Podemos contar pessoas, mas não podemos contar o que acontece com as pessoas. O universo que reside na individualidade humana é incontável, está no campo do infinito. É por isso que, quanto se trata da saúde, números nos são apresentados, números esses que costumam esconder realidades muito mais próprias do ser humano do que da estatística.
Por outro lado existe uma constituição federal, a Lei Magna, feita para proteger o cidadão e para proteger os seus direitos, para impor deveres e limites aos que o governam. Ela diz, em seu artigo 196, que “A saúde é direito de todos e dever do Estado”. Outro paradoxo que coloca por um lado o seu discurso e em lado oposto a sua prática. E mais perverso que tudo é que o discurso “cega” o homem do povo, sendo alegado sempre que a prática inconstitucional fere a paciência dos verdadeiros dono do poder, o povo em si.
A saúde, assim como a economia, vai bem, é verdade, mas… para quem? Para quantos? Para qual categoria social? Quais as ações realmente efetivas levadas a cabo por qualquer escalão do governo, seja ele federal, estadual ou municipal? No discurso, várias, com pleno êxito. Na vida prática, pergunte aos cidadãos quais as melhoras que eles realmente experimentaram. Que tal começarmos a perguntar àqueles que realmente devem ser os beneficiários dos direitos “garantidos” pela Constituição federal e não àqueles que têm o dever exigido por essa mesma Constituição? Que tal, como a criança do conto de Hans Christian Andersen, começarmos, nós, cidadãos, a gritar “O rei está nu!”?
Não cabe àqueles que são servidores públicos, mas se travestem de “autoridades”, dizer o que fariam, o que pretendem fazer ou o que fizeram; cabe a eles simplesmente fazer sem se preocupar de apregoar quanto ou como feito o que costuma ser um arremedo do que deveria ser feito. Para isso lá são colocados, para isso são pagos com dinheiro arrecadado de seus verdadeiros patrões, as pessoas do povo. Aliás, dinheiro esse que costuma ir para os bolsos particulares dos “homens públicos”.
Já que citamos Andersen, vamos um pouco mais atrás no tempo e citemos Cícero em um de seus discursos que assim se inicia: “Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?” (“Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”) . Assim como Catilina continuava no Senado romano, fraudadores confessos da lei continuam com seu assento no Congresso Nacional fazendo as leis que eles mesmo descumprem. Pergunto então a juristas e congressistas, uma pergunta direta: “Seria eu obrigado a cumprir leis feitas por fraudadores dessa própria lei?”
Bem, gostaria de saber se alguém conseguiria responder, com algum grau de lógica e de seriedade, a essa simples pergunta. Enquanto isso a saúde dos cidadãos…
LUIZ ROBERTO LONDRES é médico.