Depois da crise enfrentada pelo setor de psiquiatria, no ano passado, com a diminuição do número de leitos nos hospitais públicos para tratamento de portadores de transtornos mentais e o embate com o governo em relação à política adotada pelo Ministério da Saúde, que adotou a linha da “deshospitalização”, os médicos, hospitais e clínicas psiquiátricos começam a pensar soluções para o setor. O atendimento particular e por planos de saúde, apesar de não ter sido afetado pela crise, também não oferece as melhores condições para a realização dos tratamentos. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pela Associação Brasileira de Psiquiatria, em dezembro de 2006, das 2.267 pessoas entrevistadas, 9% disseram que ele próprio ou alguém da família sofreu de algum tipo de transtorno mental no último ano. Dessa parcela, 72% procuraram pelo atendimento no sistema público de saúde, 23% pelo sistema privado e 21% através de planos e/ou seguros de saúde. De acordo com o presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), Dr. Paulo César Geraldes, os planos de saúde cobrem, apenas, o minimamente necessário.
P&P – Os planos de saúde oferecem cobertura para o tratamento aos portadores de transtornos mentais?
Dr. Paulo César – A cobertura de tratamentos psiquiátricos pelos planos de saúde é uma novidade. Antigamente as operadoras não cobriam o tratamento. Mas, agora, já possuem até médicos credenciados. As cooperativas é que sempre tiveram leitos psiquiátricos, mesmo porque elas são formadas por médicos.
P&P – Isso quer dizer que a cobertura atende à necessidade dos beneficiários de planos de saúde?
Dr. Paulo César – Não. Os planos permitem o mínimo necessário para atender ao paciente. Por exemplo, cobre a psicoterapia, mas não corresponde à realidade, já que autoriza uma sessão terapêutica por semana, enquanto o desejado seria de duas a três sessões semanais.
P&P – E há leitos psiquiátricos suficientes?
Dr. Paulo César – Há leitos. Internações existem, na medida da necessidade, mas pelo menor tempo possível por causa dos custos.
P&P – O senhor acredita que iniciativas como a do Sindhosp, de buscar uma aproximação com as operadoras pode trazer algum resultado?
Dr. Paulo César – Com certeza pode contribuir. A apresentação do perfil das clínicas e hospitais e da situação da psiquiatria na saúde suplementar pode abrir para uma rodada de negócios, com a possibilidade de que as operadoras conheçam a realidade da especialidade e, com isso, melhorem a cobertura, isto é, faça uma cobertura que preveja custos adequados ao sistema. Facilitaria muito o tratamento se houvesse uma forma de permitir outros tipos de atendimento além da consulta, com uma periodicidade mais próxima da realidade. Porque, por enquanto, alguns planos chegam a glosar uma “re-consulta”, quer dizer, o paciente está obrigado a só comparecer a uma consulta por mês, quando a re-consulta possibilitaria um acompanhamento melhor do quadro do paciente. Se não aceitam nem duas consultas por mês, como vão admitir ter de duas a três sessões psicoterápicas por semana, o que vai significar de oito a 12 encontros por mês? A idéia é que, por meio da negociação, as operadoras façam uma modificação em seus planos, ampliando a cobertura e garantindo um atendimento mais eficaz aos seus beneficiários.