Os pacientes correm risco nas mãos dos futuros médicos de São Paulo, diz o Conselho Regional de Medicina (Cremesp) com base na última avaliação dos formandos das faculdades públicas e privadas paulistas. Cerca de 61% dos estudantes foram reprovados na prova. Os dados foram divulgados ontem.
O exame de avaliação do conselho é voluntário e não tem validade legal. Para Braulio Luna Filho, um dos responsáveis pela elaboração da prova, o caráter voluntário torna o diagnóstico mais preocupante. "Avaliamos a melhor amostra, porque só comparece o estudante que se sente preparado."
Os resultados mostram que estudantes do 6º ano (último da graduação) não tiveram conhecimento mínimo nas áreas de pediatria, ginecologia, obstetrícia e clínica médica, entre outras. A prova, com 120 questões, avaliou 659 alunos, cerca de 30% dos formandos.
Luna Filho recorda que a porta de entrada para os profissionais recém-formados no mercado costuma ser os setores de emergência e pronto atendimento dos hospitais. "O indivíduo que vai definir se você vai morrer ou sobreviver é esse estudante mal preparado", lamenta o presidente do Cremesp, Henrique Carlos Gonçalves.
No exame do Cremesp, as universidades públicas tiveram desempenho melhor do que as privadas, 54,1% de média de aprovação contra 32,5% das particulares. O Estado entrou em contato com as universidades cujos alunos tiveram pior desempenho. A PUC de Sorocaba não reconhece a validade da avaliação. Já a PUC de Campinas alegou que não recebeu oficialmente os resultados. A Universidade São Francisco de Bragança Paulista disse que "foi pega de surpresa" e investirá para reverter esse quadro. A Unisa não se pronunciou.
Universidades importantes como a Unicamp e a USP Ribeirão Preto não participaram do exame. Angélica Zeferino, coordenadora do curso de Medicina da Unicamp, afirma que "foi uma decisão dos alunos". Ela acrescenta que a universidade já participa de um programa interno de avaliação anual. O Ministério da Educação, responsável por autorizar a abertura dos cursos, reconhece que houve "certa liberalidade na autorização para criação de cursos de Medicina no governo anterior", mas não quis se pronunciar sobre o exame do Cremesp.