contato@sindipar.com.br (41) 3254-1772 seg a sex - 8h - 12h e 14h as 18h

Lula cogita pôr Ciro na Saúde para dar Integração ao PMDB

Ministro do PPS admite a interlocutores que pode aceitar troca

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá convidar em breve o ministro Ciro Gomes a trocar a pasta da Integração Nacional pela da Saúde. Se der certo a articulação, ela libera a Integração Nacional para uma composição política com o PMDB ou até com o PP -hoje mais provavelmente para um peemedebista.

A Folha ouviu ontem de um auxiliar direto de Lula que o presidente e a cúpula do governo confiam em Ciro, candidato derrotado do PPS a presidente em 2002. Se ele aceitar, não seria candidato a nada em 2006 e tocaria a pasta apostando no projeto de eventual reeleição de Lula.

Dois complicadores seriam contornar ciúme no PT por dar um posto tão importante a um aliado e não queimar o atual ministro, Humberto Costa, que sonha ser candidato petista a governador de Pernambuco em 2006.

Ciro manifestou dúvida em relação à conveniência de ir para a Saúde, onde há feudos petistas e tucanos. Teria choque à vista, mas o governo deseja isso. Mais: envolvido na obra de transposição das águas do rio São Francisco, teme a acusação de deixar um projeto pela metade. Projeto que, se bem realizado, renderia dividendos eleitorais a ele, que fez carreira política no Nordeste.

A interlocutores, porém, Ciro admitiu que muda de pasta se Lula determinar.

Vingando a articulação Ciro na Saúde, Lula poderia indicar para a Integração Nacional a senadora licenciada Roseana Sarney, que deixaria o PFL, ou remanejaria Eunício Oliveira (Comunicações) para lá. Roseana é ainda uma opção para Comunicações.

Articulação política

Na articulação política, cresceu nos últimos dias uma avaliação na cúpula do governo de que a área deveria ser reintegrada à Casa Civil de José Dirceu. Isso evitaria a eventual substituição do ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política) por um petista.

A devolução da articulação política a Dirceu seria justificada como conclusão do presidente de que foi um erro a divisão da Casa Civil em janeiro de 2004. Ou seja, não teria um caráter de cruzada anti-Aldo, que poderia ser remanejado para outra área.

Pesam contra essa articulação a preocupação de Lula com a coordenação da máquina, papel de Dirceu, e a estima por Aldo.

“O Aldo prestou um grande serviço ao país, foi um grande líder do governo na Câmara e é um excelente ministro. Evidente que temos problemas de articulação política na Câmara, mas isso não pode ser creditado a apenas uma pessoa”, diz o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). A expectativa, segundo ele, é que o presidente mexa na equipe até o final desta semana.

Para tentar mudar com menos traumas, dada a extrema dificuldade pessoal que Lula demonstra para demitir -principalmente os amigos-, ganhou força nas discussões do governo a tese de usar as eleições de 2006 como pretexto para algumas trocas.

Daqui a 13 meses, ministros candidatos nas eleições de 2006 deverão sair dos cargos para concorrer. Não faria sentido, reflete Lula, indicar novos ministros ou remanejar atuais para que permaneçam por apenas um ano.

Como quer incluir no primeiro escalão um PP fortalecido pela eleição de Severino Cavalcanti (PE) e reforçar a ala governista do PMDB, que anda sendo contestada pela oposicionista, Lula teria de mudar mais peças do que deseja. Se vai fazê-lo, estuda se é melhor realizar trocas para deixar ministros mais tempo no cargo.

Colaborou FERNANDA KRAKOVICS, da Sucursal de Brasília

União bancou Wagner em evento do PT

RUBENS VALENTE

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Documento enviado à Câmara pelo próprio ministro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner, mostra que ele usou passagem aérea paga pela União para participar de um evento político do PT, em São Paulo, em que discutiu as eleições municipais de 2004.

Por sua assessoria, Wagner informou na sexta passada que, após o pedido de informações feito pela Folha, “solicitou a devolução da quantia aos cofres públicos”.

Segundo planilha encaminhada com assinatura do ministro, a viagem de Salvador a São Paulo, orçada em R$ 867,40, ocorreu em 13 de maio último, uma quinta-feira. No campo em que se explica o objetivo da viagem, informou: “Conferência nacional de estratégia eleitoral – Partido dos Trabalhadores em São Paulo – SP”.

O ministro justificou duas viagens que fez a Salvador, onde tem residência, dessa forma: “Resolver problemas políticos”. Pelas duas viagens no trecho Brasília-Salvador-Brasília, em 22 e 23 de junho e em 23 e 24 do mesmo mês, a pasta gastou R$ 1.796,00.

As informações foram prestadas por Wagner em resposta a um requerimento do deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR). Ao menos dez ministérios já encaminharam ao Congresso listas das viagens em 2004. A assessoria de Hauly disse que ele enviará os documentos para o Ministério Público do Distrito Federal analisar a legalidade das viagens.

No ano passado, após reportagem da Folha sobre viagens de ministros nos finais de semana, o Ministério Público abriu procedimento para investigar o caso.

A conferência do PT da qual Wagner participou em São Paulo foi realizada pelo Diretório Nacional do partido entre os dias 13 e 15 de maio e teve a presença de outros nove ministros.

A lista das viagens de Wagner mostra que ele, como outros ministros, decidiu pôr em prática o decreto nº 4.244, de 22 de maio de 2002, da gestão FHC, que trata do transporte aéreo de autoridades em aviões da Aeronáutica. Seu artigo 4º prevê o uso dos aviões para “deslocamentos para o local de residência permanente”.

Embora use aviões comerciais, e não os da FAB, as planilhas apontam 56 viagens de Wagner de Brasília a Salvador ou vice-versa. O ministério anotou como explicação “deslocamento para o local de residência permanente”.

O emprego desse decreto é fruto de debate entre os próprios ministros. Em 2004, Ricardo Berzoini (Trabalho) declarou: “Pelo que conheço da legislação, o que nos é permitido é o deslocamento para atividades de serviços. É o que eu tenho praticado”.

A serviço

O ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, também esteve com freqüência em sua cidade de origem, Fortaleza (CE), com passagens pagas pela União. Foram ao menos 15 viagens, 10 delas em finais de semana. Diferentemente de Wagner, Eunício diz que todas foram “a serviço”, segundo documento enviado ao Congresso.

Procurada pela Folha, a assessoria detalhou a agenda do ministro nesses finais de semana no Ceará: quatro das viagens foram feitas em avião próprio do ministro, mas por um engano aparecem nas planilhas como pagas pela União.