Cerca de 3% da população brasileira é portadora de doença mental grave. Isso significa que aproximadamente 5,4 milhões de pessoas precisam de cuidados médicos constantes. Para atendê-las, no entanto, existem 41 mil leitos nos hospitais psiquiátricos do país. “A quantidade é insuficiente para a demanda”, diz o coordenador nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Pedro Delgado.
Segundo ele, em 1996, eram 72,5 mil leitos, e a diminuição da quantidade foi algo proposital. “Muitos hospitais psiquiátricos foram fechados nos últimos 10 anos graças a denúncias de maus tratos e à reorientação no tratamento dos doentes mentais, que passou a privilegiar a terapia não-hospitalar e a convivência comunitária”, explicou, em entrevista hoje (18) à Radiobrás.
Ele informou que, entre 1998 e 2005, o orçamento do governo federal para a área de saúde mental quase dobrou, passando de R$ 442 milhões para R$ 814 milhões.
“Ele representa somente cerca de 2,4% dos recursos totais do SUS [Sistema Único de Saúde], mas vem crescendo”, argumentou. “Antes, a maior parte dessa verba, 92%, ia para internações. Agora, os gastos hospitalares representam 55% dos gastos”.
Delgado disse, ainda, que aproximadamente 21 milhões de pessoas sofrem de transtornos mentais como depressão e ansiedade. “São problemas que podem causar grande sofrimento à pessoa se não forem bem cuidados”.
Doenças mentais e psicossomáticas preocupam a ONU
As doenças mentais e psicossomáticas são motivo de preocupação em todo o mundo. O secretário de Atenção Básica do Ministério da Saúde, José Gomes Temporão, alerta que a Organização das Nações Unidas (ONU) projeta que “em dez, 20 anos, as principais causas de adoecimento serão as doenças mentais, principalmente depressão e uso de drogas”.
Ele explica como o Brasil está se preparando e o que precisa ser feito nos próximos anos para não haver um colapso na área futuramente. Temporão adianta que, no campo da assistência à saúde mental, o Brasil já é “uma referência internacional”.
As políticas brasileiras na área mental têm como foco a des-hospitalização. Ao invés de internar o paciente, privando-o do convívio familiar e aumentando os custos do tratamento, mantê-lo junto à família e à comunidade. De acordo com o secretário, 93% dos gastos públicos com saúde mental eram com internação. Hoje, com a mudança de foco, esse número baixou para 60%.
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) foram criados para o tratamento desses pacientes. Há ainda uma modalidade específica para Álcool e Drogas, chamada CAPS-AD. Neles, sem internação, o paciente é tratado por assistentes sociais, psicólogos e terapias.
As campanhas contra o uso de drogas foram substituídas pelas informativas, que integram a política de redução de danos já que 11% da população adulta brasileira é dependente de álcool e abandonar o uso de drogas é o caso de apenas 30% dos dependentes segundo pesquisas internacionais. Os dados são do Ministério da Saúde.
Para o secretário é preciso “humanizar” o atendimento médico em todas as áreas. Ele explica que a medicina brasileira se espelha na norte-americana, onde os médicos se especializam “precocemente com perda dos fundamentos da clínica médica, como a escuta do paciente, o acolhimento, respeito. A humanização é um componente de qualidade muito importante em qualquer sistema de saúde”. O ministério lançou, neste ano, a Carta de Direitos dos Usuários da Saúde justamente para informar o cidadão sobre os seus direitos ao procurar um serviço médico.
Para o pesquisador do departamento de Ciências Sociais da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), Nilson Rosário da Costa, “é uma mudança cultural em que a sociedade tem que aumentar a sua tolerância. Os novos serviços criados são extremamente valiosos, não anulam a subjetividade do sujeito, é uma revolução. Mais que uma semente, são plantas já brotando flores”.