Há pelo menos três décadas, a economia mundial vem passando por transformações marcadas pela crescente expansão do setor de serviços, muitas vezes em estreita ligação com atividades agropecuárias e industriais. Entre as explicações evidentes estão o aumento populacional, a urbanização, a melhoria do padrão de vida das pessoas, o aumento das necessidades sociais e o surgimento de novas tecnologias, principalmente a da informação que, amenizando o impacto da mecanização no trabalho, passou a exigir mais e mais mão-de-obra humana, configurando um novo modo de produção. Os serviços revalorizam enfim o labor humano, justo em uma encruzilhada da história em que as máquinas e a automação ameaçavam criar um certo domínio no universo do trabalho.
A participação do setor, no bolo do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, já foi bem menor, no entanto, avançando aos poucos e, de acordo com os números do último trimestre, chega a 65,5% contra 28,8% da indústria e 5,6% da agricultura. A soma de todas as riquezas produzidas no país, de janeiro a março, segundo o IBGE, alcançou o valor de R$ 511 bilhões, com crescimento médio de 4,3%. A agropecuária entrou com R$ 28,7 bilhões, a indústria com R$ 147,6 bilhões e os serviços, R$ 334,7 bilhões. Setorialmente, os serviços cresceram 4,6%, a indústria 3% e a agropecuária 2,1%.
Embora o governo comemore o resultado, fortalecendo a confiança de alcançar a meta anual de 4,5%, o percentual de 4,3% não é tão expressivo assim. Convém lembrar que o PIB vem sendo calculado pela nova metodologia do IBGE, que revisou os índices dos últimos anos, elevando a maioria deles: o de 2006, por exemplo, saltou de 2,9% para 3,7%. A economia mundial vem crescendo na média de 4% e os países emergentes com taxas bem superiores, a China chegando perto de 10%. Além disso, os nossos agentes econômicos, nesse primeiro ano do segundo governo Lula, estão animados com as perspectivas criadas sobretudo pela Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas e pelo Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC.
Em resumo, nosso PIB poderia ser mais convincente e os serviços, em particular, oferecerem uma contribuição bem mais expressiva, não fosse a postura contraditória do governo que, inexplicavelmente, tem mantido o setor andando com o freio de mão puxado, com excesso de tributos e exigências fiscais. Em 2003, as empresas de serviço sofreram um aumento absurdo da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido de 12% para 32%; e, como se não bastasse, quase tiveram a mesma base de cálculo elevada de 32% para 40%, conforme proposta indecorosa da Medida Provisória 232, felizmente rechaçada pela sociedade e abortada.
Se, diretamente, os serviços geram mais emprego, hoje, oferecendo respostas imediatas aos problemas sociais decorrentes da baixa renda e da desigualdade da renda, por que não incentivá-los? Para dar um exemplo, o setor aéreo em crise é uma das muitas áreas com grande potencial de desenvolvimento, em sintonia com o turismo e serviços afins.
Por fim, é oportuno lembrar que, sem deixar no limbo as atividades agrícolas e industriais, o setor de serviços já registra uma participação de mais de 75% na economia americana, e, na Inglaterra, responde por mais de 70% dos postos de trabalho.
Maurício Fernando Cunha Smijtink é contador, empresário da contabilidade e presidente do CRCPR