Óculos escuros que permitem alguma visão aos deficientes visuais. Aparelhos parecidos a marca passos que impedem dores intratáveis. Essas maravilhas são possíveis porque fabricantes de semicondutores, como a Texas Instruments, identificaram uma importante nova área para crescer: a medicina de alta tecnologia.
A história de Beth McDonald mostra como essa tendência pode mudar a vida dos pacientes. Há quase 20 anos, ela caiu e danificou alguns nervos da perna esquerda. O ferimento a deixou com dores crônicas tão severas que ela passou 17 anos em uma cadeira de rodas, fez 28 cirurgias e, por fim, teve de amputar a perna. Então, no fim de 2005, seu médico lhe contou sobre uma estimulação da medula espinhal, um novo tratamento para dores crônicas. Ele implantou um aparelho do tamanho de uma fita métrica chamado Eon, da Advanced Neuromodulation Systems, em sua região lombar. Elaborado em volta a um microprocessador de baixíssima potência da Texas Instruments, este marca passo para a medula espinhal emite suaves pulsos elétricos que mascaram as mensagens de dor do sistema nervoso.
Beth, que tem 41 anos, agora caminha confortavelmente com uma perna protética e recentemente subiu os 219 degraus para um encontro no Farol de Santo Agostinho, na Flórida. "Pude brincar com minha filha no parque infantil, o que (antes) nunca poderia ter feito", afirma. "Fui às lágrimas."
Na corrida para ajudar pacientes desesperados como Beth McDonald, a Texas Instruments encontra concorrência de sobra. Enquanto a companhia com sede em Plano, no Texas, se foca em processadores de alta velocidade que usem pouca energia, como o chip no implante Eon, a rival Intel desenvolve redes de censores que ajudarão os médicos a monitorar pacientes idosos e incapacitados. A IBM e a fabricante holandesa de bens eletrônicos de consumo Philips Electronics também expandem sua linha médica, que depende integralmente de avançados nos processadores. Como resultado, o mercado para semicondutores médicos cresce a impressionantes 12% ao ano, segundo a companhia de pesquisa de mercado Databeans, de Reno, nos Estados Unidos, e poderia movimentar US$ 4,6 bilhões em 2012, em comparação aos US$ 2,4 bilhões do ano passado. Em contraste, o mercado total de chips cresceu apenas 2,1% no primeiro semestre de 2007, segundo a Associação da Indústria de Semicondutores.
Décadas de inovação tornaram a Texas Instruments uma precursora de tendências entre as fabricantes de chips. Suas inovações no processamento de sinais ajudaram a disseminar música e imagem por toda a internet. A companhia também foi fundamental no processo de encolhimento dos pesados telefones celulares da década de 90 para os atuais esguios aparelhos.
Embora as operações da Texas Instruments na área médica tenham trazido receita de apenas US$ 200 milhões no ano passado, de um total de US$ 14,3 bilhões, os executivos vêem um potencial enorme. "Quando você começa a falar em prolongar a vida, essas (iniciativas) são realmente atividades de alto valor", observa Ron Slaymaker, vice presidente de relações com os investidores da companhia.
Uma forma de expandir as operações é investir diretamente nas companhias iniciantes. Recentemente, a Texas Instruments aliou se à InCube Labs, que desenvolveu um marca passo gástrico que usa suaves choques elétricos para enganar as pontadas de fome, o que pode ajudar os pacientes com obesidade mórbida a perder peso. A Texas Instruments desenvolveu circuitos de energia que geram os pulsos na freqüência exata para não exaurir as baterias, de forma que as partes não precisam ser substituídas com tanta freqüência.
Os estrategistas da Texas Instruments também buscam a rota da miniaturização. A empresa comercializa chips para empresas que tentam encolher os atuais equipamentos médicos desde monitores de glicose no sangue até máquinas de eletrocardiogramas para que os consumidores possam avaliar sua saúde em casa. "O hospital é o hotel mais caro que você pode entrar. Não entre neles", diz Doug Rasor, vice presidente de novas tecnologias médicas da Texas Instruments. Com a assistência da Texas Instruments, a General Electric recentemente reduziu suas máquinas de ultra som até o tamanho de um computador portátil, para que as grávidas possam observar seus bebês no conforto de suas próprias salas.
Na fronteira mais distante da medicina, a Texas Instruments trabalha com cientistas da Universidade do Sul da Califórnia e uma companhia iniciante chamada Second Sight para mitigar doenças relacionadas à cegueira. Criaram um implante de retina que traduz imagens de câmeras em impulsos neurais que uma pessoa com deficiência visual pode interpretar como claros e escuros. Com o tempo, os pacientes aprendem a interpretas esses padrões como objetos, o que lhes dá certa capacidade de locomover se com o auxílio da visão ou até, de fato, enxergar.
A equipe testou o sistema de retina, Argus 16, em seis pacientes. Um deles, Terry Byland, deficiente visual há 14 anos. Ele passou a usar o Argus em 2004 e, desde então, sua visão melhorou consistentemente, à medida que seu cérebro se adapta às imagens digitais que recebe via microprocessadores da Texas Instruments em uma câmera de vídeo instalada em seus óculos. Byland tem um filho de 18 anos, que ele não conseguia ver desde que a criança tinha cinco anos. "Agora, posso ver sua sombra mexendo se na minha frente", afirma.