A denúncia de que Humberto Costa, quando concorreu ao governo de Pernambuco em 2002, recebeu doação de campanha de empresas que foram contratadas por ele, sem licitação, na época em que ocupava a Secretaria de Saúde de Recife, levou ontem o senador Jefferson Péres (PDT-AM) a pedir a renúncia do ministro da Saúde.
De acordo com a denúncia, em 2002, Humberto Costa valeu-se do cargo de secretário municipal de Saúde para dispensar a licitação, sob o argumento de urgência, a empresa que foi a maior financiadora de sua campanha, a Líber Conservação e Serviços Gerais Ltda. A empresa doou R$ 191,7 mil. Também ajudou a empresa, Essencial Serviços de Vigilância, que na sua campanha doou R$ 11 mil. A Líber e a Essencial receberam juntas da secretaria, em 2001, pelo menos R$ 3,187 milhões em contratos, tudo sem licitação.
– Será extremamente comprometedor para o governo manter Humberto Costa – avaliou Péres.
Segundo o senador, o governo precisa dar uma satisfação pública para o escândalo dos recursos destinados à compra de hemoderivados pelo Ministério da Saúde, investigada pela pela Operação Vampiro, da Polícia Federal.
Na avaliação do senador do PDT, as novas informações de esquemas envolvendo o nome do ministro tornariam a situação de Costa insustentável
A Polícia Federal informou ontem que não está investigando o secretário nacional de finanças do PT, Delúbio Soares, por suposto envolvimento com os empresários, lobistas e servidores presos pela Operação Vampiro, acusados de desviar dinheiro do Ministério da Saúde. Reportagem publicada ontem pelo jornal Folha de São Paulo mostra que o lobista Laerte de Arruda Corrêa Júnior, um dos presos da Operação Vampiro, foi interlocutor de laboratórios farmacêuticos durante a campanha eleitoral de 2002 para intermediar doações para o PT. Delúbio é homem de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A reportagem mostra que Laerte é citado em depoimento do lobista Francisco Danúbio Honorato, outro preso pela PF. No depoimento, Honorato declarou ter ouvido ”comentários de que o senhor Laerte teria autorização do senhor Delúbio Soares, tesoureiro do PT, para solicitar dinheiro das empresas farmacêuticas e intermediar interesses dessas empresas junto ao Ministério da Saúde”.
Delúbio confirmou conheceu Laerte. Pela versão do principal arrecadador de dinheiro para o PT, o sindicato das indústrias farmacêuticas pediu a Laerte que ajudasse nos contados com os laboratórios. Laerte ia diretamente ao diretório do PT, acompanhado de empresários. O lobista visitou o partido após as eleições. Laerte alegava que queria ”ficar perto do PT” e, depois, filiar-se ao partido, segundo a versão de Delúbio.
Para a PF, não há, porenquanto, nenhum indício de participação de Delúbio Soares no esquema de fraudes no Ministério da Saúde.
Embora não esteja investigando Delúbio Soares diretamente, a PF e o Ministério Público levantam desde a semana passada informações sobre o uso do dinheiro desviado no Ministério da Saúde para caixa-dois de campanhas eleitorais. A investigação começou pela relações dos presos com políticos.