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Médicos ganham prêmio por venda de emagrecedor

            Médicos paulistas que se destacaram na comercialização de produtos da Herbalife foram convidados para um cruzeiro gratuito pela costa brasileira em 2009. Tiveram direito ao brinde porque trabalharam pelas vendas da fabricante de chás e shakes para emagrecimento. Um dos convidados os vendeu dentro do próprio consultório – prática proibida pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp). Outros afirmam que a venda ocorre de forma indireta – por meio de pessoas relacionadas a eles.

            A lista dos "qualificados" para o cruzeiro tem 302 pessoas do Estado. Entre elas, a reportagem encontrou nove médicos. A maioria nega usar a medicina para auxiliar no trabalho de distribuidor da Herbalife. A empresa informou, em nota, que seus distribuidores não precisam dizer em que trabalham e, por isso, não sabe quantos médicos há entre eles. Informou ainda que eles são independentes e devem respeitar as regras de suas profissões.

            No computador de seu consultório, em Americana, a cardiologista Marly Aparecida Bazzaneli J. Ferraz mostra fotos de pessoas que perderam peso com Herbalife. A máquina guarda a planilha de preços dos produtos, estocados em outra sala. "A gente vê mudança na saúde quando as pessoas começam a suplementar com produtos de qualidade", afirma, quando perguntada sobre reeducação alimentar. Como exemplo, cita "clientes que perderam sete quilos no primeiro mês".

            A reportagem levou dois potes, por R$ 161, para dez dias de tratamento. "Daqui a dez dias você volta e leva mais." A médica disse estar na lista do cruzeiro "pelo trabalho que faço com o pessoal que tem esses espaços Vida Saudável (locais onde se vende Herbalife)". "As pessoas são livres para escolher o que quiserem. É como se eu indicasse um suplemento, granola, suco de soja. Ela pode ir em vários lugares."

            Gastroenterologista da capital, José Luiz Amuratti também atende quem quer emagrecer. À reportagem, que pagou R$ 200 pela consulta, garantiu na quinta-feira que até o ano novo seria possível perder "seis quilos". "Os produtos que a gente usa são da Herbalife, são maravilhosos."

            No receituário colocou o endereço de um Espaço Vida Saudável. O doutor prescreveu oito visitas, a R$ 5 por sessão. Uma paciente, que não quis se identificar, recebeu uma receita dele para comprar, no mesmo local, 180 cápsulas de um produto da empresa – por R$ 37. Questionado, Amuratti diz não haver nada de errado. "Eu não comercializo no consultório. Faço de acordo com a ética.Eu sou distribuidor da Herbalife também. E o paciente pode ter a opção de comprar comigo ou qualquer distribuidor. E não é medicação."