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Planos de saúde, da confusão ao espanto

Faz mais ou menos três semanas que os planos de saúde invadiram a vida dos brasileiros, ateando fogo num assunto que já estava pronto para o incêndio, em função das sérias distorções que há tempos colocam em campos opostos todos os envolvidos com o tema.

Não bastassem as diferenças separando médicos, governo e consumidores, decorrentes dos preços praticados para cobrar e remunerar, adotados pelas operadoras, a idéia da mudança dos planos velhos para planos feitos de acordo com a lei de 98, que na teoria era uma boa idéia, na prática mostrou-se um desastre, por absoluta falta de noção da Agência Nacional de Saúde (ANS) sobre o que estava em jogo e suas conseqüências.

Quando a mídia em geral começou a veicular a campanha em favor da mudança, patrocinada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, nós alertamos para os riscos de se fazer uma campanha que mostrava só um lado do problema.

Quando a ANS começou a explicar que os reajustes máximos seriam de 25%, limitados a uma variação total da carteira inferior a 15%, nós voltamos a alertar que a conta não fechava e que os consumidores seriam pegos de surpresa, porque a realidade seria diferente do que o governo estava falando.

Quando as propostas de migração e adequação começaram a chegar, nós escrevemos dois artigos, tentando explicar um pouco o que estava acontecendo, mostrando que havia uma diferença enorme entre o que a ANS divulgara e a verdade, porque ela, para ficar bem na foto, se esquecera de contar que havia três situações possíveis diferentes, e que o aumento máximo de 25%, limitado a 15% de variação da carteira só se aplicava a uma delas.

Agora o samba do crioulo doido aumentou de ritmo porque os consumidores que decidiram não migrar estão recebendo cartas de suas operadoras, informando aumentos apavorantes de até quase 100% sobre a fatura anterior, para acertar as distorções passadas, conseqüentes da política de aumentos de preços dos planos de saúde adotada pelo governo passado e por este, que, demagogicamente, mantiveram as correções atreladas a índices irreais, que colocaram vários planos em situações dramáticas, com sinistralidade acima de 90%. Se levarmos em conta que as operadoras dos planos têm custos administrativos e comerciais, além de estarem sujeitas à enorme carga tributária que massacra a economia do País, fica evidente que elas estavam tendo prejuízo e que este aumento não é mais do que a readequação atuarial de seus produtos.

Por outro lado, as operadoras estão sendo pouco hábeis em lidar com um problema em que têm razão e não estão informando seus clientes, com a transparência necessária, sobre a real situação de cada plano, o prejuízo efetivamente suportado e os outros custos envolvidos na operação, além da sinistralidade.

O que as pessoas têm recebido é uma carta dizendo que o aumento será de tanto, e, o que é pior, depois de terem recebido correspondência propondo a migração ou a adequação, com a possibilidade permanecerem nos planos antigos, sem contarem ao mesmo tempo quanto custaria mudar ou ficar.

A soma dessas duas ações não poderia ser diferente. Começam a pipocar ações contra o processo inteiro, promovidas pelas mais diversas entidades, questionando pontos diferentes, com liminares concedidas em bom número delas.

Os resultados práticos até agora têm sido péssimos e caminham para ficar pior ainda. Os consumidores que aceitaram a adequação ou a migração pagarão mais, o que era óbvio, pelo aumento das coberturas, mas não estava claro que os aumentos chegariam aos patamares que chegaram; e os que ficaram também pagarão mais, o que estava menos claro ainda, porque as operadoras não lhes tinham dito nada sobre readequação das margens, e a campanha da ANS não passou perto do tema.

Assim, mais uma vez a solução agravou o problema, com todos os envolvidos continuando insatisfeitos, com menos consumidores podendo pagar seus planos, com mais ações na justiça e um novo cipoal para ser desatado.