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Hospitais da Paraíba não recebem aumento do SUS e podem fechar as portas

A cidade de Campina Grande, que é referência no Nordeste em atendimento médico e hospitalar atualmente passa por uma de suas mais graves crises financeira. Em Campina Grande, que recebe pacientes do interior paraibano e de outros Estados, como Rio Grande do Norte e Pernambuco, a baixa remuneração do Sistema Único de Saúde (SUS), agravada pelos atrasos no pagamento, ameaça o fechamento de hospitais, descredenciamentos e greve de médicos. A categoria promete paralisar o atendimento a partir do próximo dia 24, se não houver um reajuste do teto financeiro. Os médicos querem 100% de reajuste dos honorários pagos pelo SUS.

 

Desde o mês passado, a direção da Clipsi solicitou o descredenciamento do SUS para os atendimentos da obstetrícia e neonatologia, o Samic está prestes a ser vendido e o Centro de Cancerologia da FAP, reconhecido pelo Ministério da Saúde como hospital de referência em tratamento do câncer, está autorizado a fazer pelo SUS apenas 30 cirurgias de câncer por mês, quando o ideal seriam pelo menos 150, conforme o diretor Rogério de Assis Lira.

 

Único hospital privado da Paraíba a receber do Unicef o título de Hospital Amigo da Criança, a Clipsi executa pelo SUS cerca de 190 partos (normal e cesariana), por mês. Há ainda o atendimento na UTI neonatal e infantil. O descredenciamento será apenas para o SUS. O serviço para conveniados e particulares será mantido normalmente.

 

Caso mais grave é do Serviço de Assistência Médica Infantil (Samic), fundado há 36 anos, onde segundo os diretores, Emílio Diniz e João Vasconcelos, há uma defasagem de pelo menos 300% nos procedimentos e consultas do SUS.

 

Segundo o pediatra João Vasconcelos, no ano passado o 13º salário dos funcionários foi pago com empréstimos feitos em bancos. “A crise financeira aumenta cotidianamente. Mês passado tivemos um prejuízo de R$ 24 mil, dinheiro que tiramos do bolso para saldar dívidas e pagamentos. O que recebemos do SUS não dá para atender. Tenho 84 anos de idade e isso para mim é um sofrimento”.

 

Com o fechamento, o Samic deixará de atender 200 crianças/dia, entre pacientes de Campina Grande e interior do Estado. Setenta funcionários, incluindo médicos, poderão perder seus empregos. O hospital foi colocado à venda há dois anos. Algumas propostas vieram de segmentos como da construção civil. O teto financeiro do Samic é de R$ 10 mil para consultas e R$ 80 mil para internações. De acordo com o estabelecido pelo SUS, o hospital poderá executar até 197 internações. Se o número for maior, o pagamento é repassado ao mês seguinte. Os valores pagos, disse Diniz, são insuficientes para investir em reformas e reajustar salários. Conforme o pediatra, atraídos por melhores salários, muitos médicos estão buscando vagas em concursos públicos.

 

Para se ter uma idéia, o último reajuste, aplicado a apenas alguns procedimentos do SUS, ocorreu em junho de 2004. Uma consulta custa atualmente R$ 8,16, quando o ideal seria R$ 20. De acordo com a direção do Samic, não houve reajuste para atendimentos de asma, um dos mais procurados durante o período de frio. Pelo procedimento, o SUS mantém o valor de tabela, R$ 310. Os procedimentos de desidratação tiveram reajuste de 9,98%, passando a custar R$ 124,75. Uma hepatite infecciosa, por exemplo, custa agora, pela tabela do SUS, R$ 208,19. Há categorias, como dos anestesistas, que recebem entre R$ 2 e R$ 4 por procedimentos.