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Em greve, residentes pedem salário e descanso

 

            Exausto, o médico dormita enquanto tenta reanimar um paciente em uma emenda interminável de plantões. Num seriado na TV, a cena até seria divertida, mas na vida real, não há graça alguma.

 

            "Se o paciente demora mais de cinco segundos ao responder uma pergunta, eu já cochilo", diz a estudante de psiquiatria na Escola Paulista de Medicina (Unifesp), Mariana Maciel, 26, em greve desde quarta-feira, como cerca de 5.300 residentes dos 6.500 -só em São Paulo. A greve é nacional.

 

            "É tão raro ter um fim-de-semana livre, que, quando consigo, eu programo como se fossem férias, elegendo prioridades", conta a estudante de endocrinologia Natalie Akimi, 27.

 

            Além do cumprimento da carga horária determinada pelo MEC, de 60 horas semanais, incluindo dois plantões de doze horas (jornada que freqüentemente é extrapolada), a categoria reivindica reajuste de 53,7% na bolsa de cerca de R$ 1.400 mensais e melhores condições para atender os pacientes.

 

            "O valor da bolsa está defasado, e não condiz com a qualidade do trabalho que você executa. Embora na teoria se fale em acompanhamento e preceptoria, na prática muitas vezes isso é efetivo e o residente assume a responsabilidade do médico", explica Mariana Maciel, que está na chamada "residência 1".

 

            Todos os formandos em medicina são obrigados a fazer R1 e R2 em clínica-geral e, em seguida, optar por especializar-se em mais dois anos.

 

            Pedro Saddi, 28, presidente da Associação dos Médicos Residentes da Escola Paulista de Medicina, diz que gasta por mês para morar mais do que a bolsa toda: R$ 1.400. Ele até fez as contas, os R$ 1.300 da bolsa equivalem a R$ 6,00 por hora, "menos do que um flanelinha".

 

            Segundo os estudantes, os mais sacrificados são aqueles que, além dos plantões, têm de ficar à disposição dos pacientes praticamente o tempo todo -como os nefrologistas, os cardiologistas e os psiquiatras.

 

            R1 em "nefro", o potiguar Agostinho Filgueira, 28, diz que é comum permanecer no hospital por 100 horas semanais. "Somos responsáveis por todas as intercorrências relacionadas à área, inclusive de pacientes que vêm de outras especialidades, sendo que a grande maioria deles sofre de insuficiência renal aguda, que exige atenção máxima", explica Filgueira.

 

            Para complementar o orçamento, a maioria dos insones doutores ainda faz plantões fora do hospital em que estão residentes. "Eles pagam muito melhor, uma média de R$ 300 por 12 horas", diz Saddi.           Já Renato Laks, 24, residente em clínica-geral, conta que chegou a ficar 60 horas sem dormir sequer 30 minutos e, no dia seguinte, continuou a atender. Ele diz que, quando não atende nem estuda, simplesmente dorme. "Apago no sofá, no metrô, em qualquer lugar."

 

            Renato tem um irmão mais velho "que já passou por tudo isso" e tenta apaziguá-lo com a máxima "agüenta firme que é um mal passageiro."

 

            O grupo diz em uníssono: "A gente só agüenta essas jornadas porque sabe que a residência tem data para terminar e dura dois anos. Se não, estaríamos em greve constantemente."

 

 

Categoria faz protesto hoje na Assembléia

 

            Os médicos residentes de São Paulo, em greve desde quarta-feira, fazem hoje, às 13h, uma manifestação na Assembléia Legislativa.

 

            Eles querem que a Assembléia inclua na previsão orçamentária para 2007 um volume de recursos que dê conta do aumento previsto no valor da bolsa pago à categoria. O aumento, de 30%, ainda não foi aprovado, mas consta de um projeto de lei enviado pelo governo federal à Câmara na sexta-feira. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), e o líder do governo na Casa, Arlingo Chinaglia (PT-SP), já manifestaram aos residentes a intenção de aprovar o projeto rapidamente.

 

            Os residentes pedem um reajuste de 53,7% na bolsa, que hoje é de R$ 1.470. A proposta de 30%, de acordo com Francisco Mogadouro da Cunha, diretor da Associação dos Médicos Residentes do Estado de São Paulo, deve ser aceita pelos grevistas no Estado, desde que não haja redução de vagas e que o reajuste esteja previsto no Orçamento do Estado.