Embora os indicadores gerais de saúde no Paraná estejam melhorando ao longo dos anos, o estado ainda não conseguiu erradicar doenças típicas de países pobres. Em 2004, por exemplo, segundo dados do Ministério da Saúde, o Paraná registrou 2,6 mil novos casos de tuberculose e 948 de hanseníase. A taxa de mortalidade infantil do estado está 44% acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 10 mortes por mil nascimentos até um ano de idade. No Paraná, morrem em média 14,4 crianças antes de completar um ano.
Doenças como tuberculose, hanseníase e diarréias (causadoras da mortalidade infantil) costumam afetar sobretudo a população mais carente. “São doenças de pobres”, diz o gerente de relações institucionais da Pastoral da Criança, Clóvis Boufleur. E, segundo ele, devido ao fato de não afetarem diretamente as classes sociais mais abastadas, conscientes de seus direitos, essas doenças muitas vezes acabam sendo negligenciadas pelo poder público.
Boufleur afirma que as enfermidades que afetam todos os segmentos sociais costumam ter mais atenção dos governos. Os remédios para aids, diz ele, são distribuídos a todos que precisam. Mas nem sempre há antibióticos para pneumonia nos postos de saúde. A ampla disponibilidade desse tipo de medicamento, afirma o representante da Pastoral, seria fundamental para uma política de saúde pública. “No Brasil morrem de aids menos de 10% do número de crianças que morrem de pneumonia”, justifica.
Para Boufleur, o futuro governo do estado deve planejar as ações de acordo com as estatísticas de saúde, priorizando os problemas mais urgentes e não aqueles que “dão mais ibope”. Segundo ele, o combate à mortalidade infantil e materna deve ser uma dessas prioridades. E, dentro dessas prioridades, uma área específica do estado deve receber atenção especial: “Na região central do Paraná, há um cinturão de pobreza onde é preciso incrementar o combate da mortalidade infantil e materna”.
A Pastoral da Criança ainda sugere que o futuro governador invista em um programa de melhoria do atendimento da mãe durante e após a gestação. O presidente da Federação dos Hospitais do Paraná (Fehospar), Arthur Leal Neto, propõe que o estado copie o programa Mãe Curitibana, implantado pela prefeitura de Curitiba. “É um programa muito bom”, justifica Leal Neto. Por meio do programa Mãe Curitibana, a mulher é acompanhada durante toda sua gestação e fica sabendo, desde o início, em que hospital dará à luz. Além disso, a mãe e a criança são acompanhadas após o parto.
Número de UTIs precisa crescer 30%
O Paraná precisar aumentar o número de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em 30% para atender à demanda do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo o Ministério Público (MP), em julho o estado tinha 950 UTIs à disposição da rede pública de saúde. Seriam necessários mais 283, diz o promotor Marcelo Maggio, do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Proteção da Saúde Pública.
Há dois meses, o MP ingressou com uma ação civil pública para exigir que o governo do estado providencie, dentro de 10 meses, as UTIs necessárias. Segundo Maggio, embora o Ministério Público tenha pedido tratamento prioritário da Justiça nesse caso, até a semana que passou ainda não havia uma decisão judicial.
Quando o MP ajuizou a ação, a Secretaria Estadual da Saúde havia informado números diferentes a respeito da oferta de UTIs no estado. Segundo a secretaria, o Paraná tinha 1.124 leitos de UTI no mês de julho, dos quais 976 credenciados ao SUS e 148 contratados como reserva técnica. Diante disso, o déficit entre o que o estado tem e o que o MP pede seria de 109 UTIs, e não de 283.
O problema da falta de UTIs no Paraná levou 1.028 pessoas a morrerem esperando um leito de tratamento intensivo entre outubro de 2004 e outubro de 2005. O levantamento, feito com dados da própria Secretaria Estadual da Saúde, foi revelado em reportagem publicada pela Gazeta do Povo em 6 de novembro do ano passado.