O Brasil e o Chile são os únicos países da América Latina que não possuem um programa para interiorização de médicos recém-formados em escolas públicas, como forma de retribuir à sociedade os gastos com seus estudos. O México tem uma sistemática do tipo há mais de 60 anos. Lá, o estudante só obtém o registro de médico após completar um ano de serviço civil. No Peru, o serviço não é obrigatório, mas é recomendada ao médico a atuação em um serviço público, em áreas carentes, caso queira trabalhar na iniciativa pública, maior empregadora no setor de saúde do país. As afirmações são do secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) do Ministério da Saúde, Francisco Eduardo Campos, em entrevista por telefone ao JC.
"O mercado, por si só, não vai colocar médico no interior. Há município pagando R$ 20 mil a médicos e, nem por isso, eles ficam", assegurou o secretário.
Caso o serviço civil fosse compulsório no Brasil, o déficit de médicos seria zerado. Hoje, há de
"Existem ao menos 20 projetos de lei na Câmara com esse propósito, mas o País está disposto a encarar um serviço civil?", questionou, lembrando que sempre existiu muita resistência a esses projetos e que as famílias podem argumentar que outras profissões também deveriam participar do serviço compulsório, como a engenharia.
O presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), André Longo, aposta numa carreira estruturante, em que o profissional comece no interior, com a residência médica, até chegar à capital, nos moldes do Judiciário. "Não faz sentido um médico iniciar e terminar sua carreira no Sertão de Pernambuco. É preciso ter a perspectiva de avançar na carreira", argumentou.
Campos afirmou ser necessário também evitar o isolamento dos médicos no interior, com a educação continuada. Ele, que teve acesso à pesquisa da Fiocruz sobre a interiorização dos médicos no País, disse que o estudo traz à tona essa questão. "É uma coisa seminal (a pesquisa), que nos ajudou a implantar o programa Telessaúde no ano passado, reduzindo a solidão e o isolamento dos médicos. Hoje, temos 900 equipes em nove universidades no Amazonas, Ceará, Pernambuco, Minas, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Rio e São Paulo. No programa, os médicos do interior têm acesso, por uma webcam, a um ensino permanente", detalhou.
O sanitarista mencionou, ainda, que há uma política federal para revisão do curso de medicina, no intuito de implantar um currículo mais promotor da saúde.
MAIS RECURSOS
Questionado se o Ministério da Saúde poderia repassar mais recursos por equipe do Programa de Saúde da Família (hoje são R$ 8.100 por grupo), o secretário Francisco Eduardo Campos disse que aguarda a regulamentação da Emenda 29 e que isso não é só uma responsabilidade do Ministério da Saúde. "A grande maioria das prefeituras cumpre com sua obrigação, mas há Estado que não cumpre", afirmou. Ele sugeriu às prefeituras a ampliação da atenção básica para terem direito à verba de outros programas do MS, como o Saúde Bucal, o Samu e o Núcleo de Apoio ao Saúde da Família.