A rede estadual de saúde de Pernambuco começará, a partir de hoje, a realizar cirurgias cardiovasculares de alta complexidade em pacientes da capital paraibana. A decisão foi tomada ontem pelo secretário de Saúde Jorge Gomes, atendendo a pedido da Prefeitura de João Pessoa, que desde quinta-feira não realiza cirurgias do coração em seus hospitais por causa da paralisação dos médicos da especialidade. A lista com cerca de 500 pacientes pessoenses que precisam ser operados já foi repassada ao governo de Pernambuco.
Os pacientes de João Pessoa serão operados no Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape) e no Hospital Getúlio Vargas, referências em cirurgias do coração. "O Estado está disposto a receber os pacientes de João Pessoa. É uma questão de saúde. Não há problema de lugar ou de greve. Os pacientes têm que ser atendidos", disse Gomes, por meio do secretário especial de Imprensa, Evaldo Costa.
A decisão foi recomendada pelo governador Eduardo Campos. "As cirurgias vão atender a critérios técnicos. Os pacientes daqui não deixarão de ser atendidos. Nem os de lá", disse Costa.
Há também um componente político na decisão do governo pernambucano. Uma dívida de gratidão. No auge da crise com as demissões nas emergências do Estado, no fim de julho, Campos pediu ajuda à Paraiba e ao Ceará para transferir pacientes pernambucanos em estado grave e foi atendido. O prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho, é do PSB, mesmo partido do governador.
A decisão foi criticada pelo Sindicato dos Médicos de Pernambuco. O vice-presidente da entidade, Antônio Jordão, disse que a rede de saúde do Estado não tem condições de atender aos pacientes pessoenses. "Há toda uma demanda reprimida, de cirgurgias que não foram realizadas durante a crise da saúde
"Levantamento do Cremepe aponta a necessidade de mais mil médicos na rede. A demanda atual já está acima da capacidade instalada. Se essa moda de transferências pega…", ironizou Jordão.
O contato entre a Prefeitura de João Pessoa e a Secretaria de Saúde de Pernambuco foi feito ontem. A secretária de Saúde da capital paraibana, Roseane Meira, também pediu ajuda ao Rio Grande do Norte. "O poder público está refém dos médicos", disse o prefeito Ricardo Coutinho. Segundo ele, "equipes médicas federais" poderiam ser enviadas para os setores em crise, como no Rio, na área de segurança.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, porém, descartou ontem uma intervenção federal no sistema de saúde dos Estados nordestinos. Ele também condenou a greve dos médicos. Segundo o ministro, o direito à vida está acima do de reivindicar.
Também ontem, os médicos do Programa Saúde da Família de João Pessoa encerraram greve iniciada na segunda. Os 160 profissionais suspenderam as atividades durante 48 horas e deixaram de atender cerca de 5.500 pessoas por dia.