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Internações psiquiátricas têm relação com álcool e drogas

Metade das internações psiquiátricas tem alguma relação com dependência química, que tanto pode ser a causa principal como uma causa associada. São casos de depressão, ansiedade, doença do pânico, transtornos de humor ou orgânicos, entre outros problemas. A avaliação é do médico psiquiatra Luiz André Castro, especialista em Dependência Química pela Escola Paulista de Medicina.
Pesquisa feita pelo Departamento de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) durante um ano, na cidade de Marília (SP) reforça essa situação alarmante. O estudo mostrou que 16% das pessoas atendidas pelo Serviço Médico de Urgência (Samu) entre agosto de 2004 e agosto de 2005 apresentavam transtornos mentais e de comportamentos (TMC). Esses transtornos foram a segunda causa dos atendimentos de emergência, perdendo apenas para causas externas (20%), e superando fatores como problemas cardiovasculares (11%).
Para o coordenador do departamento da ABP, Ronaldo Laranjeira, esse dado indica que os TMCs não estão sendo atendidos a contento pela rotina dos serviços públicos, desaguando para os serviços de emergência, quando estão em estágios extremos. Castro tem opinião semelhante. Cerca de 12% da população brasileira têm diagnóstico de alcoolismo, sendo que menos de um terço dessa população chega a tratamento especializado.
”Nosso atendimento é limitado à parcela dos pacientes que tem uma dependência mais grave, que têm problemas clínicos ou outros transtornos associados”, explica. Outra parte, segundo ele, no máximo é atendida pela rede básica de saúde. Essa maioria, de acordo com ele, normalmente procura atendimento para tratar problemas clínicos associados, como gastrite, hipertensão, e não é encaminhada pela rede pública para tratamento específico.
”O mais comum são pacientes que evoluem para um quadro depressivo com o uso prolongado das drogas, em especial o álcool, o que pode melhorar com a abstinência”, explica Castro. Segundo ele, também é comum, após anos de consumo de drogas, a pessoa adquirir comportamentos cognitivos, como a falta de memória ou de concentração.
As drogas de maior incidência são o álcool e o tabagismo. Em muitos desses casos o paciente procura atendimento voluntariamente, ao contrário do que ocorre com os viciados em outras drogas, como a cocaína e crack. Comparado a outros países. o problema não é tão grave no Brasil, onde estudos mostram que 2,3% da população das cidades grandes já experimentou cocaína. O problema é que, além de não procurar o serviço, a taxa de adesão ao tratamento, pelos dependentes químicos, também é baixa. ”Eles têm o problema do estigama. Muitos chegam com outros problemas sociais e até legais”, diz.

 

 

Primeiros meses sem drogas são os mais críticos

 

Os primeiros três meses são os mais críticos dentro do tratamento para dependentes de drogas. É nessa fase, de acordo com o médico psiquiatra Luiz André Castro, que o paciente está mais suscetível aos estímulos externos.
O tratamento inicia com a desintoxicação do paciente, que tem como principal causa de recaídas a síndrome de abstinência. O quadro, cujos sintomas mais comuns são ansiedade, tremores, náuseas, dura de uma semana, no caso do álcool, a até um mês, para cocaína.
A desintoxicação é feita com uso de medicamentos e cuidados com a saúde. Depois, vem a fase em que é preciso prevenir situações de risco para recaídas. ”É preciso identificar se a rede social do paciente representa ou não risco, ver o ambiente familiar, às vezes é preciso até mudar os caminhos do paciente”, diz.
Em geral, após três meses há uma melhora. É a partir daí que os médicos tentam inserir o paciente novamente à sua vida normal. ”Muitas vezes as pessoas tentam retomar a vida em um mês, quer frequentar bares, procurar emprego. É complicado, qualquer frustração pode enfraquecer o tratamento”, explica. Depois, vem a fase de manutenção. O paciente retoma a vida normal e as consultas com o especialista tornam-se mais espaçadas.

 

 

Remédio reduz necessidade desesperada pela bebida

 

No tratamento do alcoolismo, um novo medicamento vem sendo bastante usado e elogiado pelos médicos brasileiros. Trata-se do ReVia, nome comercial do medicamento, que tem como princípio ativo o cloridrato de naltrexona. O produto foi desenvolvido nos Estados Unidos, e recentemente passou a ser fabricado no Barsil, pelo laboratório Cristália. Com isso, teve seu preço reduzido em cerca de 50%. Enquanto o produto americano era vendido a mais de R$ 500, o ReVia é comercializado a R$ 233,83 a caixa com 30 comprimidos, suficiente para um mês de tratamento.
Segundo Castro, o medicamento era usado desde 1975 em tratamento para viciados em heroína, até que em 1994 foi aprovado nos EUA para tratamento de alcoolismo. O medicamento é prescrito na fase de desintoxicação para reduzir a o desejo de beber. ”Ele diminui a fissura. Atua no sistema de recompensa cerebral, que é responsável pela percepção prazerosa de todos os comportamentos”, resume.
A grande aceitação deve-se ao fato de que até então o principal medicamento utilizado é um aversivo. Ou seja, não diminui a vontade de beber, mas provoca reações violentas no organismo caso a pessoa venha a consumir álcool. O resultado é a baixa adesão e abandono do tratamento pelos pacientes.
Estudos mostram que a naltrexona aumenta de forma significativa a adesão ao tratamento do alcoolismo além de diminuir a possibilidade de recaída. O mecanismo de atuação da naltrexona consegue bloquear os receptores da endorfina, agindo especificamente em uma determinada região do cérebro responsável pelos sintomas prazerosos ou pela euforia decorrente da estimulação desses receptores, de modo que o dependente vai perdendo o desejo de beber.
”Esta é a grande propriedade do remédio, diminuir o craving, como também é chamada a necessidade desesperada pela bebida”, explica o psiquiatra Ronaldo Ramos Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas (Uniap) da Escola Paulista de Medicina (Unifesp).
Segundo o laboratório, a naltrexona age desde o primeiro dia, quatro horas após sua ingestão, e a cada dia bloqueia cada vez mais os sintomas ”euforizantes”. Com o bloqueio dos receptores, o dependente vai perdendo o desejo de beber.