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Saúde: Cresce a procura por gestores profissionais

Setor busca profissionalização e gera oportunidades de emprego para administradores, médicos ou não

No início do ano, o médico paulista Maurício Ceschin, 46 anos, assumiu a superintendência corporativa de uma das maiores instituições de saúde privadas do país, o Sírio-Libanês. Sua contratação fez parte de um grande processo de reestruturação do hospital, iniciado há cerca de dois anos, que culminou em uma série de mudanças. Entre elas, a implantação de um modelo rígido de governança que incluiu a criação de um conselho de administração, responsável por definir as estratégias a serem aplicadas por Ceschin.

O caso do Sírio-Libanês reflete bem os novos rumos da área de saúde que nos últimos três anos caminha fortemente para a sua profissionalização. E não é para menos. Este é um dos setores que mais cresce no país, com previsão de movimentar R$ 121 bilhões em 2005, segundo a Confederação Nacional de Saúde. “O aquecimento acelerado da indústria da saúde vem exigindo uma atenção maior à gestão. O que implica na contratação de profissionais altamente capacitados e experientes em administração”, analisa Denys Monteiro, vice-presidente da Fesa Global Recruiters, empresa de recrutamento e seleção de executivos.

A Fesa, por exemplo, colocou ano passado cerca de dez executivos em posições de alto escalão. Todos vindos de outras áreas, como bancos, telefonia e bens de consumo. “Muitas empresas que eram filantrópicas ou familiares passaram a tratar suas operações como negócios para não desaparecerem do mercado”, observa Monteiro. Foi o que aconteceu com o Hospital Sírio-Libanês e que pode ser visto em milhares de outras instituições do setor, como laboratórios, clínicas e operadoras de plano de saúde.

Esse perfil de gestão mais “caseiro”, onde gente da família ou médicos ficavam na linha de frente, sem qualquer formação em administração, está mudando. “Entretanto ainda é muito recente essa visão administrativa no setor de saúde. A profissionalização na área acabou sendo mais lenta e não teve a mesma velocidade do processo das empresas”, observa Flávia Jardim, consultora da Integration.

Funções em áreas administrativas (operações, suprimentos, marketing, comercial e RH), lembra Flávia, eram, até pouco tempo, eram exercidas pelo próprio pessoal da área de saúde. “Um enorme erro, porque essas instituições não se sustentam sem um modelo administrativo profissional”, afirma. Diante desse problema, a saída encontrada pelo setor tem sido buscar gente no mercado. “Tanto que atualmente essa área oferece boas oportunidade de trabalho, principalmente, para pessoas com formação administrativa, em marketing, engenharia e finanças”, diz.

Ceschin é um exemplo de profissional caçado no mercado para atender ao novo modelo de gestão. Formado em medicina, possui especialização em administração em sistemas de saúde, marketing e finanças pela Fundação Getúlio Vargas. Conta ainda com MBA em gestão avançada pelo Insead (França). Foi diretor-superintendente do Grupo Medial Saúde, atuando posteriormente como consultor de projetos.

Toda essa experiência híbrida, que envolve administração e saúde, acabou sendo decisiva no processo de seleção para o Sírio Libanês. Pela frente, Ceschin terá uma missão nada fácil. Além de cuidar das três unidades administrativas do Sírio – o próprio hospital, o Instituto de Ensino e Pesquisa e área de filantropia, irá desenvolver todo o planejamento estratégico para os próximos três anos do hospital.

Se o caminho para a profissionalização é irreversível, muitos hospitais, clínicas e laboratórios enfrentam um dilema: ter na parte administrativa apenas profissionais com experiência em gestão ou manter gente com formação na área médica? Na opinião de Claudio Luiz Lottenberg, atual presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, essa é uma questão ainda polêmica.

“Não há uma regra, mas acredito ser importante o executivo ter os dois pré-requistos”, explica. “O setor de saúde é bastante peculiar e não dá para ter alguém que desconheça as suas particularidades”. Para Lottenberg, um médico pode exercer bem uma função administrativa, desde que possua formação acadêmica em administração.

O Einstein, criado por um grupo de pessoas que faz parte da comunidade judaica de São Paulo, é modelo de gestão para o mercado. Com uma estrutura extremamente profissional e de governança bastante madura, o hospital conta com médicos experientes em gestão e profissionais oriundos de grandes empresas. “Enfrentamos um mercado bastante competitivo, o que exige ter uma administração eficiente”, observa Lottenberg.

Apesar de reconhecer que o setor ainda está em processo evolutivo na questão da profissionalização, ele acredita ser necessário para os gestores ter uma postura que permita à direção acompanhar a performance dos negócios por meio de indicadores. Preocupação que já existe no dia-a-dia do Einstein. Uma das formas que a instituição encontrou foi investir na qualificação de seu quadro de funcionários.

