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Antiinflamatório Vioxx é retirado do mercado

O laboratório Merck anunciou ontem a retirada do mercado mundial de um de seus mais populares medicamentos, o antiinflamatório Vioxx. A decisão foi baseada num estudo feito pela própria empresa, segundo o qual o uso continuado da droga dobra o risco de ocorrência de infarto e derrame. Ontem, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a suspensão de venda e uso de todos remédios que contenham rofecoxibe, o princípio ativo do Vioxx.

O medicamento tornou-se muito popular em todo o mundo porque, diferentemente dos antiinflamatórios tradicionais, não causa distúrbios gastrointestinais com uso contínuo. São dois milhões de usuários nos 80 países em que o remédio é comercializado. No Brasil, a cada mês, são vendidas 500 mil caixas da droga: é o terceiro medicamento com prescrição médica mais vendido no país.

O aumento dos riscos cardiovasculares com o uso continuado do remédio foi revelado num estudo feito pelo próprio laboratório, envolvendo mais de duas mil pessoas ao longo de três anos. A pesquisa buscava avaliar a eficácia do medicamento no tratamento de pólipos no colo retal, condição que, em muitos casos, evolui para câncer.

A empresa descobriu que, depois de 18 meses de tratamento, os pacientes que tomavam Vioxx apresentavam o dobro do risco de ter um ataque cardíaco ou um derrame em comparação com aqueles que tomaram placebo (substância inócua).

Entre os 1.287 pacientes que tomaram Vioxx, 45 apresentaram problemas cardiovasculares. Entre os 1.299 que receberam placebo, 25 tiveram problemas. Foram registradas cinco mortes em cada grupo e, por isso, o laboratório não relaciona os óbitos ao uso da droga.

O laboratório frisou, entretanto, que não há motivo para pânico, pois o risco de uma pessoa apresentar um problema cardiovascular é de 0,75%. Com o uso contínuo da droga, o risco aumenta para 1,48%.

– É preciso deixar claro que o risco é mínimo, refere-se a um uso contínuo por mais de 18 meses e que o estudo foi feito numa população de risco, pessoas de 65 a 96 anos – explicou João Sanches, diretor de comunicação corporativa da Merck no Brasil. – Ainda assim, tomamos a decisão voluntária de retirar o produto do mercado.

Sanches informou ainda que todos os estudos com o Vioxx realizados pelo laboratório em busca de possíveis novas aplicações do medicamento foram suspensos.

– Estamos avaliando os dados para descobrir as causas desse efeito. Ainda assim, entendemos que a decisão de retirar o produto do mercado é definitiva – disse o executivo.

Os resultados obtidos pela Merck confirmam as descobertas feitas por um pesquisador da Administração de Drogas e Alimentos (FDA na sigla em inglês), órgão do governo americano que emite licenças para a comercialização de remédios e produtos alimentícios. Um estudo de David Graham apresentado em seminário na França, no mês passado, revelou que doses diárias de Vioxx acima de 25 miligramas poderiam triplicar o risco. O remédio é comercializado no Brasil em comprimidos de 25 e 50 miligramas.

– Desde que esse estudo foi divulgado, eu não receito mais o remédio – afirmou o médico João Mansur Filho, responsável pelo setor de cardiologia do Hospital Samaritano. – Embora não haja motivo para pânico, é melhor aguardar novos estudos.

Consumidores brasileiros serão ressarcidos

O médico explicou que o Vioxx, normalmente receitado em casos de artrite reumatóide, artrose e dor aguda, inibe a ação da oxigenase 2, uma enzima que atua na síntese de mediadores de dor, inflamação e febre. O problema é que, ao inibir a ação dessa enzima, o remédio acaba por estimular a constrição de vasos sangüíneos e a agregação de plaquetas do sangue, aumentando o risco de problemas cardiovasculares.

– O pior é que muitas pessoas, médicos inclusive, usam sem receita médica para problemas banais – frisou Mansur.

A Anvisa e as vigilâncias sanitárias dos estados e municípios foram orientadas a fiscalizar o recolhimento do produto nas 55 mil farmácias do país. A Merck do Brasil informou que está orientando as farmácias a ressarcir os consumidores. O laboratório aconselha os usuários do remédio a procurarem seus médicos para uma terapia alternativa. A empresa presta esclarecimentos no número 0800122232.