As boas relações com o presidente de Cuba, Fidel Castro, já causam problemas para o presidente da Bolívia, Evo Morales: médicos de hospitais públicos e privados bolivianos iniciaram nessa quinta-feira (01/06) uma greve nacional de 24 horas exigindo a saída de cerca de 700 médicos cubanos enviados ao país por meio de um convênio. Os profissionais bolivianos fizeram passeata e montaram barracas para atendimento gratuito.
Segundo Eduardo Chávez, do Colégio Médico da Bolívia, organização que convocou a greve, dez mil médicos bolivianos estão desempregados e querem os postos de trabalho ocupados pelos cubanos. Estes chegaram ao país em fevereiro, depois de inundações, e trabalham em áreas remotas.
A ministra da Saúde, Nila Heredia, argumentou que o governo não paga salários aos cubanos e não tem recursos para contratar médicos bolivianos. O Colégio Médico disse, porém, que o governo paga alimentação, moradia e transporte para os cubanos e sugeriu que os bolivianos sejam contratados nas mesmas condições.
Desde que o ex-líder cocaleiro Morales chegou ao poder, em janeiro, Cuba já enviou à Bolívia médicos, equipamentos e alfabetizadores, num programa de ajuda humanitária. Terça-feira passada, o presidente inaugurou o 20 hospital equipado por Cuba, num remoto povoado onde cubanos operam catarata e fazem outras cirurgias gratuitamente para famílias pobres.
Como outras iniciativas de Morales, a ajuda tanto de Cuba quanto da Venezuela de Hugo Chávez resulta em manifestações tanto de apoio quanto de rejeição em seu país. Bolivianos que se beneficiaram das operações gratuitas anunciaram ontem uma passeata em apoio aos médicos cubanos.
– Dou graças a Deus por eles terem vindo ajudar pessoas pobres como nós. Graças a eles recuperei minha vista e posso continuar trabalhando – disse Margarita Moya, de 50 anos, enquanto aguardava por atendimento numa clínica oftalmológica.
Chávez, outro amigo polêmico de Morales
Mas Fernando Arandia, do Colégio Médico, reclamou:
– Queremos evitar o que aconteceu na Venezuela, onde o que começou com 600 médicos (cubanos) terminou com cerca de 27.000.
Na Bolívia, a popularidade de Chávez – que Morales chama de "meu irmão" – é quase tão grande quanto a do próprio presidente, mas o presidente venezuelano anda também causando certa preocupação, apesar de sua promessa de ajuda substancial – US$ 1,5 bilhão só em investimentos em energia no rastro da nacionalização das indústrias de petróleo e gás.
– É bom ter Chávez nos ajudando, mas ele está em todo lugar. É um pouco demais – disse a farmacêutica Dora Villareal.