Oftalmologista renomado, Lottenberg também figura na lista de médicos que atua à frente de negócios. Além de dirigir o hospital, preside o conselho de administração e por quatro meses foi secretário Municipal de Saúde da cidade de São Paulo, na gestão atual do prefeito José Serra.

Em meio a tanto desafios, o setor de saúde abriga boas oportunidades no mercado de trabalho. “Principalmente para quem tem experiência em gestão e finanças”, ressalta Karin Parodi, sócia da consultoria Career Center. Segundo ela, no momento, sua empresa está encaminhando para processos de seleção no setor de saúde dois profissionais que vieram de outras áreas. “Está se abrindo um mercado interessante para os executivos e também para médicos que constroem suas carreiras em funções administrativas”.

É o caso de Caio Seixas Soares, gerente de programas especiais da Omint, operadora de planos de saúde. Ao contrário da maioria de seus colegas, ao se formar em medicina não quis se especializar na área assistencial. Seguiu direto para pós-graduação em administração hospitalar e sistemas de saúde. “Percebi no meio da faculdade que tinha mais aptidão por negócios”.

Seu primeiro contato com a área aconteceu durante o período de residência, onde participou da gestão do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Logo em seguida foi chamado para ser estagiário da CRC Consultoria, efetivado um ano e meio depois. Em 2004, aceitou o convite da Omint e hoje acredita que sua formação mista contribui para que a empresa obtenha resultados satisfatórios.

“Por entender do setor e ao mesmo tempo conhecer os mecanismos que permeiam o mundo corporativo, consigo agregar valor à companhia”, destaca Soares. O médico-executivo vai além e defende a importância de ser ter nos cursos de graduação disciplinas de gestão. Ele atenta para uma lacuna que existe entre os profissionais que possuem consultórios. “A maioria sente dificuldade de gerir sua estrutura e controlar as finanças”, diz.

Corrida por especialização incentiva a criação de cursos

A corrida pela profissionalização do setor de saúde acabou por desencadear, nos últimos dois anos, uma proliferação de cursos voltados para gestão da área. Prova disso é que as escolas de negócios aumentaram as turmas de pós-graduação e até criaram novos programas de especialização, por conta da grande procura gerada pelos hospitais e profissionais autônomos, que mantêm consultórios.

Na Escola de Administração de São Paulo da Fundação Getulio Vargas – que em 1975 lançou sua primeira especialização no setor, em parceria com o Hospital das Clínicas – por exemplo, há uma demanda de médicos preocupados em gerir melhor seus negócios. “Eles precisam aprender a lidar com uma estrutura que envolve desde o controle de recursos até a questão do relacionamento com o contador e a secretária”, afirma Fábio Gallo, coordenador dos cursos “in company” da FGV- EASP.

Outro público que tem voltado à sala de aula é o de gestores que atuam em operadoras de plano de saúde. Eles buscam desenvolver habilidades que permitam atingir resultados, em meio às necessidades dos segurados e às regulamentações do governo. “O profissional de saúde possui uma enorme deficiência em administrar, seja ele da esfera pública ou privada”, ressalta Gallo.

Além dos cursos lato sensu, a FGV-EAESP oferece ainda programas de mestrado e doutorado. Mas a maior procura é pelos cursos de especialização em administração hospitalar. Antes, existia apenas uma turma por ano. Agora, existem duas, cada uma com uma média de 100 alunos. Esta semana, a FGV está firmando acordo com o Hospital Sírio-Libanês para a realização de programas de aperfeiçoamento e desenvolvimento de gestores.

No Ibmec, a demanda se concentra nos programas de MBA. Hoje existe até lista de espera para o curso oferecido na unidade São Paulo – primeira a formatar o MBA Executivo em gestão de saúde. Desenvolvido em conjunto com o Hospital Israelita Albert Einstein, o programa já está em sua segunda edição, prevista para ter início em agosto. “Contamos com 45 alunos matriculados. Mas temos em nosso banco de dados outros interessados”. diz Carlos Suslik, .coordenador do MBA.

O modelo deu tão certo que serviu de base para a unidade do Ibmec de Minas Gerais lançar o curso no estado. Também em parceria com o Albert Einstein, o MBA terá entre seus professores profissionais do hospital. A idéia é desenvolver profissionais multifuncionais, que sejam capazes de aplicar e disseminar uma visão de negócios nas instituições de saúde.

Assim como em São Paulo, o programa é aberto para profissionais de outros hospitais, laboratórios de análise, operadoras de plano de saúde e consultorias, bem como os próprios funcionários do Albert Einstein. Já no Ibmec-RJ, o MBA nasceu de uma necessidade da Casa de Saúde São José.

Voltado para funcionários de nível gerencial e parceiros da instituição, o programa “in company” se destina a profissionais com formação superior nas áreas de saúde, administração ou afins. A intensa procura surpreendeu a coordenação do curso. “Esperávamos ter entre 30 e 35 alunos. Mas acabamos fechando a turma com 42 alunos”, diz Gerson Bronstein, responsável pelos programas corporativos do Ibmec-RJ.