Nesta quarta-feira (dia 2/7), a Associação Médica do Paraná completa 75 anos. O atual presidente da entidade, José Fernando Macedo, marca a data com um anúncio: os próximos meses serão de batalhas intensas pela remuneração justa à classe médica. “Este é um dos períodos de maior desvalorização e insatisfação da classe médica da história. Mas, mesmo assim, estamos comemorando os 75 anos da Associação Médica do Paraná com muita esperança de que vamos reconquistar a dignidade da profissão”, diz o médico angiologista, que já presidiu outras duas vezes a entidade. Ele resume o sentimento da classe médica que, durante décadas foi vista como uma das mais respeitadas e imponentes profissões – e hoje batalha para receber mais do que os valores inferiores a R$ 10,00 por consulta pelo SUS.
Apenas em 2007 e 2006, a AMP participou ativa e intensamente de movimentos pela valorização da classe médica, sendo até mesmo acusada de corporativismo quando defendeu a melhoria da qualidade do ensino médico. Em seguida, comemorou a vitória sobre as novas regras definidas pelo Ministério da Educação para autorizar a abertura de novos cursos de Medicina no País.
A aprovação da Emenda Constitucional 29 também é uma luta atual da AMP, e já incluiu reunião com parlamentares, manifesto enviado a Brasília e atos públicos. Segundo Macedo, isso vai garantir mais investimentos para a Saúde e qualidade para os usuários do sistema público. “Basta que o governo cumpra o que prevê a Constituição e destine 10% de suas receitas brutas para a Saúde. Somente desta forma teremos hospitais devidamente equipados, medicamentos e leitos suficientes e médicos dignamente remunerados – tudo isso faria com que o SUS desse um grande salto na qualidade de atendimento”, explica.
Nesta semana, o calendário de comemorações da Associação Médica do Paraná inclui homenagens a profissionais da classe, lançamento de livro do psiquiatra e psicoterapeuta Augusto Cury, lançamento do selo comemorativo e festa com a presença do maestro João Carlos Martins. Porém, para José Fernando Macedo, o principal ainda está por vir. “Só vamos sossegar quando a classe médica estiver recebendo valores justos e a sociedade estiver recebendo atendimento de qualidade”, sentencia.
História
A Associação Médica do Paraná nasceu em 1933, fruto da união da Sociedade Paranaense de Medicina, da Sociedade Médica Hospitalar e do Sindicato Médico. Funcionava na sala nobre da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba e em 20 de agosto foi eleita a 1ª diretoria, tendo como presidente o Dr. Milton Munhoz.
Ao longo dos 75 anos, já teve 36 presidentes que lutaram pelas necessidades, estruturação e atualização da classe médica. Hoje, a AMP tem sede social e campestre próprias, 43 regionais por todo o Estado e 41 departamentos de Sociedades Científicas vinculados.
O primeiro ano da AMP foi marcado pela tentativa de reestruturação e seus primeiros passos foram a luta por respeito à ética profissional, estudo e divulgação de todos os ramos da Medicina, intervenção em todos os assuntos referentes à saúde pública e o combate ao curandeirismo e ao charlatanismo. Uma das primeiras iniciativas da entidade que merece destaque é a instituição do seguro médico.
Na década de 40, foram criadas as primeiras regionais da AMP – a Associação Médica de Londrina, o Centro Médico de Paranaguá e a Sociedade Médica de Maringá. Nas décadas seguintes, investiu-se na regionalização da AMP em todo o Paraná e foi dado início ao saber médico estimulado e respaldado pela abertura de novos cursos universitários e pelo privilegiamento da pós-graduação.
Sempre envolvida em questões de importância do cenário nacional, a entidade esteve presente também na 2ª Guerra Mundial, aliando-se à antiga Sociedade de Medicina Brasileira em sua campanha para a aquisição de um avião para a Força Expedicionária Brasileira. No golpe de 1964 a AMP foi chamada para envolver-se numa estratégia de luta e amparo à prática médica no País.
Em 1986, criou-se uma comissão especialmente para discutir a adoção da Tabela da Associação Médica Brasileira pelo INAMPS e o estabelecimento de novos coeficientes honorários. No ano seguinte, por meio da AMP, a classe médica paranaense participou da elaboração da Constituição quanto aos aspectos da saúde.
Entre outras atividades significativas, em 1999 a AMP implantou O Sinam (Sistema Nacional de Atendimento ao Médico). Foi criado para que a população de baixa renda pudesse ter um atendimento médico de qualidade nas mais variadas especialidades, sem depender do SUS e de planos de saúde. Para a classe médica, o atendimento pelo Sinam é uma vantagem, porque os profissionais recebem de acordo com a tabela mínima determinada pelas sociedades científicas. Hoje, o Sinam tem mais de 600 mil usuários que não podem pagar plano de saúde, mas também não dependem do SUS e contam com atendimento de caráter particular, por um preço bem inferior – e justo para a classe médica.