A funcionária pública Janaína de Freitas Silva, 34 anos, morreu ontem durante cirurgia de lipoaspiração na Clínica Monte Sinai, no Jardim América. Chefe do Setor de Contratos do Hospital Geral de Bonsucesso (HGB), Janaína deu entrada na clínica às 9h30 para retirar gordura do abdôme. Segundo o marido de Janaína, o funcionário público Roberto Neves, 52 anos, ela sofreu uma parada cardiorrespiratória durante o procedimento. O médico José Emílio de Brito ainda tentou reanimá-la por 40 minutos, mas ela não resistiu.
"O médico e o anestesista que operaram minha mulher não sabem dizer o que aconteceu. Presumo que tenha ocorrido um erro médico, mas quero que o caso seja investigado. O pior de tudo é que eu insisti para que ela não fizesse a cirurgia. Eu achava que não havia necessidade. Eu amava minha mulher como ela era. Por menor que seja, toda cirurgia é um risco", lamenta Roberto, que pretende registrar queixa na polícia.
SEM TÍTULO
Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica do Rio, Sérgio Levy, afirma que as clínicas que realizam lipoaspiração precisam ter salas de Recuperação Pós-Anestésica (RPA), que oferecem o equipamento necessário para eventuais contratempos.
Funcionários da Monte Sinai se recusaram a dizer se a unidade dispõe de uma RPA. Ainda segundo Levy, não basta ser médico para realizar a lipoaspiração. É preciso ter título da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
"Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), a lipoaspiração é um procedimento de cirurgia plástica. Ou seja, não é qualquer médico que pode realizá-la. O nome do dr. José Emílio de Brito (responsável pela cirurgia) não consta da sociedade. Se não consta, é porque não é especialista", afirma Levy.
SEM EXPLICAÇÃO
O médico José Emílio de Brito não sabia dizer, ontem, o que tinha acontecido. Ele garante que todos os exames realizados por Janaína deram normais e que não havia nada que pudesse indicar risco cirúrgico. "Realizo esse tipo de cirurgia há 35 anos. Não faço idéia do que possa ter provocado a parada cardiorrespiratória. Ainda tentamos ressuscitar a paciente, através de monitores cardíacos e equipamentos de reversão, mas não tivemos sucesso. O que é mais chocante é que a paciente era jovem e esse tipo de cirurgia é relativamente simples. Quero esclarecer esse caso tanto quanto a família", afirma.
MARIDO ACHAVA A CIRURGIA DESNECESSÁRIA
Apesar dos apelos insistentes do marido, que não aprovava a lipoaspiração da mulher, Janaína não via a hora de perder medidas na barriga. "Eu vivia dizendo para ela: ‘Janaína, você não tem a menor necessidade de fazer lipo. Você é linda de qualquer jeito’", recorda o marido, emocionado. "De nada adiantou o meu apelo. Assim que foi promovida no trabalho, ela começou a economizar o dinheirinho", afirma Roberto, acrescentando que Janaína pagou R$ 3 mil pela cirurgia.
Ontem, diversos colegas de trabalho do HGB correram para a porta da Clínica Monte Sinai quando souberam da morte de Janaína. Segundo Elizabeth Lopes, Janaína estava tão empolgada com a cirurgia que não falava em outra coisa nos últimos dias. "Ela estava radiante. Tão radiante que contava as horas para chegar o dia de hoje. Ela brincava dizendo que ninguém reconheceria a barriga nova dela", lamenta Elizabeth.
Com a morte da mulher, Roberto ainda está pensando em como dará a notícia para a filha do casal, Roberta, de apenas 5 anos, e para a sogra, Dona Santa, que se recuperava de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e era assistida pela própria filha. "Não pretendo contar a má notícia tão cedo", diz Roberto.
A campeã entre as plásticas
A lipoaspiração é a cirurgia campeã entre as plásticas realizadas no Brasil. Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), 60% dos pacientes que fazem plástica no País recorrem à famosa técnica de retirada de gordura localizada. Só em 2007, foram 200 mil procedimentos do tipo, quase o dobro da segunda colocada: a plástica da mama. "Na maioria dos casos, os pacientes que morrem durante uma lipoaspiração sofreram algum problema anestésico e não cirúrgico", ressalva Sérgio Levy.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica do Rio de Janeiro, não é difícil explicar a ampla preferência do público – o feminino, principalmente – pela lipoaspiração. Uma das vantagens é a cicatriz, quase imperceptível, deixada pelas cânulas – tubos de
"A principal indicação é para pacientes com gordura localizada em áreas como abdôme, culote ou quadril. Lipoaspiração não é cirurgia de emagrecimento. Além disso, o máximo de gordura que o cirurgião pode retirar é 5% do peso do paciente. Ou seja, se o indivíduo pesa 80 quilos, o médico poderá retirar, no máximo, 4 quilos de gordura", afirma Levy.