O mal dos poetas do século 19 ainda é uma preocupação para o Brasil. O país está entre as 22 nações com a maior incidência de tuberculose no mundo. A cada ano são registrados 85 mil novos casos no Brasil e, anualmente, 6 mil pessoas morrem vítimas da doença. O Ministério da Saúde (MS) reconhece o desafio e se uniu com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), a Fundação Ataulpho Paiva e a Pastoral da Criança em uma iniciativa para combater a doença. Ontem, foi lançada uma campanha nacional de rádio e TV para esclarecer a população sobre o mal.
O secretário de Vigilância em Saúde do MS, Jarbas Barbosa, ressaltou que os indicadores de hoje são favoráveis, comparados a algumas décadas atrás, mas destacou características da doença que não permitem ao país ser otimista em relação ao futuro. "O efeito protetor da vacina BCG cessa a partir dos 18 anos. Seis meses de tratamento é um período longo e, desde a década de 90, temos a associação da tuberculose com o vírus HIV", destacou. Segundo Barbosa, a tuberculose reemergiu, a partir da década de 80, em muitos países e passou a apresentar tendência de incidência crescente.
Homens entre 20 e 50 anos estão no perfil típico de portadores do bacilo transmissor da doença no Brasil, sendo que 80% são analfabetos ou têm o primeiro grau incompleto. Os outros 20% possuem pelo menos o primeiro grau completo. Grande parte dos doentes no Brasil estão nas capitais e regiões metropolitanas. Mais de dois terços de casos se concentram nos 315 maiores municípios. "Mesmo em Porto Alegre que tem uma qualidade de vida melhor do que a maioria das cidades brasileiras, a tuberculose é um problema de saúde publica."
Até ontem, 42 emissoras de rádio e TV se engajaram na campanha. A veiculação começa em abril. O secretário acredita que a mobilização da mídia vai ajudar a aumentar a taxa de detecção da doença e fazer com que as pessoas procurem e terminem o tratamento. "É comum o paciente melhorar em dois meses e abandonar o tratamento achando que está curado. A tuberculose piora e essas pessoas voltam a ser um ponto de contaminação de outras", diz.
Nos próximos cinco anos, o Brasil vai receber do Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária US$ 27 milhões para combater à tuberculose. Desse total, US$ 11 milhões já foram autorizados para serem gastos este ano e em 2007. A primeira parcela corresponde a um quarto do valor disponível e será liberada em junho.
"A doença é um problema de saúde ainda a ser enfrentado pelo Brasil", destacou Horácio Toro, representante da Organização Mundial da Saúde e Organização Pan Americana da Saúde no Brasil. De acordo com o presidente da Fundação Ataulpho Paiva, Germano Gerhardt, 6% dos infectados nas capitais brasileiras não sabem que têm a doença.
Para o diretor do programa de saúde da Usaid no Brasil, Michael Burkley, os recursos destinados são resultado do trabalho do país no combate à tuberculose. Em 2004 e 2005, o governo lançou a campanha de prevenção com a participação do ator Pedro Cardoso.