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Dirigente destaca importância do setor privado na saúde

O setor de saúde do Brasil não é funcional e o Poder Público mostra-se cada vez mais distante de cumprir o seu papel constitucional. Os motivos? A falta de uma base sólida de tecnologia de informação, o sistema não está bem-estruturado e, principalmente, a prioridade que se dá ao setor público – moroso, dispendioso e ineficiente -, em detrimento ao privado, de gestões e reações mais compatíveis a um modelo assistencial eficaz. Este é o diagnóstico feito pelo presidente do Hospital Israelense Albert Einstein (SP), Cláudio Lottenberg, que esteve em Curitiba na primeira quinzena de agosto para proferir palestra e discutir a crise e as oportunidades do mercado de saúde. O evento foi organizado pelo Instituto da Gestão de Saúde de Curitiba.

Médico, ex-secretário municipal de saúde de São Paulo e especialista em gestão, Cláudio Lottenberg entende que o problema dos hospitais vai além da complicada relação com as fontes pagadoras – o governo com o seu SUS e as operadoras de saúde -, razão pela qual defende uma relação mais estreita do Poder Público com a iniciativa privada. Com isso, diz, o resultado seria empresas de saúde melhor estruturadas. “Em saúde não se deve falar em cortar gastos, mas desperdício. Para um sistema de saúde funcionar, é preciso ter uma tecnologia de informação diferente da atual, baseada exclusivamente em dados cadastrais. Não temos dados que nos informem sobre a condição de saúde de cada cidadão. A base de um sistema de saúde maduro, com maior agilidade no atendimento, deve ser apoiada em tecnologia da informação, o­nde os pacientes tenham prontuários eletrônicos e o sistema ambulatorial possa se comunicar com o hospital”.

O Albert Einstein destaca-se como o mais avançado hospital privado da América Latina, tanto administrativa como tecnologicamente. Foi fundado há 33 anos e conta com 450 leitos e quase 5 mil colaboradores, entre funcionários e prestadores de serviços. A média de atendimentos/ano chega a 31 mil pacientes. Ao falar sobre as experiências do hospital, Cláudio Lottenberg diz que, hoje, gasta-se 12% menos recursos que há três anos, além de reduzir o uso de sangue em 33%. “Aplicamos esse recurso em todas as áreas, inclusive nos atendimentos voltados para o SUS”, diz. Reproduzimos abaixo trecho de entrevista que o dirigente hospitalar concedeu ao jornal Gazeta do Povo, de Curitiba.
Qual a avaliação do atual atendimento da saúde pública do Brasil?
Quando a Constituição fixa que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado, não estabelece, necessariamente, que quem deve prestar a assistência é o Estado. Acho que a participação de um sistema privado é muito importante. Isso não significa privatizar a saúde, mas focar no interesse principal do cidadão. Significa levar para ele a eficiência do sistema privado, por sua leveza e simplicidade na forma de fazer licitações e pela agilidade na forma de substituir pessoas. São ganhos a considerar. Para mim, enxergar a saúde é enxergar um direito social que tem de ser administrado dentro das vertentes de modernismo que a gestão de pessoal impõe e a gestão de negócio exige. Poderíamos utilizar o modelo PPP na área de saúde. Enquanto isso não acontecer, vamos continuar caminhando com lentidão. É um absurdo observar que existem programas em cidades para atender doenças praticamente erradicadas e que recebem, por parte do poder público, grande atenção. Doenças crônicas como hipertensão e diabetes acabam ficando de lado. Isso é conseqüência de uma política tradicional que engessa todo o sistema.

Qual é o modelo de gestão em saúde que dá certo e pode ser copiado?
Destaco a forma como hoje trabalham os hospitais do estado de São Paulo, que foram montados a partir de organizações sociais construídas pelo Poder Público e que depois foram entregues ao sistema privado. Na maioria dos casos e de forma exclusiva para instituições sem fins lucrativos. São exemplos que trouxeram um certo modernismo à gestão de saúde pública. As instituições que participaram desse processo tinham interesse num bom atendimento e na geração de conhecimento e apresentaram sucesso. É verdade que são hospitais mais novos do que os já presentes na rede pública e que, obviamente, não estão sucateados. Essa interpretação positiva pode mudar com o tempo. Mas os trabalhos que foram realizados mostram um ganho expressivo principalmente em relação à política de recursos humanos. O modelo das organizações sociais de São Paulo poderia ser replicado não só para os hospitais. Existe uma falha na interpretação por parte das autoridades governamentais, que focam demais a visão da saúde no internamento. Há dez anos, 60% dos pacientes permaneciam por períodos muito longos internados. O tempo médio de permanência do paciente no hospital era de cinco ou seis dias. Hoje, esses 60% ficam menos de cinco horas dentro do hospital privado. Esse modelo tem de ser perseguido. Temos de buscar os mecanismos de sucesso na iniciativa privada para utilizar no sistema público.