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Rigor no uso dos recursos na saúde

Durante entrevista exclusiva ao Prontuário de Notícias, Temporão citou alguns dos principais objetivos da sua gestão como zelar pelo rigor no uso dos recursos públicos; qualificar a Atenção Básica como  estratégia central de reordenamento do Sistema; aprofundar os Pactos em Defesa da Vida, do SUS e de Gestão; lutar para que a Saúde possa dispor dos recursos orçamentários necessários à plena realização dos ditames constitucionais; e fortalecer o controle social com uma gestão democrática e participativa no SUS. “Um dos maiores desafios será adotar uma visão integrada interinstitucional, múltipla e interativa que aproxime os espaços da saúde, educação, esportes, cultura, saneamento, segurança e habitação das políticas de inclusão social”, afirma.

Melhorar o Programa Saúde da Família é outro desafio para o ministro.  “Os médicos do Saúde da Família continuam com aquela concepção de ficarem em seus consultórios, pronto-socorros, aguardando a chegada dos pacientes. Mas, na verdade, melhor seria que os médicos fossem ao encontro da sociedade, na casa das pessoas. Esse é um grande desafio”, assegura.

Temporão diz ainda que tem como metas disseminar nacionalmente a Política de Humanização; fortalecer a Política Nacional de Direitos Sexuais e Reprodutivos; instituir a Política Nacional de Atenção à Saúde do Homem; estabelecer novos modelos de gestão que garantam os princípios do SUS e permitam que as instituições de saúde operem em base de maior eficiência e qualidade. “O processo de humanização passa necessariamente pela melhoria da gestão das unidades do SUS, uma das nossas prioridades. Humanizar o atendimento é acolher o paciente com muita atenção, carinho, entendendo que ele, em função de seu problema de saúde, pode estar emocionalmente fragilizado. Além disso, o atendimento humanizado pode até ajudar no sucesso do tratamento. A questão psicológica é fundamental no processo de cura”, argumenta.

De acordo com ele, o Ministério da Saúde já está trabalhando para priorizar a saúde como espaço de produção, desenvolvimento e riqueza. “Enfrentamos hoje um problema sério, que é um déficit da balança comercial de R$ 5 bilhões. Mas não se trata de um problema apenas na Saúde. Temos de criar condições no país para uma forte integração com o Ministério do Desenvolvimento, empresários e órgãos de ciência e tecnologia. Uma das prioridades nesse trabalho é o aumento da cobertura dos agentes comunitários nas grandes cidades. Hoje, temos 260 mil agentes que atuam principalmente em cidades de pequeno porte. E eles têm de estar integrados efetivamente ao sistema público de saúde, servindo de porta de entrada”, ressalta.

Para Temporão, o Brasil gasta pouco em saúde. “Se pegarmos o orçamento do antigo Inamps, em 1983, e trouxermos esse valor corrigido, o Ministério teria de ter um orçamento duas vezes maior do que os atuais R$ 80 bilhões. Hoje, pagamos sete reais por uma consulta. Se pagássemos o mesmo valor de 1983, teríamos de pagar 22 reais. Há um evidente subfinanciamento. No caso do governo federal, nos anos 80, a participação era de 70% dos recursos. Hoje são 50%. Houve uma perda real. Estamos trabalhando com 10% da renda bruta da União e a vinculação com o crescimento do PIB. A idéia é que apresentemos ao presidente uma proposta de crescimento real dos gastos ao longo de quatro anos. Uma estratégia gradualista, mas que possa reverter em aumento significativo de recursos”, explica. 

O ministro aponta a regulamentação da Emenda Constitucional nº29 pelo Congresso Nacional como um progresso para o setor de saúde. Segundo ele, a emenda prevê o valor mínimo de aplicação em saúde pelos gestores da União, estados e municípios, mas não diz quais ações são ou não pertinentes ao setor, o que pode levar os investimentos para outras áreas, dependendo da interpretação do cada administrador. “Sem a definição clara das ações e serviços de Saúde, gastos como saneamento básico, merenda escolar e limpeza urbana continuam sendo incluídos na prestação de contas de estados e municípios. Todos os anos, R$ 5,7 bilhões deixam de ser alocados ao orçamento setorial. O governo já investe 7% da receita em saúde. Em 2007, estamos com o orçamento totalmente empenhado. O governo quer duas coisas: regulamentar a emenda 29 e aprovar a CPMF”, destaca.

Quanto a seu posicionamento no governo, Temporão diz defender um trabalho intersetorial, envolvendo o Ministério da Saúde e outras pastas relacionadas diretamente à melhoria de vida da população. Para ele, saúde é uma produção social e não está restrita ao ambiente da assistência. “Saúde é resultado de investimentos em educação, saneamento básico, emprego, salário e outros fatores importantes”, diz.

Como exemplo desta atuação do Ministério da Saúde, ele cita duas parcerias. A primeira com o Ministério da Educação voltada à prevenção das doenças sexualmente transmissíveis e a aids e também prevenção da gravidez indesejada, envolvendo os ministérios, pais, professores e alunos e que, segundo ele, tem acumulado bons resultados. Outra parceria é com o Ministério da Ciência e Tecnologia e envolve o financiamento de pesquisas sobre o uso de células-tronco no tratamento de cardiopatias.

Quando questionado sobre a atuação do governo na coibição ao abuso dos planos de saúde, o ministro diz que esta é uma equação difícil. “As empresas gritam dizendo que o reajuste que a gente dá não cobre a variação dos custos do setor, e os consumidores reclamam que está muito acima da inflação. O setor deve discutir por que os custos sobem acima da inflação. Mas acertei com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que, para 2008, vamos criar um grupo para refinar melhor essa apropriação dos custos, para darmos uma resposta mais consistente à sociedade”, revela.

Sobre a proposta da criação do Código Nacional da Saúde, Temporão acha a iniciativa bem-vinda e se diz favorável à edição de uma Lei de Responsabilidade Social, que incluiria as áreas da Educação, Saúde e Seguridade. “Os agentes públicos devem ser obrigados a empregar bem os recursos financeiros. É preciso ter a certeza de que os recursos públicos estão sendo bem empregados e que as coisas estão acontecendo na ponta”, observa.

Para finalizar, perguntamos ao ministro sobre dois fatos polêmicos da sua gestão. A discussão em torno da descriminalização do aborto e a adoção do Regime de Fundação Estatal de Direito Privado para os hospitais públicos.

Com relação ao aborto, Temporão afirma que não escolheu o tema, mas sim o contrário e mantém a opinião de que trata-se de um  problema de saúde pública. ”Fui procurado por um jornal do Rio de Janeiro que queria saber minha opinião sobre o aborto. Então, respondi que o aborto é um problema de saúde pública que deveria ser discutido. A partir daí, a discussão tomou conta do país. Não podemos virar as costas para um problema de saúde pública que põe em risco a vida de milhares de mulheres que buscam fazer o aborto de forma clandestina sem as mínimas condições de segurança”, declara.

Quanto ao Projeto de Lei das Fundações Estatais de Direito Privado, o ministro diz que será criado um novo modelo jurídico para os hospitais públicos. “É uma figura jurídica que permite ao hospital operar com padrão de gerenciamento superior ao atual. É profissionalizar a gestão, torná-la menos burocrática”, conclui.