A crise dos hospitais credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tende a se agravar no próximo ano se o governo federal mantiver a disposição de reajustar o pagamento dos procedimentos médicos em percentuais mínimos. O alerta é do presidente da Federação dos Hospitais do Paraná (Fehospar), José Francisco Schiavon. Segundo ele, as instituições de saúde encontram dificuldades para prestar atendimento de qualidade diante dos baixos valores repassados para cobrir seus custos.
“A correção proposta para a tabela do SUS terá um impacto médio de apenas 4% para os hospitais. É um percentual inferior aos índices de inflação. Se os hospitais já não conseguem atender a demanda nas atuais circunstâncias, o quadro só tende a ficar ainda mais crítico em 2005”, comentou ele, que irá à Brasília hoje para pedir o aumento do percentual de correção. “O caso é mais delicado para os procedimentos ambulatoriais. Há alguns serviços que tendem a desaparecer, como as sessões de fisioterapia, que não têm reajuste há dez anos”.
Segundo Schiavon, desde 1995, o SUS repassa aos hospitais apenas R$ 2,36 por sessão de fisioterapia. “Quando esse valor foi estabelecido, a passagem de ônibus em Curitiba era inferior a R$ 0,30 e o litro da gasolina era vendido por cerca de R$ 0,39. Hoje, para andar de ônibus a pessoa paga R$ 1,90, o litro da gasolina chega a custar R$ 2,20 e o governo continua pagando os mesmos R$ 2,36”, reclamou.
Se o governo federal não aumentar os níveis de reajustes, Schiavon disse que podem se repetir impasses como o registrado em maio deste ano, quando um em cada cinco hospitais públicos do Paraná ameaçavam se descredenciar do SUS. As 80 instituições alegavam dificuldades financeiras decorrentes do congelamento da tabela do SUS, do baixo teto estipulado pelo governo estadual para o repasse de verbas da saúde e de um crédito de R$ 30 milhões que não haviam recebido do estado. Caso isso tivesse acontecido, cerca de 2,4 milhões de procedimentos médicos não seriam mais feitos ou teriam de ser transferidos para outros hospitais e 12 mil leitos do SUS no estado (25% do total) teriam sido desativados.
O presidente da Fehospar disse que a ameaça foi afastada com algumas ações do governo do estado. A crise financeira, entretanto, persiste justamente por conta dos baixos valores pagos pelo SUS garante Schiavon. “Os hospitais têm dificuldades até para atender a demanda e não podem se modernizar, algo que é fundamental quando se trata de medicina.”
Andréa Morais