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IDH: Brasil cai um posto no ranking

 

            A qualidade de vida no Brasil ainda está abaixo da observada em países como Tonga, Costa Rica, Trinidad e Tobago, Bósnia e Dominica. Apesar da triste constatação, o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2006 anuncia boas perspectivas. Segundo o documento divulgado ontem na Cidade do Cabo (África do Sul), entre 2003 e 2004 o Brasil caiu de 68º para 69º no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – um indicador que avalia o bem-estar da população de 177 países. Apesar da queda, o IDH brasileiro cresceu de 0,788 para 0,792. No entanto, o Brasil experimentou uma evolução lenta, o que ajudou na perda de posição. Outras nações emergentes evoluíram mais. "O Brasil teve um avanço no desenvolvimento humano, mas foi rebaixado pela Bielorrússia, que progrediu muito mais rapidamente", explicou ao Correio, por telefone, de Haia (Holanda), o mexicano Ricardo Fuentes, especialista em estatística pelo Pnud e co-autor do RDH 2006.

 

            De acordo com o Pnud, o estudo utilizou indicadores e metodologias revisados pelas fontes produtoras dos dados, o que inviabiliza a comparação do IDH aos dos relatórios anteriores. Fuentes lembra que o IDH ilustra tendências de longo prazo num determinado país. E considera importante analisar a evolução do Brasil desde 1975, quando o IDH registrado era de 0,644. "Um dos elementos nítidos da realidade brasileira é que o Brasil se encontra muito próximo do patamar 0,8, onde estão as nações com alto desenvolvimento humano", lembrou. Para o analista mexicano, o Brasil progrediu de modo muito mais intenso que algumas nações da África Subsaariana, cuja expectativa de vida tem sido tolhida pela epidemia de Aids. "O Brasil segue numa tendência positiva, de aumento do IDH, apesar de não experimentar a mesma velocidade na melhora da qualidade de vida de países como China e Índia."

 

            Estagnado na área da educação, o Brasil obteve pequenas vitórias entre os dois últimos relatórios: a expectativa de vida cresceu de 70,6 anos em 2003 para 70,8 anos em 2004, e o PIB aumentou em 3,1%. Se quiser entrar para o rol dos melhores países para se viver, terá de assumir alguns desafios. "Será preciso manter as políticas sociais que beneficiam os mais pobres e seguir com a geração de empregos", anunciou Fuentes. O especialista alertou que, apesar de uma nítida melhora na distribuição de renda, a desigualdade social é muito alta.

 

            O Departamento de Desenvolvimento Humano do Pnud considerou o Brasil um exemplo de que pode-se distribuir melhor a riqueza com programas sociais eficientes. "O Bolsa Família tem feito transferências de renda para 7 milhões de famílias que vivem na pobreza extrema ou moderada. Ajuda na alimentação, saúde e educação, criando benefícios hoje e bases para o futuro", frisou o RDH 2006. De acordo com o co-autor do relatório, as desigualdades sociais sofreram uma retração entre 2003 e 2004. "Essa tendência se sustentou nos últimos anos. Isso é reflexo das políticas sociais do governo, que mostram ser possível redistribuir os lucros, crescer e apoiar os mais pobres", explicou. Mas o Brasil ainda é o 10º mais desigual numa lista com 126 países.

 

            Mas como explicar a queda do Brasil no ranking? Fuentes revelou que a metodologia para se calcular o IDH não foi alterada. O Instituto de Estatísticas da Unesco modificou o modo de reportar a taxa de matrícula bruta nos ensinos fundamental, médio e superior. A mudança afetou 32 países, inclusive o Brasil.

 

            O IDH não afere mais as taxas de matrícula bruta em programas de educação para adultos – o sistema contemplava 4,5 milhões de pessoas que deixaram de ser computadas. Por isso, a taxa de matrícula escolar no Brasil caiu de 90,6% em 2003 para 85,7% em 2004, e contribuiu com o retrocesso do Brasil no ranking.

 

 

Superados pelo Paraguai no acesso à água

 

            O Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2006 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) avalia que o acesso à água potável é bom no Brasil, mas revela que na questão do saneamento, o país está pior que o Paraguai. Segundo o documento, cerca de 90% da população têm acesso à água potável no Brasil – proporção igual à de países com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), como Coréia do Sul (92%) e Cuba (91%). Na coleta de esgoto, o Brasil possui uma taxa de atendimento de 75% da população, inferior à do Paraguai (80%) e à do México (79%). O estudo aponta projetos brasileiros como exemplos de boas práticas. Entre os destaques estão o sistema de abastecimento de água de Porto Alegre, a coleta de esgoto condominial de Brasília e a elaboração do plano de recursos hídricos no Ceará. A cooperação entre Brasil e Paraguai na usina hidrelétrica de Itaipu também é elogiada pelo relatório.

