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Gastos com saúde comprometem 19% do orçamento do brasileiro

No orçamento do brasileiro, 19% são gastos com saúde, segundo a pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, um valor dez pontos percentuais acima das despesas com educação. Do total dos gastos com saúde, os remédios respondem pelo maior índice: 32%, seguidos pelo plano de saúde, com 25%. Na divisão por faixa de renda, porém, os brasileiros mais pobres, que na pesquisa são identificados como proprietários de até três bens, gastam 61% com medicamentos, o maior índice das despesas de saúde. Quem tem mais de oito bens gasta 39% com planos de saúde e apenas 21% com medicamentos.

Para a coordenadora da pesquisa, Célia Szwarcwald, o dado da despesa com remédios é preocupante:

– Os números da pesquisa mostram que o percentual de gastos com medicamentos é enorme, principalmente na classe mais carente.

Sem dinheiro para doenças incapacitantes

Também espantoso é o índice de brasileiros que venderam objetos ou pegaram empréstimo para pagar as despesas de saúde: 9,1%, sendo que o maior percentual, por classe socioeconômica, é de 11,1% das pessoas que são donas de até três bens. Um desdobramento deste tópico está na verificação do percentual de pessoas que disseram ter doença de longa duração ou incapacidade ou limitação resultante dessa doença: 15,6% dos entrevistados disseram que precisaram de empréstimo ou de venda de objetos para pagar a despesa.

Um quinto da população paga planos

A distribuição por categoria de atendimento – Sistema Único de Saúde (SUS), plano de servidor público, plano de saúde privado e atendimento público e privado simultaneamente – demonstra que 74,2% dos entrevistados estão no SUS, contra 21,2% em planos particulares, 2,4% em particulares e público e 2,2% nos planos dos servidores. Entre os entrevistados com até três bens, 3,8% conseguem pagar um plano de saúde, enquanto o resto é atendido pelo SUS.

Quanto maior o gasto, maior é a insatisfação. Entre os que gastam até R$ 50 com saúde, 52,5% se dizem insatisfeitos, contra 71,8% de insatisfação entre os que pagam R$ 500 ou mais. Entre os que pagam mais de R$ 200, 77,5% estão insatisfeitos.

– Eles talvez se sintam injustiçados por estarem pagando muito caro pelos planos de saúde – diz a coordenadora da pesquisa.

‘O que mais chama atenção é a solidão’

Adauri Antunes Barbosa

SÃO PAULO. Entre os 9% dos brasileiros que dizem ter a saúde ruim ou muito ruim, a maioria afirma ter problemas relacionados ao estado de ânimo, como depressão e ansiedade. Em São Paulo, a maior parte das pessoas atendidas pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) está deprimida por estarem sozinhas, não terem com quem conversar e sofrer por causa de perdas variadas, desde a morte de um filho, do marido ou o fim de um casamento até a perda do emprego, por exemplo.

– O que mais chama a atenção é a solidão das pessoas que nos ligam. A solidão é um problema crônico. Quase todos dizem: “Não tenho com quem conversar”, “ninguém me dá atenção” – conta um atendente voluntário do centro em São Paulo.

Segundo o voluntário, as pessoas que ligam para o CVV geralmente conseguem ter um controle maior enquanto conversam.

– Não fazemos perguntas. Nós ouvimos. Às vezes, quando solicitados, damos algum conselho. Mas, no geral, as pessoas só querem falar, desabafar um pouco – contou o voluntário.

Advogada teve depressão depois da morte do noivo

Depois que seu noivo foi assassinado em São Paulo, em 2002, a advogada Patrícia Pinesi, de 29 anos, passou por uma crise depressiva que durou sete meses, tempo que ficou quase sem sair de casa. – Morria de medo de sair de casa. Só dormia tomando calmantes. Não tinha vontade de viver mais. Dei uma afundada muito grande. Até hoje não sei como tive forças para sair dessa – disse Patrícia.

A advogada diz que conseguiu se recuperar tomando calmantes leves, remédios sem tarja preta e vendidos sem receita médica mas, principalmente, acredita ela, porque passou a freqüentar um centro espírita:

– Depois de quatro, cinco, seis meses, eu só saía de casa se alguém fosse comigo. Precisava ir a audiências, ao fórum, e meu pai tinha que ir comigo. Foi muito difícil retornar a viver normalmente.

No CVV, a maioria das pessoas atendidas toma remédios antidepressivos.

Um dos principais focos do Centro de Valorização da Vida é a prevenção de suicídios. Os atendentes passam por cursos de formação para que possam perceber sinais de risco de suicídio.

– A pessoa que liga nunca diz que vai se suicidar. Mas emite alguns sinais. Por exemplo, diz que está cansada de viver, que não tem mais nada de interessante para fazer na vida e que conhece alguém que já se matou – contou o voluntário.

O CVV tem hoje 48 postos em todo o país, nos quais cerca de 2.500 voluntários atendem chamadas telefônicas de pessoas que querem ajuda.