De nada adianta a abertura de novos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) se não houver a qualificação e a valorização dos profissionais que atuam nesta área. Esta é a avaliação de duas importantes personalidades da medicina e também do ministro da Saúde, José Gomes Temporão.
Para o presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), José Maria da Costa Orlando, há uma carência de todos os tipos de profissionais capacitados para trabalhar em UTIs, especialmente nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Ele defende a qualificação de toda a equipe.
“Não adianta a gente sair abrindo terapias intensivas pelo Brasil se não tivermos um contingente de profissionais, e não apenas médicos, todo conjunto de profissionais que compõem a equipe multiprofissional da UTI devidamente capacitados para poder operar esses novos serviços”.
Orlando alerta para o risco de abrir mais leitos sem haver recursos humanos suficientes e qualificados para ativá-los. “Não adianta só por camas e aparelhos e dizer que abriu mais leitos de UTI. Aqueles leitos têm que estar funcionando, absorvendo a demanda. E para isso tem que ter pessoal, não só quantitativo, mas ter gente qualificada para operar um procedimento de alta complexidade, que envolve risco”, explica.
Segundo Orlando, a Amib já se dispôs a apoiar ações e iniciativas do Ministério da Saúde para ampliar a capacitação de profissionais.
A melhora na remuneração e a adoção de um plano de cargos e carreiras para médicos dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) poderiam estimular a formação de novos médicos intensivistas, na avaliação do presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), José Luís Gomes do Amaral. Segundo ele, a remuneração é muito baixa, levando em conta que esses médicos, além dos seis anos de medicina, ainda deve se especializar por pelo menos mais quatro anos para ser intensivista.
“O que realmente faria diferença nesse campo não é aumentar o número de vagas para residência, porque elas vão ficar ociosas. Seria criar uma carreira estratégica na área de saúde e oferecer uma perspectiva de valorização e de carreira compatível com a formação pretendida”, avalia.
Amaral diz que a maior concentração de médicos nas regiões Sul e Sudeste se deve à existência de melhores possibilidades de trabalho na medicina privada. Segundo ele, a única forma de resolver esse problema é a criação de carreira profissional para médicos. “Isto é algo do qual se tem tentado fugir, mas não tem outra forma. Não vai ser por transbordamento que os médicos vão sair de uma região do país e vão para outra”, afirma.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, reconhece o déficit de leitos de UTIs, embora garanta que nos últimos quatro anos foram criados três mil novos leitos. Ele diz que o governo teria condições de credenciar um número maior de leitos em regiões onde há déficit, mas não o faz porque não tem médicos intensivistas suficientes para atender à demanda. Por isso, segundo Temporão, o Ministério da Saúde está trabalhando na formação desses profissionais.
“Estamos trabalhando para qualificar o número de profissionais que possam trabalhar e dar continuidade ao programa de expansão do número de leitos”, afirma o ministro.