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Ponta Grossa tem déficit de 182 leitos de obstetrícia

A falta de expectativa de um atendimento de qualidade no sistema público de saúde quando o assunto é ginecologia e obstetrícia agrava a situação de gestantes usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) de Ponta Grossa e região. A escassez de leitos nas maternidades é freqüente. Na UTI Neonatal da Santa Casa de Misericórdia são apenas seis vagas para bebês em estado grave. Enquanto o Ministério da Saúde preconiza 1,11 leitos de obstetrícia por grupo de mil habitantes, Ponta Grossa enfrenta diariamente o déficit de 182 leitos. Em vez de 303 leitos nas maternidades, o que seria o suficiente, são 121 existentes, conforme dados da 3ª Regional de Saúde (RS). Para amenizar o problema, o prefeito Pedro Wosgrau Filho confirmou na última sexta-feira que o seu próximo grande projeto para a saúde é a Maternidade Municipal, avaliada em pelo menos R$ 10 milhões.
Segundo Wosgrau, a intenção é buscar recursos federais para o empreendimento. Na última semana, o prefeito manteve contato com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que sinalizou positivamente para a obra. O ministro sugeriu que os deputados federais que representam a região se unam para elaborar uma emenda parlamentar única para apresentar ao Congresso Nacional em vistas de conseguir recursos para a maternidade.
De acordo com o prefeito, estão se dando os “primeiros passos” para a maternidade. Ele considera que os principais passos para a melhoria na saúde já foram dados. A Prefeitura teve assegurada, através do governador Roberto Requião, a verba de R$ 30 milhões para o Hospital Regional, em fase de pré-abertura de licitação, a reforma estimada em R$ 4,9 milhões do Hospital da Criança Prefeito João Vargas de Oliveira e do Pronto Socorro Municipal e ainda a abertura do Hospital São Camilo, nas antigas dependências do Hospital Psiquiátrico Franco da Rocha, que passará a atender a população usuária do SUS a partir do final deste mês com 70 leitos.
“Queremos construir uma maternidade oito estrelas”, cita o prefeito Wosgrau, que considera que o projeto amplamente moderno, que ainda não está traçado, ganhe o que há de melhor pelo fato de uma maternidade ser uma unidade diferenciada de um hospital comum. A maternidade amenizará o problema da falta de vagas. Estão previstas 50 vagas de obstetrícia. Pelo fato de não possuir UTIs e não ser um empreendimento tão complexo quanto o Hospital Regional, que terá 180 leitos, a maternidade é relativamente barata: R$ 10 milhões incluindo obras físicas e equipamentos.
O terreno ainda não está definido, mas o prefeito sinaliza para a aquisição da área das antigas olarias Wagner. “A terreno é muito bem localizado e a região é importante porque próximo dali existia a maternidade municipal”, afirmou.
Melhorias – Com a maternidade, garante Wosgrau, os serviços da área de saúde em ginecologia e obstetrícia serão incrementados, inclusive com a possibilidade de ampliação de leitos de UTI Neonatal e setor de gestação de alto risco. Hoje, Ponta Grossa e região contam com seis leitos de UTI Neonatal na Santa Casa. Os casos excedentes são encaminhados para Curitiba.
O objetivo do projeto de construção da maternidade, de acordo com Wosgrau, deve-se à escassez de vagas nesta área. Hoje, apenas os hospitais Evangélico, Santana Unimed e Santa Casa fazem partos. A permanência do atendimento de obstetrícia no sistema público de saúde da Unimed é incerta. A direção da instituição solicitou o descredenciamento ao SUS, porém, por entender que o terreno foi doado pelo poder público, o governo do Estado rejeitou a solicitação. O caso está tramitando hoje na Justiça Federal.

Regional vê benefícios na iniciativa

A chefe da 3ª Regional de Saúde de Ponta Grossa, Lenir Monarstirsky, representante da Secretaria de Estado de Saúde na cidade, afirmou na última sexta-feira que a iniciativa da construção da Maternidade Municipal é bem-vinda. Lenir acrescenta que em anos anteriores se pensou em ampliar o Hospital Evangélico, no entanto, não houve consenso entre Estado e direção do Hospital.
Ela lembra que a maternidade serviria também à região, uma vez que Ponta Grossa é a referência de municípios vizinhos na área da saúde. “Tudo que vier a facilitar para a mãe no atendimento público é apoiado por nós, é uma outra maneira de se tratar a obstetrícia na cidade”, completa.
Índices – Embora os índices de mortalidade materna e infantil venham caindo na cidade e na região nos últimos anos, a situação ainda preocupa e os indicadores mostram que ainda há muito que se fazer neste segmento.
Na região, que compreende 12 municípios abrangidos pela 3ª Regional de Saúde, sendo Ponta Grossa o maior, o coeficiente de mortalidade infantil, que em 2004 era de 16,64 mortes de crianças de até um ano em cada grupo de mil nascidos vivos, caiu para 14,26 em 2005. No tocante à mortalidade materna na região, o índice de 2003 foi de 69,73 para cada 100 mil nascidos vivos, enquanto em 2004 o índice seguiu no mesmo patamar com a marca de 69,24.

Mãe enfrentou morte precoce de bebê

Constantemente ocorrem deficiências no atendimento às gestantes de Ponta Grossa pela complexidade dos casos clínicos e pela estrutura deficitária do sistema público de saúde. Verônica Jachechen, 30, é um exemplo. De família humilde e com dois filhos adolescentes, ela, dona de casa, e o marido, autônomo, surpreenderam-se com a notícia de que viriam trigêmeos.
“Descobri quando estava no quarto mês de gestação e o céu parece que caiu na minha cabeça”, disse. No sexto mês de gestação, embora ela e nem os médicos soubessem, um bebê havia falecido no ventre, enquanto os outros dois se desenvolviam.
Com a ajuda da Pastoral da Criança e da Paróquia São José, a gestante procurou intensificar o pré-natal, parindo no sétimo mês de gravidez. Como não tinha vaga na UTI Neonatal da Santa Casa, Verônica teve que ser transferida para o Hospital das Clínicas, em Curitiba. Willifer Bruno nasceu pesando 1,6 quilo e o irmão Eduardo com 1,5.
Com problemas naturais ao nascimento prematuro, Eduardo ficou 15 dias na UTI Neonatal em Curitiba, enquanto Willifer ficou mais 30 dias. “Vinha de Curitiba até aqui direto, de dieta e pegando friagem. Sabia que a medicina não dava mais esperança para o Willifer, mas me apeguei a Deus e hoje estou aqui com meus dois milagres em casa”, relatou. O bebê que não resistiu tinha má formação no cérebro e na coluna. Ela lamenta que só tenha descoberto o óbito após um mês e que o atendimento não tenha sido adequado.