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Vídeo conta drama de jovem grávida

            Será lançado nessa terça-feira (22/11), em Porto Alegre, o documentário "Habeas Corpus", de Débora Diniz e Ramon Navarro, história real de que quase nunca se fala, mas está por trás da discussão teórica sobre o aborto de fetos inviáveis à vida.

            Em 19 minutos, "Habeas Corpus" mostra o sofrimento de uma jovem de 19 anos identificada só por Tatielle, grávida de um feto inviável para a vida; que obtém na Justiça autorização para abortar; que é expulsa do hospital por força de um habeas corpus concedido em favor do feto, até dar à luz Giovana, no dia 17 de outubro último, que morre minutos depois.

            A inviabilidade do feto era consenso médico -tinha atrofia no cordão umbilical. Com isso, a cavidade abdominal não se fechou e os órgãos ficaram expostos. O pulmão, de tão atrofiado, poderia explodir na primeira inspiração.

            Com a autorização, Tatielle saiu de sua cidade, Morrinhos (GO), e foi para Goiânia. Com cinco dias de internação, chegou o habeas corpus a partir de pedido feito por um padre arquiinimigo do aborto, Luiz Carlos Lodi da Cruz.

            Sem saber como proceder, os médicos expulsaram Tatielle do hospital e ela voltou a Morrinhos. Já tinha perda abundante de sangue, fortes dores e febre, que os médicos negavam-se a tratar com remédios, para ninguém achar que tinham induzido um aborto.

            "Tatielle virou uma bomba ambulante", diz a diretora Debora Diniz, que acompanhou o desamparo da gestante -a família não tinha recursos para tratamento privado. Foram cinco dias de agonia até o corpo de Tatielle dar à luz o bebê e minutos até a morte. A jovem quis ver o corpo, o que não é mostrado no documentário. "Era monstruoso", diz a diretora.

            No fim, para sublinhar a loucura burocrática, o enterro não podia acontecer porque o bebê não tinha certidão de nascimento e o cartório estava fechado.

            Em nenhum momento o padre aparece no vídeo. Ele não conversou uma só vez com a família, não procurou nenhum representante dela. "Mais de dez vezes tentamos falar com o padre Lodi. Ele negou-se sempre", conta Diniz.

 

 

Padre recomenda que a gestante cante para o filho

 

 

DA REPORTAGEM LOCAL

 

 

            "Curta a gravidez, curta seu filho, converse com ele, cante para ele." É o conselho do padre Luiz Carlos Lodi da Cruz às gestantes de fetos inviáveis à vida. O padre Lodi, mais aguerrido representante da Igreja Católica na causa antiaborto, explicou por telefone à Folha seu ponto de vista: "O que se chama de feto inviável à vida é um ser que tem uma doença gravíssima. Em vez de ser assassinado por um aborto, ele tem de ser acarinhado. Está provado que as ondas sonoras se propagam no interior do corpo da mulher mais velozmente do que no ar. Se a mãe cantar para esse serzinho, ele ouvirá."

            Lembra-se do caso de Tatielle? "Não. Já pedi a concessão de um sem-número de habeas corpus em casos como esse. E vou continuar pedindo." No caso da jovem, o pedido -urgente- foi escrito a mão.

            Dirigente da Pró-Vida, Anápolis (GO), o padre é o terror das feministas. Desde que a Justiça começou a autorizar interrupções de gestação em caso de má-formação fetal, o padre Lodi, engenheiro de formação, vem estudando direito. "É preciso combater usando as próprias armas dos adversários."

            Inspirada na americana Pro-Life, a mais combativa adversária do aborto legalizado, a Pró-Vida acolhe jovens grávidas vítimas de estupro. "Cuidamos delas em toda a gestação, parto e puerpério. Nenhuma quis entregar o filho para adoção."

            "Minha inspiração é Nossa Senhora, a mãe de Deus", diz. "Ela, mais que qualquer jovem, teve uma gravidez inesperada -a mais inesperada de todas. E nunca pensou em matar o filho que levava no ventre." (LC)