Operação poderia evitar crise como a da Interclínicas, que está em liquidação
Das 2,2 mil operadoras de planos de saúde existentes no País, apenas 80 têm mais de 100 mil pessoas atendidas em suas carteiras. A tendência, afirmam especialistas, é que as maiores iniciem um processo de fusão ou aquisição das menores e mais problemáticas.
Esta seria a solução para empresas como a Interclínicas que, apesar de seu tamanho (190 mil clientes), teve o processo de liquidação judicial iniciado esta semana pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Em Brasília, a crise na operadora atingiu sete mil servidores da Universidade de Brasília (UnB), que eram atendidos pela empresa. A decana de Assuntos Comunitários, professora Thérèse Hofmann, informou que a Interclínicas deve R$ 300 mil em reembolsos as funcionários da UnB.
Segundo José Carlos Góes, diretor da consultoria Milliman do Brasil, uma nova fase deve ocorrer no mercado de planos de saúde. A Milliman é uma das maiores consultorias no setor de saúde.
Para ele, o problema das operadoras é antigo. As empresas pioneiras no mercado, que têm mais de 40 anos, criaram um modelo que passou a ser copiado pelos que chegaram depois. “Com isso, copiaram virtudes e falhas. Ou seja, sem estabilidade financeira, se escoravam na receita financeira e esqueciam da receita operacional”, explica Góes. Hoje, portanto, quem não se adaptou à realidade de uma economia estável pode estar enfrentando problemas. A solução, a seu ver, seria se adequar à nova realidade de mercado, melhorando o know-how e a tecnologia ou aderir a um processo de fusão.
Sem entrar no mérito sobre o que levou a Interclínicas, uma empresa com mais de três décadas de atuação, a chegar à crise atual, o consultor avalia que se o problema fosse detectado antes, seria mais fácil garantir a venda. Agora, a situação está mais complicada e a empresa tem prazo de 15 dias, dado pela ANS, para repassar sua carteira de clientes a outra operadora.
Consumidores estão sem atendimento
A advogada especializada em defesa do consumidor Daniella Thomaz, da Trevisoli Advogados Associados, afirma que os consumidores associados à Interclínicas estão enfrentando problemas, como a negativa do atendimento por alguns médicos, laboratórios e hospitais da rede credenciada. “Em tese, a decretação da liquidação não deveria paralisar o atendimento da operadora. A assistência à saúde deve continuar normalmente”, afirma ela.
A orientação dos órgãos de defesa do consumidor para clientes da Interclínicas é de que procurem atendimento normalmente, pois têm todo o direito de receber os serviços contratados. Caso haja negativa de cobertura, descredenciamento, ou outro problema, o consumidor deve reclamar junto à empresa e denunciar o fato à ANS ou, em último caso, recorrer à Justiça.
A advogada considera precipitada a decisão de romper o contrato com a Interclínicas ou buscar um novo plano. Segundo ela, se fizer isso, o consumidor terá de cumprir novas carências e precisará se sujeitar aos preços praticados no mercado.
A Interclínicas manifestou, ontem, em nota, surpresa com a decisão da ANS em exigir a alienação total de sua carteira de clientes. Segundo a nota, a empresa vinha trabalhando com êxito na solução das pendências financeiras existentes.
A operadora garante, ainda, que esforços estão sendo feitos para que os 190 mil associados não fiquem sem atendimento. A nota diz que “em seus 40 anos de existência, a Interclínicas sempre primou pela qualidade no atendimento, e não quer que seja diferente agora”.