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Demissão por uma causa

A pressão do Congresso sobre o governo, pela liberação imediata de verbas que atendam as emendas parlamentares, derrubou ontem a segunda maior autoridade do Ministério da Saúde. O secretário-executivo da pasta, Gastão Wagner, pediu demissão, desgastado por divergências políticas com o ministro Humberto Costa, relacionadas, principalmente, à execução de emendas parlamentares. Wagner foi substituído, interinamente, pelo chefe de Gabinete do ministério, Antônio Alves de Souza. Em nota oficial, o ministério atribuiu a saída do secretário-executivo à ”readequação do papel” daquela secretaria e a ”visões diferenciadas sobre o encaminhamento desse processo”.

Gastão sempre resistiu à execução de emendas parlamentares na área de saúde. Com tal comportamento, transformou-se num empecilho para negociadores do governo no Congresso, sobretudo agora, quando a liberação das emendas é indispensável para conseguir a aprovação de projetos importantes e destravar a pauta da Câmara. Ao mesmo tempo, parte do secretariado também se mostrava descontente com o comportamento dele. Alvejado por dois lados, não conseguiu se manter no cargo.

Um dos integrantes do ministério afirma que a saída da Wagner foi de ”comum acordo”. O secretário-executivo do ministério reconheceu as divergências políticas com Costa, que se arrastavam há algum tempo. ”Temos modos diferentes de pensar e agir”, disse. ”Para mim, é difícil aceitar que, diante dos recursos limitados, parte dos investimentos em saúde sejam aleatórios, arbitrários”, afirmou, numa referência à liberação de emendas.

A exoneração do secretário-executivo deverá ser publicada no Diário Oficial da União (DOU) de sexta-feira (12). Muitos dos integrantes da equipe dele também deverão deixar o ministério. O ministro da Saúde convidou Gastão a assumir a representação brasileira no Conselho Executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS). Por enquanto, o secretário disse que duas coisas estão certas: ele volta a dar aula na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e não pensa em deixar o PT. Gastão foi secretário de Saúde da Prefeitura de Campinas duas vezes.

Novas críticas dos radicais

O impasse entre a base aliada e o governo pode ser agravado pelos próprios petistas. Ontem, deputados da ala radical do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva agiram como se fossem da oposição. Fizeram duras críticas à postura do governo de liberar emendas em troca de acordo, avaliaram como negativo o desempenho do PT nas eleições e ameaçaram votar contra o governo em matérias importantes.

Encabeçado pelos deputados Ivan Valente (SP) e Chico Alencar (RJ), o bloco dos petistas dissidentes conta 15 integrantes. O grupo sempre manteve uma postura mais crítica em relação ao partido e ao governo, tendo votado contra a reforma da Previdência e o valor fixado para o salário mínimo. No momento de fragilidade do governo, o bloco volta a ameaçar. ”Se o governo não aceitar rever as prioridades das medidas que envia para o Congresso, vamos votar contra as matérias com que não concordarmos”, avisou Chico Alencar.

O deputado se referiu, por exemplo, à medida provisória que dá status de ministro ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A outra crítica é a de o governo ter deixado primeiro a crise se instalar no Congresso para depois ceder ao pagamento das emendas, expondo o jogo da troca de verbas pelas votações de projetos.

Na avaliação da esquerda petista, o comportamento ruim do governo se refletiu nas urnas das eleições municipais. ”O PT ganhou em número de votos e cidades, mas perdeu em importância política, isso é um termômetro importante para rediscutirmos os rumos do partido”, sugere Ivan Valente.