 

            O RDH 2006 aponta que a proporção de brasileiros com acesso à água potável aumentou em 7% entre 1990 e 2004, de 83% para 90%. O avanço deixou o país perto de elevar o indicador para 91,5%, índice estabelecido pelas Metas de Desenvolvimento do Milênio – objetivos que os países-membros da ONU se comprometeram a atingir até 2015. Já os progressos em saneamento foram mais lentos. O percentual da população que conta com saneamento adequado subiu 4% entre 1990 e 2004, de 71% para 75%. No entanto, o Brasil dificilmente atingirá a meta de 85,5% até 2015 e, para se aproximar desse índice, terá de intensificar o ritmo de expansão dos serviços.

 

            O Brasil permanece em 74º no ranking mundial de cobertura – lista composta por 159 países e que não inclui 14 nações com alto IDH, como Bélgica e Itália. No ranking de saneamento, a taxa brasileira de atendimento é a 67ª maior entre as registradas por 149 países, grupo que exclui 24 nações de IDH elevado, entre eles Noruega e França. "À medida que a renda aumenta, a cobertura média melhora. Mesmo uma renda nacional média relativamente alta não é garantia de uma elevada taxa de cobertura entre os pobres. No Brasil, os 20% mais ricos da população desfrutam de níveis de acesso a água e saneamento geralmente comparáveis aos de países ricos. Enquanto isso, os 20% mais pobres têm cobertura tanto de água como de esgoto inferior à do Vietnã", destaca o relatório. "As estatísticas colocam o Brasil no topo do ranking de países com maiores reservas de água. No entanto, milhões de pessoas que vivem no ‘polígono da seca’ -região semi-árida de 940 mil quilômetros quadrados que abrange nove Estados no Nordeste – enfrentam um problema crônico de falta de água."

 

            De acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS), mais de 2 mil pessoas são hospitalizadas por dia no Brasil devido a doenças sanitárias (diarréia, leptospirose etc). Por ano, são mais de 803 mil internações em hospitais públicos. Entre 2000 e 2004, 26.168 pessoas morreram de diarréia no País. Para reverter esse quadro, José Carlos Libânio, assessor de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), afirma que investimentos públicos são indispensáveis. "A empresa privada não vai levar água para bairro pobre, porque depois não vai ter como pagar o investimento", alertou.

 

O número

 

            Problema crônico

 

            2 mil

 

            é o número de brasileiros hospitalizados por dia, em decorrência de doenças provocadas pela falta de saneamento, como diarréia, leptospirose e infecções.

 

 

 

DF é modelo, mas há problemas

 

            A qualidade dos serviços de saneamento básico do Distrito Federal é modelo para o país: enquanto a média nacional de oferta de água tratada é de aproximadamente 90%, o abastecimento no DF chega aos 99%. No Brasil, a coleta de esgoto atinge 75%, enquanto que esse serviço já está presente em 94% das casas na capital e nas cidades-satélites. Todos os dejetos coletados no DF são purificados antes de serem despejados nos mananciais.

 

            O Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2006 recomenda a países subdesenvolvidos o método adotado por Brasília para levar o saneamento às comunidades periféricas. A Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) utiliza o chamado sistema condominial, que considera as condições geográficas locais para atender a grupos de residências, em vez de arcar com os gastos para dar suporte individual aos domicílios. O DF ainda possui um grande diferencial na implantação do sistema: a comunidade participa nas tomadas de decisão. "Hoje somos uma ilha de excelência", garante o porta-voz da Caesb, Chico Nóbrega. "Esperamos que em 2007 todos os nossos índices atinjam os 100%."

 

            No entanto, até que a previsão de Nóbrega se concretize, exceções como Itapoã continuarão sofrendo com problemas de abastecimento de água, coleta e tratamento de dejetos. Como a dona-de-casa de 46 anos Maria Cunha, muitos moradores do Itapoã utilizam a água da chuva para lavar roupa e manter a higiene pessoal. "Segunda, terça e quarta-feira, nós temos água. Se faz um solzinho, ficamos o dia inteiro sem abastecimento, e a água só volta depois das 19h", reclama. "Muitas vezes, o meu filho vai para o trabalho sem tomar banho." A jovem cearense de 25 anos Helena Vieira da Silva sofre do mesmo problema. Para matar a sede, ela enche baldes e tanques de reserva. "Mas é insuficiente. Ficamos, às vezes, uma semana sem água. Quando tem, as crianças são prioridade", explica Helena, mãe de dois filhos.

 

            Em sua maioria, os domicílios de Itapoã possuem água encanada. No entanto, a falta de um sistema de esgoto obriga os moradores a depositarem os dejetos em fossas. A fim de evitar que os depósitos transbordem, eles cavam buracos no chão para escoar a água do banho e da lavagem de roupas, ficando expostos ao risco da dengue. As ruas do local – que surgiu como uma invasão há quatro anos e foi legalizado como cidade há menos de dois – não possuem asfaltamento. Quando chove, as vias ficam esburacadas e cheias de lama.

 

            Se depender de promessa, essa situação tem dias contados. O sistema de coleta e tratamento de dejetos já começou a ser construído no Itapoã. O administrador da cidade, Everardo Ribeiro, afirmou ao Correio que o problema da falta de água – mais freqüente nas localidades mais altas da cidade – está sendo resolvido. "Já estão também licitados os projetos de captação das águas da chuva, bem como o asfaltamento das vias", assegurou.