E, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ex-esquerdista, discute se o velho e direitista PP de Severino Cavalcanti ganhará algum ministério, a vida aqui no lumpemproletariado continua como em 1976 – quando o desespero era moda. Os pacientes do Sistema Único de Saúde ainda varam madrugadas, enfrentam filas, são desrespeitados por servidores públicos mal pagos, mal treinados, mal-humorados. Pelo menos 16 mil cariocas pobres aguardam cirurgias em hospitais públicos.
São esses mesmos doentes que, a partir do próximo dia 31, terão que desembolsar de 5,8% a 7,4% a mais para comprar medicamentos. São os mesmos que, no posto da Previdência Social da 514 Sul, dormem em filas e são obrigados a aceitar a insensatez de burocratas que distribuem apenas 50 senhas diariamente.
Enquanto a Câmara dos Deputados elevava descaradamente o valor da verba de gabinete em 25%, fazendo que cada parlamentar possa nos custar uns R$ 95 mil por mês, uma pernambucana de oito anos, que necessitava ser internada numa UTI, só conseguia vaga em um hospital (particular) por decisão da Justiça. A menina morreu esta semana, 72 horas depois de ser hospitalizada. Nesse ínterim, o Diário Oficial da União publicava a lista de cortes de gastos no Orçamento – sendo que a tesourada maior foi nos investimentos, não no custeio dessa mesma máquina pública que maltrata os cidadãos.
Enquanto o Banco Central decidia aumentar a taxa de juros, elevando conseqüentemente a dívida do Tesouro, os bancos apareciam numa lista, feita por Procons, de empresas que mais desrespeitam os clientes. No topo do ranking, por sinal, estão as companhias telefônicas e as operadoras de planos de saúde – dois setores que o Estado jura regular por meio de agências.
A sorte é que somos brasileiros – e não desistimos nunca.