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Alguma coisa está fora da ordem

Sinais de riqueza. Esse foi um fatores que reforçaram a suspeita da Polícia Federal em relação aos funcionários e ex-funcionários do Ministério da Saúde presos, na semana passada, sob a acusação de envolvimento com a máfia que fraudava licitações de derivados de sangue. O Estado de Minas e o Correio Braziliense, que noticiaram o caso com exclusividade na edição de 18 de abril, obtiveram fotos e declarações de Imposto de Renda que comprovam que quatro dos servidores e ex-servidores presos possuem bens que não são compatíveis com seus rendimentos. O patrimônio dos detidos na Operação Vampiro compreende fazendas de criação de avestruz, mansões e carros importados. A seguir, as fichas dos quatro levantadas pela reportagem e comparada com dados em poder da Polícia Federal:

Contas que não fecham

1) Luiz Cláudio Gomes da Silva era homem de confiança e assessor do ministro da Saúde, Humberto Costa. Ocupava o cargo de coordenador-geral de Recursos Logísticos do ministério. Neste ano, ele declarou à Receita Federal ter percebido, no ano de 2003, rendimentos da ordem de R$ 45.457. Ainda segundo sua declaração de Imposto de Renda de 2004, o patrimônio total do servidor seria de apenas R$ 96 mil – uma fazenda em Pernambuco (avaliada em R$ 50 mil), um Vectra ano 1999 (R$ 26 mil) e depósitos em dinheiro que somam R$ 20 mil, em duas contas correntes.

A PF desconfiava que Luiz Cláudio escondia parte de seu patrimônio, aferido, segundo as investigações, com a venda de informações sigilosas do ministério. Os investigadores estavam certos. Ao prender Luiz Cláudio em sua residência, em Recife, a Polícia Federal encontrou o equivalente a R$ 250 mil (em cédulas de real, dólar e euro) em poder do homem de confiança do ministro da Saúde;

2) Manoel Pereira Braga Neto era o coordenador-adjunto de Luiz Cláudio Gomes da Silva, de quem também é primo. Segundo a apuração da PF, ambos faziam uma dobradinha na venda de informações privilegiadas do ministério. Um mês antes do escândalo, Braga Neto foi citado num informe oficial do Ministério da Saúde como um dos responsáveis por medidas que teriam acarretado em economia para os cofres públicos. O patrimônio de Braga Neto, segundo apurou o Estado de Minas, compreende uma fazenda de criação de avestruz (batizada de Rancho Paraíso) em Alexânia, estado de Goiás. Ao ser preso, em Brasília, ele tinha consigo R$ 105.610 em espécie.

3) André Ferreira Murgel foi coordenador de Suprimento de Medicamentos e Correlatos no Ministério da Saúde, área responsável por compras milionárias. Nos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, ele também integrou a Comissão Permanente de Licitação do ministério. Apenas no ano de 2003, Murgel foi um dos responsáveis por duas concorrências internacionais para aquisição de hemoderivados no valor de US$ 34 milhões (equivalente hoje a R$ 108 milhões). A PF e o Ministério Público levantaram uma série de problemas nas licitações, inclusive um envelope violado. Murgel possui uma casa de dois andares no Lago Sul, um dos bairros mais nobres de Brasília;

4) Mário Machado da Silva é funcionário de carreira do Ministério da Saúde. Apesar de ser apenas um datilógrafo, alcançou, no governo Fernando Henrique, o posto de chefe da Comissão Permanente de Licitação do ministério. A PF levantou que seu salário era de R$ 800, fora gratificações por função. No entanto, seu patrimônio aparente é elevado. Inclui uma casa de dois andares em Pirapora, município no norte de Minas, avaliada em R$ 350 mil e um Passat importado ano 1998 (placa JFM 6834), adquirido por R$ 41 mil.

Problemas antigos

Apontado como um dos coordenadores da máfia dos derivados de sangue, o empresário Lourenço Rommel Peixoto, que se entregou ontem à Polícia Federal, em Brasília, junto com o lobista Jaisler Jabour Alvarenga, tem uma extensa ficha policial (que remonta ao ano de 1992) e um vasto patrimônio. Não é a primeira vez que Peixoto tem problemas na área de medicamentos.

No governo Collor (1990-1992), ele era assessor da presidência da Central de Medicamentos (Ceme), órgão do Ministério da Saúde onde atuava, de forma bastante ativa, o chamado Esquema PC Farias. Na época, Peixoto foi denunciado à Justiça juntamente com outros integrantes do Esquema PC, entre eles o próprio Paulo César Farias, Luiz Romero Farias e Jorge Bandeira de Mello. O processo ainda não tem uma decisão final por parte da Justiça.

A PF já investigou Peixoto por formação de bando ou quadrilha, concussão (extorsão praticada por funcionário público), estelionato, falsidade ideológica e sonegação fiscal. O patrimônio de Peixoto, de acordo com registros da Polícia Federal, inclui uma casa no Lago Sul em Brasília , avaliada em mais de R$ 500 mil.

Carros importados

Há ainda, de acordo com os dados da PF, sete veículos avaliados em cerca de 300 mil (uma Grand Cherokee 2002, um Chrysler 98, uma Ford Ranger 2003, uma Mercedes-Benz 97, uma caminhonete D-20, uma caminhonete D-10, ambos de 93, e um Gol 96).

Lourenço também figura como dono da Fazenda Coqueiral, em Corumbá de Goiás, e como sócio das empresas Fenix Segurança, ABC Data Saúde e Labores e do Jornal de Brasília. Ele é sócio de Jaisler Jabour, que também se apresentou ontem. Jabour representava o laboratório suíço Octapharma, que atua no mercado de derivados de sangue.

Um mês antes da eclosão do escândalo, Peixoto conversou, por telefone, com a reportagem do Estado de Minas. Informado, na época, de que era alvo de uma apuração pelo suposto envolvimento em fraudes em licitações de compra de hemoderivados, o empresário se disse ”totalmente surpreso” e informou que estava ”tranqüilo”. Na semana passada, sumiu do mapa sem deixar registros, mas acabou se entregando. (LC)

O número

PATRIMÔNIO

R$ 500 MIL é o valor estimado da casa do empresário Lourenço Rommel Peixoto, no Lago Sul