nas favelas das capitais e nas periferias das cidades de médio e grande portes, afetadas pela violência e com precária infra-estrutura.

            Para enfrentar o problema, o Ministério da Saúde concebeu três programas. O primeiro é o Pró-Saúde, que busca treinar médicos para a rede pública.O segundo é o Telessaúde, programa pelo qual os centros de excelência clínico-hospitalar das grandes cidades oferecem aos médicos dos municípios mais longínquos, pela internet, educação continuada e uma "segunda opinião", ajudando-os nos diagnósticos. O terceiro é o Programa Saúde da Família (PSF), que funciona há aproximadamente 15 anos. Mesmo assim, cerca de 35% dos municípios brasileiros permanecem até hoje sem atendimento pelas equipes do PSF.

            Embora o governo já tenha prometido adotar plano de carreira e benefícios salariais para estimular os médicos da rede pública a trabalharem em pequenas localidades, muito pouco foi feito até hoje. A última medida anunciada pelo governo foi a criação de fundações estatais de direito privado, que teriam a flexibilidade jurídica para contratar médicos para os municípios. No entanto, apesar de a proposta ter sido muito bem recebida pelos especialistas, o governo até hoje não mobilizou a bancada situacionista na Câmara e no Senado para aprová-la. Sem essa iniciativa, o problema da insuficiência de médicos e da má distribuição desses profissionais em todas as regiões do País continuará sem solução.