Mudar de trabalho, de vida, conquistar novos horizontes e ganhar mais dinheiro é um sonho recorrente. Nos últimos tempos, cada vez mais brasileiros têm conseguido transformar essa meta em realidade. São pessoas que, mesmo tendo feito curso superior e já trabalhando há tempos, resolvem cursar uma segunda faculdade, seja para mudar de profissão, seja para se aperfeiçoar naquela que já exercem. A paulista Renata Hitomi Fukutaki, de 28 anos, decidiu fazer medicina por sugestão dos professores do curso secundário. Formou-se em 2000 e trabalhou um ano como médica, mas acabou desistindo. Neste ano, começou a estudar desenho de moda na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo. “Essa era minha verdadeira vocação, e hoje sou muito mais feliz.”
Renata trocou uma profissão por outra. O mundo profissional, porém, exige cada vez mais a sobreposição de habilidades em diferentes áreas. Esse é um fenômeno novo. Por isso, está ficando menos raro encontrar engenheiros, médicos e advogados que voltam a estudar para adquirir conhecimentos nas áreas de administração e economia. A razão mais comum é a obtenção de um posto de chefia, com a conseqüente necessidade de desenvolver habilidades de gestão. Outra situação que está também se tornando menos incomum é ver economistas e administradores de empresas freqüentando cursos de psicologia. No caso deles, as razões são derivadas da necessidade de aprimoramento profissional, que, por algum motivo, os leva a precisar saber lidar melhor com pessoas e ter mecanismos mais precisos para entender seu comportamento.
O censo mais recente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação, mostra que há cada vez mais gente procurando cursos acadêmicos pela segunda vez. Desde 1999, o número de alunos matriculados em faculdades que se encontram na faixa entre 25 e 34 anos – ou seja, que já possuem uma profissão – aumentou em 114%. O crescimento entre os estudantes com mais de 35 anos foi ainda mais expressivo: 130%. Na base desse fenômeno está, em primeiro lugar, a própria transformação da sociedade. Ao contrário do que ocorria no passado, quando a maioria das pessoas se sentia na obrigação de definir a vida – casar, ter filhos, escolher a profissão – até os 20 e poucos anos, hoje elas estão mais à vontade para tomar decisões tardiamente. “No passado, só se mudava o curso da vida se houvesse algum imprevisto indesejado, como demissão, separação ou morte na família”, diz o administrador de empresas e consultor César Souza, autor do livro O Momento da Sua Virada. “Hoje, homens e mulheres casam-se e têm filhos mais tarde e tomam outras decisões importantes, como mudar de emprego e de cidade, com maior desembaraço.”
A paulistana Adriana Raddi, de 33 anos, é um exemplo típico de quem voltou a estudar para aperfeiçoar-se em uma profissão a que foi levada pelas circunstâncias. Ela se formou em educação física em 1991. Trabalhou como professora de natação por sete anos e depois conseguiu emprego numa clínica de emagrecimento. “Comecei acompanhando as dietas das clientes e, aos poucos, fui me interessando pela massagem e pelos cuidados com o corpo. Decidi então fazer uma faculdade que me ajudasse a crescer nessa área”, conta Adriana, que está no 1º ano de fisioterapia nas Faculdades Metropolitanas Unidas (UniFMU). Já o engenheiro eletrônico Dennis Azevedo de Oliveira, 37 anos, de Niterói, resolveu encarar a faculdade de direito porque, como funcionário da Petrobras, tem de lidar freqüentemente com as intrincadas leis que regem as licitações públicas e a compra de bens e serviços em empresas de economia mista. Além disso, ele acha que, a longo prazo, pode ter melhor remuneração como advogado, já que há mais concursos públicos para essa profissão que para a engenharia. Diz Oliveira: “Não foi fácil estudar e trabalhar ao mesmo tempo. Tive de sacrificar os fins de semana, mas valeu a pena”. Ele é casado e tem dois filhos.
Outros dois fatores contribuíram para atrair os alunos de volta à sala de aula. O primeiro foi o aumento no número de cursos noturnos, que hoje oferecem em todo o país 2 milhões de vagas – mais que o dobro das que existiam dez anos atrás. Com isso, muita gente consegue estudar à noite sem precisar largar o emprego atual. O segundo fator foi a flexibilização dos processos seletivos – em muitas faculdades particulares há mais vagas que candidatos a alunos. Hoje, com boa dose de esforço pessoal, tornou-se mais factível mudar de vida.
A busca do segundo diploma
Cursos mais procurados por estudantes entre 25 e 34 anos que desejam se formar numa nova profissão
1) Administração
2) Direito
3) Pedagogia
4) Ciências contábeis
5) Comunicação social
6) Informática
7) Enfermagem
8) Fisioterapia
9) Turismo
10) Educação Física