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Pesquisa aponta característica física como a grande causadora das lesões do joelho

De acordo com o Professor e Doutor da  Graduação e Pós-Graduação da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), João Ellera Gomes, 60% dos atletas que se dedicam à pratica do futebol e que rompem os ligamentos dos joelhos são indivíduos portadores de problemas ao nível do quadril que os predispõe a lesão.

A constatação desse fato vem de pesquisa realizada no RS, através do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Nesse estudo foram avaliados 100 atletas entre 18 e 35 anos, praticantes regulares do futebol, sendo alguns amadores e outros profissionais. Metade deles eram portadores de lesão recente do ligamento cruzado anterior, enquanto que a outra metade, denominada de grupo controle, foi composta de jogadores sem lesão deste ligamento. Os atletas voluntariamente submeteram-se aos exames clínicos que mensuraram a quantidade de mobilidade rotacional dos quadris que era registrada em graus. A primeira constatação do trabalho foi de que essa amostra de jogadores tinha significativa redução da mobilidade dos quadris em relação à população não praticante. Entretanto, o mais surpreedente foi a comprovação de que entre os atletas que eram portadores de lesão do ligamento cruzado anterior, essa redução atingia à mais de 60% deles, revelando que mobilidade do quadril tem papel crucial na ocorrência desse tipo de evento.

“As diferentes formas das travas das chuteiras tem sido responsabilizadas por esses acidentes. Se um atleta não tiver limitação rotacional ao nível dos quadris, tanto a forma como a profundidade das travas, não será responsável pela incidência do problema. Por outro lado, se o atleta for portador de limitação, as chances de uma lesão vir a ocorrer aumentam perigosamente. Isso porque cada vez que um atleta com essa limitação gira de forma violenta, na tentativa de efetuar um drible, toda quantidade de movimento que ele não tiver no quadril irá obrigatoriamente, por uma questão de física, se transferir para articulação mais próxima, no caso o joelho, impondo-lhe uma sobrecarga rotacional que tende a ser fatal para o ligamento cruzado anterior. Se além da limitação rotacional do quadril, o atleta ainda resolver usar  chuteira com maior aderência ao solo, determinará uma sobrecarga sobre o joelho que atingirá níveis extremamente altos”,  explica o médico.

Segundo João Gomes, a grande importância das recentes descobertas  é que muitas dessas lesões poderão ser evitadas no futuro através da detecção das  limitações na fase infantil ou infanto-juvenil.

“Na maioria dos esportes, fatores visualmente detectáveis como altura são excludentes não sendo necessário um exame clínico mais aprofundado. Quanto ao futebol, algumas das razões que o levaram à popularidade no Brasil foram não só o baixíssimo custo como a mais absoluta falta de um biótipo padronizado, sendo a seleção feita de forma natural através da pratica. Esse tipo de seleção não projeta as possíveis lesões que um atleta possa sofrer no futuro ao participar de esporte para o qual não está indicado do ponto de vista físico”, avalia o especialista.

Conforme João, exercícios específicos para tentar aumentar a mobilidade rotacional dos quadris poderão ajudar, mas não existe confirmação científica que confirme essa hipótese.

Na pesquisa, dos atletas que se submeteram a essa investigação, metade deles tinha  redução da mobilidade dos seus quadris, mas não tinham alterações radiológicas, os chamados “bico de papagaio”, viabilizando a realização de cirurgias com técnicas tradicionais de reconstrução do ligamento cruzado anterior e a posterior recuperação da mobilidade dos quadris através de exercícios de alongamento. Entretanto, a outra metade, já com alterações radiológicas, necessitaria de uma cirurgia de maior porte na altura do joelho de forma a compensar a limitação dos quadris e prevenir as re-lesões”, destaca  o professor.

A pesquisa ainda revela que as alterações radiológicas encontradas nesses atletas não têm relação nem com a idade nem com o tempo de prática do futebol.

O professor adverte que mais importante do que averiguar as características do solo e do gramado, é avaliar as peculiaridades do próprio jogador, que diferem uns dos outros não só pela posição que disputam como também pelas particularidades corporais individuais. “Aqueles que apresentam o problema e não pensam em abandonar os gramados, a melhor opção do ponto de vista preventivo seria uma chuteira com travas curtas e com a forma redonda tradicional. Quanto aos atletas que não tem redução da mobilidade dos quadris,  estes sim, podem se beneficiar de chuteiras com qualquer tipo de trava, até mesmos das travas longitudinais .