contato@sindipar.com.br (41) 3254-1772 seg a sex - 8h - 12h e 14h as 18h

Hospitais na UTI

 

O Instituto do Coração de São Paulo, Incor, entra nas páginas da mídia não mais pelos seus feitos, pela sua excelência na pesquisa e pela notável equipe de profissionais que possui, mas sim porque não dispõe mais de recursos financeiros para continuar vivo. A Fundação Zerbini, que dá apoio financeiro ao Incor, tem uma dívida de R$ 245 milhões, dos quais R$ 110 milhões se referem a débitos com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Outros R$ 70 milhões se referem a dívidas com bancos privados, enquanto a fundação dispõe apenas de R$ 300 milhões por ano. O Incor está mostrando a realidade da grande maioria dos hospitais públicos ou privados que atendem o Sistema Único de Saúde no Brasil. Segundo o ministro Mantega (nomeado o salvador), o Incor é um hospital de excelência, talvez o melhor da América Latina. O ministro participou de reunião com o presidente Lula e integrantes do Conselho Diretor do Incor e do Conselho Curador da Fundação Zerbini, em busca de soluções para a crise financeira da instituição.
Enquanto isso, o brasileiro olha estarrecido para essa situação sem entender o porquê, pois até ontem nosso sistema de saúde era o “melhor do mundo”. A população começa a observar que a gestão da saúde no Brasil não é aquela maravilha tão decantada em “prosa e verso” por oportunistas que não sabem nem o que estão falando. Os senadores da República debatem, embasbacados, o problema do Incor e, ao que parece, demonstram uma ignorância profunda quanto a real situação da maioria dos hospitais brasileiros que sobrevivem à míngua, dentro de uma política que enfoca a importância da prevenção e esquecem que não é só de “prevenção que vive o homem”, infelizmente, mas que ainda necessitamos de hospitais modernos para atender ao processo curativo.

 

Vários parlamentares e profissionais da saúde já alertaram sobre o caos financeiro vivido pelos hospitais que atendem o Sistema Único de Saúde, que há mais de dez anos sobrevivem com uma política de custeio ridícula e fora da realidade. Só para entender a questão, os custos da média complexidade, por exemplo, em hospitais de ensino (tipo Evangélico e Cajuru), estão sendo subsidiados pelas próprias instituições. De cada R$ 100,00 em custos da chamada “média complexidade”, os hospitais bancam R$ 45, aumentando diariamente seu déficit financeiro como uma bola de neve. O governo optou pela política de “fazer favor com o chapéu dos outros”, muito cômoda por sinal, e agora que um dos melhores hospitais do país está quebrado tenta resolver, como sempre, como “bombeiro de plantão”.
Existem centenas de “Incors” no Brasil, hospitais de todos os portes suplicando, implorando e mendigando uma atenção do governo quanto ao seu custeio. A desculpa sempre foi “não temos recursos no orçamento”, ou “os hospitais necessitam de uma gestão mais moderna e competente”. As autoridades deveriam olhar com mais atenção à complexidade da rede de hospitais do Brasil, criar uma política estruturada que possibilite o custeio real através de um orçamento consistente e tire da UTI essas organizações, permitindo assim uma gestão eficaz que melhore o atendimento à população, e não apenas porque o Incor, futuro local de passagem da maioria dos brasileiros ilustres (incluindo os parlamentares), é uma referência nacional.

 

 

Valmor Rossetto é professor da UniFAE Centro Universitário.