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Secretário-executivo da Saúde pede demissão

O secretário-executivo do Ministério da Saúde, o médico sanitarista Gastão Wagner, pediu ontem demissão do cargo por divergências na condução das ações da pasta com o ministro Humberto Costa. Wagner ocupava o segundo cargo mais importante do ministério e assumia interinamente o posto principal quando o ministro se ausentava.

Wagner afirmou ao GLOBO que saiu do governo por coerência com seus princípios. Ele informou que vai retornar a Campinas (SP), onde reassumirá o cargo de professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Campinas (Unicamp).

– Saio por uma série de divergências com o ministro sobre políticas de saúde, como a condução do Sistema Único de Saúde (SUS). Não consegui resolver essas diferenças, não consegui compor. E, como há hierarquia no ministério, tenho que me retirar. Por coerência, não consigo ceder. E essas diferenças ultrapassaram os limites das minhas convicções. Não faz mais sentido trabalhar no governo – disse Gastão Wagner.

Wagner afirmou ainda que sua relação com o ministro Humberto Costa estava desgastada há muito tempo. Segundo Wagner, os dois não se reuniam há cinco meses.

– Chegamos juntos à conclusão de que estava impossível trabalharmos juntos. Era muito desconforto – explicou.

Divergências até no momento da exoneração

BRASÍLIA. O ministro Humberto Costa e seu ex-secretário-executivo Gastão Wagner divergiram até mesmo no momento da exoneração. Na nota divulgada ontem à tarde, o Ministério da Saúde anunciava que, “em reconhecimento ao serviço prestado pelo sanitarista”, Costa convidara Gastão a assumir a representação brasileira no conselho executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS). Wagner, no entanto, recusou o convite.

– Se não posso trabalhar na secretaria, não posso representar o governo em cargo algum – disse Wagner.

Na nota, o ministério confirma a exoneração do secretário-executivo e atribui sua saída à “readequação do papel da secretaria executiva e a visões diferenciadas sobre o encaminhamento desse processo”. O chefe de gabinete do ministro, Antônio Alves de Souza, assume interinamente a vaga de Wagner. A exoneração do atual secretário e a nomeação do interino serão publicadas hoje no Diário Oficial.

Ex-secretário-executivo é ligado a movimentos sociais

Wagner disse que tinha um conjunto de divergências com Costa. Ele afirmou que seu estilo era diferente do adotado pelo ministro e se define como um militante da saúde. O ex-secretário-executivo sempre atuou próximo dos movimentos sociais.

Wagner não é o primeiro assessor de relevância que o ministro perde desde que assumiu o cargo. A Operação Vampiro, deflagrada pela Polícia Federal, em maio deste ano, derrubou outros importantes assessores de Costa, supostamente ligados a um esquema de fraudes em licitações, entre elas a de compra de hemoderivados.

Depois de deflagrada a operação da PF, Costa teve que exonerar a maior parte dos integrantes da Coordenação Geral de Logística. O setor concentra todas as compras do ministério. Gravações feitas pela PF mostraram que havia um esquema para beneficiar lobistas e as empresas que eles representavam junto ao ministério.

Wagner coordenou implantação do SUS

Wagner foi secretário municipal de Saúde de Campinas (SP) e coordenou a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade. Ele é professor titular do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Unicamp. Publicou livros sobre o projeto Paidéia, sobre política de saúde e sobre gestão. Sua produção acadêmica soma mais de dez artigos internacionais e outra dezena de publicações em revistas nacionais.

Este ano, o ex-secretário-executivo foi o ganhador do Prêmio Opas Administração 2004, concedido pela Organização Pan-Americana da Saúde, a mais antiga organização de saúde do mundo. A organização conferiu o prêmio anual pela sua “excepcional contribuição para a transformação do modelo de atenção de saúde mediante o aperfeiçoamento de um método de gestão que fomentou a democratização dos serviços, fortalecendo os vínculos entre os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil”. (Evandro Éboli) .