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Sanguessugas, insaciáveis, pediam de tudo

            Além dos acordos para recebimento de propina em dinheiro, em seu depoimento o empresário Luiz Antônio Vedoin disse que deputados e senadores faziam aos donos da Planam pedidos de ajuda para campanha, compra de passagens internacionais para parentes e presentes como ônibus, carros de luxo, aparelhos de ultra-som e até uma prosaica máquina de café para um gabinete. A maioria dos deputados acusados por Vedoin, porém, nega as denúncias. Mas todos os nomes citados foram incluídos nas listas divulgadas pela CPI.

 

            Para agradar aos principais envolvidos no Congresso, os empresários da Planam compraram uma frota de veículos. Os carros entregues aos parlamentares seriam utilizados na maioria das vezes em campanhas políticas.

 

 

Depoimento sobre petebista enche três páginas

 

            O caso que mais chama a atenção é do deputado Ricarte de Freitas (PTB-MT), que no início do escândalo alegou que, numa conversa gravada pela Polícia Federal com os donos da Planam, sua voz fora confundida com a do deputado Lino Rossi (PTB-MT), outro suposto integrante do esquema no Congresso.

 

            Ao falar de Ricarte, o depoimento de Vedoin enche três páginas. Ele disse que o acordo para as propinas fora fechado em 10% do valor das emendas, mas ele exigiu um aumento para 15% por tratar-se de véspera de eleição.

 

            Além do recebimento de vários repasses, que totalizam cerca de R$ 650 mil, segundo Vedoin, em propinas, Ricarte teria pedido de presente um carro. A Planam deu a ele um Fiat Ducato que, adaptado, atingiu o valor de R$ 72 mil. Mas Ricarte usou o carro por algum tempo e não gostou. "Passados alguns meses o parlamentar devolveu o veículo ao interrogando porque este pulava muito. Em troca adquiriu um veículo Hillux SW 4, na cor preta, da revendedora Maranelo, no valor de R$75 mil", disse Vedoin em seu depoimento.

 

            Não parou por aí. Ricarte pediu e recebeu, segundo Vedoin, dinheiro para compra de quatro passagens aéreas para sua filha com destino a Nova York. Ele disse que Darci Vedoin, seu pai, deu três cheques, no valor de R$ 3.272, para pagar as passagens.

 

            O deputado Lino Rossi (licenciado) recebeu dos Vedoin um Fiat Ducato e uma carreta no valor de R$ 104 mil. Segundo Vedoin, o carro foi repassado ao senador Magno Malta (PTB-ES), que o teria usado por cerca de um ano para carregar sua banda de música gospel Tempero do Mundo. O deputado Jefferson Campos (PTB-SP), segundo Vedoin, recebeu um ônibus equipado com consultório médico.

 

            Já o deputado falecido José Carlos Martinez (PTB-PR), disse Vedoin, tinha despesas pessoais custeadas por ele. Isso incluía desde o pagamento de festas e camisetas para campanha até uma máquina de café para seu gabinete na Câmara dos Deputados.

 

Microônibus com palco para campanha eleitoral

 

            O ex-deputado Múcio de Sá, ainda de acordo com o documento, teria recebido como pagamento dinheiro para pagar uma parcela de R$ 20 mil da compra de um Vectra. O deputado Coriolano Sales (PFL-BA) teria recebido da Planam o pagamento de metade de uma máquina de impressão de jornal, no valor de R$ 120 mil, usada em sua campanha eleitoral, também disse Vedoin.

 

            Segundo Vedoin, o deputado Pastor Amarildo (PSC-TO) recebeu de presente um microônibus com palco adaptado para campanha eleitoral, no valor de R$ 40 mil. O paulista Neuton Lima (PTB-SP), um ônibus no valor de R$ 67 mil. Também para usar em sua campanha, o deputado Fernando Gonçalves (PTB-RJ) recebeu um ônibus medico odontológico, que, segundo Vedoin, teria custado R$ 54 mil.

 

            Já o ex-líder do PP Pedro Henry (MT), que escapou da cassação por envolvimento no esquema do mensalão, de acordo com o empresário, recebeu, além de repasses do esquema sanguessugas, uma Blazer zero quilômetro, prata, no valor de R$ 48 mil.

