Em outubro de 1984, nascia Ana Paula Caldeira, na cidade de São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. Seria mais um nascimento como tantos outros, se não fosse pelo fato de que a garota representa um marco na medicina brasileira. Ana Paula foi o primeiro bebê de proveta nascido no Brasil.
Nesses últimos 20 anos, as técnicas de reprodução assistida avançaram muito. Vários procedimentos deixaram de ser invasivos e as taxas de sucesso aumentaram significativamente.
O primeiro bebê de proveta brasileiro nasceu apenas seis anos após Louise Brown, o primeiro do mundo, o que mostra que, no início, o Brasil esteve no encalço do que era descoberto na Europa e nos Estados Unidos. Hoje, o País tornou-se referência na área, atendendo pacientes até do exterior.
“O Brasil está equiparado com os grandes centros mundiais de reprodução humana, apresentando, muitas vezes, índices de sucesso superiores aos obtidos no exterior”, afirma dr. Arnaldo Cambiaghi, especialista em Reprodução Humana, do Centro de Reprodução Humana do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia).
AprimoramentoSegundo o especialista, a fertilização in vitro, foi uma das técnicas que mais avançou. Não só o procedimento em si foi aprimorado, como técnicas auxiliares foram criadas para aumentar as taxas de gravidez e a qualidade dos embriões implantados.
É o caso do Diagnóstico Genético Pré-Implantacional, desenvolvido em 1994, onde é possível detectar se o futuro bebê poderá apresentar problemas cromossômicos, como a síndrome de Down, por exemplo. “Esse exame possibilita que mulheres com mais de 40 anos possam desenvolver gestações mais seguras e com bebês mais saudáveis”, enfatiza dr. Arnaldo.
Além disso, o número de casais que se submetem à fertilização está aumentando cada vez mais, em função de vários fatores. Um deles é o crescimento de novas uniões entre pessoas separadas, muitos homens e mulheres, que já foram submetidos a cirurgias de esterilização, estão recorrendo à fertilização in vitro para ter filhos com o novo parceiro. “A tendência é que os avanços tecnológicos dos tratamentos aumentem ainda mais o número de casais tratados com sucesso”, afirma o especialista.
Em Curitiba, onde nasceu o primeiro bebê de proveta do Brasil, o professor da Universidade Federal do Paraná, Karam Abou Saab, associa equipamentos sofisticados com menos medicamentos e exames. Ele pratica, há dois anos, a fertilização in vitro simplificada, com bons resultados, com redução de riscos, estresse para as pacientes e custo em todos os procedimentos.
Segundo o médico, aquele método diminui a incidência de nascimento de gêmeos e embriões congelados já que, nele, é produzido a metade do número de óvulos (e de um a três embriões), obtendo a redução de mais de 50% na incidência de nascimento de gêmeos.
Apesar da sofisticação da técnica, a fertilização in vitro, segundo o médico, é um procedimento muito mais seguro e simples do que se pensa. “Problemas como sofrimento, alto custo, complexidade e excesso de gemelaridade são fatores praticamente solucionados em nosso trabalho. O importante é não demorar para procurar tratamento”, revela o dr. Karam.
Como funcionaA fertilização in vitro é feita com a retirada do óvulo da mulher por meio de uma punção transvaginal (monitorada com aparelhos). Este óvulo será fertilizado com o espermatozóide do marido, em uma estufa.
Dois a cinco dias após este processo, o óvulo transformado em embrião é transferido para o útero da mãe, também por via vaginal. Os dois procedimentos levam cerca de meia hora, são realizados em clínica com anestesia local (só na retirada do óvulo) e sedativo leve. Esta fertilização pode ser feita a cada ciclo da mulher.