 

 

 

Situação de Suassuna, Malta e Serys piora

 

 

 

            Já notificados pela CPI dos Sanguessugas, a situação dos senadores Ney Suassuna (PB), líder do PMDB no Senado, Serys Slhessarenko (PT-MT) e Magno Malta (PTB-ES) se complicou muito com o detalhado depoimento do empresário Luiz Antonio Vedoin à Justiça Federal e ao Ministério Público. Vedoin encheu duas páginas de depoimento com informações sobre eles.

 

            O empresário contou que, a partir de 2005, passou a ter contato com o gabinete de Suassuna e, entre fevereiro e dezembro daquele ano, fez 14 repasses de cerca de R$ 200 mil pelo direcionamento de uma emenda do senador no valor de R$ 2 milhões.

 

            Vedoin disse que conseguiu sucesso em licitações na Paraíba graças a acordo politico de Suassuna com o ex-ministro da Saúde Saraiva Felipe. "(… ) Que através de um acordo político entre o parlamentar e o ministro da Saúde, o parlamentar conseguiu cerca de R$ 1,6 milhão, recurso de origem extra-orçamentária para beneficiar 20 municípios do estado da Paraíba, com aquisição de unidades móveis de saúde", diz o depoimento de Vedoin à Justiça Federal.

 

Pagamentos em espécie a assessor de Suassuna

 

            Para o pagamento, o empresário se encontrou com o assessor Marcelo Carvalho uma vez na churrascaria Porcão e outra vez no Hotel Meliá, ambos em Brasília, onde Vedoin mantinha um apartamento para realizar seus acertos e reuniões. Os pagamentos a Marcelo eram feitos, na maioria das vezes, em espécie, segundo Vedoin. "Que a referência ao final do documento ‘empréstimo’, quer dizer que já estaria antecipando mais recursos do que efetivamente já tinham sido licitados", diz o depoimento de Luiz Antonio Vedoin em relação a vários repasses feitos em espécie para o assessor de Ney Suassuna, uma das vezes, no gabinete do deputado Wellington Roberto (PTB-PB).

 

            "Que os pagamentos acima se deram para que o interrogando tivesse privilégio de participar das licitações direcionadas; que durante o ano de 2005 participou em 12 municípios do estado da Paraíba", diz Vedoin no texto reproduzido pela Justiça, ressaltando que em outras 13 licitações, sete não se efetivaram "por falta de acordo politico entre o parlamentar ( Ney Suassuna) e os municípios", segundo Vedoin.

 

Genro de Serys teria pedido dinheiro para pagar conta

 

            Em relação à senadora petista Serys, Vedoin disse que conheceu seu genro Paulo Roberto, que possui uma construtora na cidade de Pontes e Lacerda, em Mato Grosso, e que passou a freqüentar a sede da Planam nos meses de setembro e outubro de 2003, em Cuiabá. Nessas visitas, Paulo Roberto disse que estava precisando de R$ 35 mil para pagar uma conta de campanha da senadora.

 

            O dinheiro foi dado mediante acordo para que a senadora apresentasse uma emenda genérica, em 2004, no valor superior a R$1 milhão para municípios de Mato Grosso, para aquisição de unidades móveis de saúde.

 

            "A promessa de emenda superior a R$ 1 milhão não se concretizou, tendo sido realizada uma emenda no valor de R$ 700 mil. O valor restante seria compensado no exercício seguinte", conta Vedoin no depoimento.

 

            O depoimento ainda faz referência aos pagamentos feitos ao ex-senador e ex-presidente do INSS Carlos Bezerra (PMDB-MT) e à sua mulher, deputada Teté Bezerra (PMDB-MT).

 

 

 

‘Câmara será responsável’, diz Aldo

 

 

 

            O presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), disse ontem que o Legislativo vai "cumprir suas responsabilidades" em relação aos parlamentares suspeitos de envolvimento com a máfia dos sanguessugas. Mas não disse a punição que espera ver aplicada aos deputados.

 

            Ao ser perguntado se a Câmara tinha estrutura para julgar tantos deputados envolvidos nas irregularidades, Aldo disse que é preciso esperar pelo prosseguimento dos trabalhos da CPI dos Sanguessugas:

 

            – A Câmara tem que esperar o fim da apuração da CPI, com o encaminhamento dos nomes que a comissão julgue que devam receber o tratamento da Mesa Diretora e do Conselho de Ética. A Câmara tem que arcar com a responsabilidade de cumprir as suas obrigações constitucionais e regimentais.

 

            Dos 513 deputados, 87 foram incluídos na lista dos investigados pela CPI, além de três dos 81 senadores.