contato@sindipar.com.br (41) 3254-1772 seg a sex - 8h - 12h e 14h as 18h

Redução de estômago atrai jovens nos EUA

 

            No feriado de Ação de Graças, comemorado na última quinta de novembro, Kenneth Hinckley fez um pedido que deseja ver realizado antes deste Natal: emagrecer. Aos 17 anos, 1,88m e 180 kg, ele está na fila para cirurgia de redução de estômago do Centro de Obesidade Adolescente do Hospital Presbiteriano Morgan Stanley, em Nova York.

 

            A recente autorização da FDA (a agência reguladora de saúde dos EUA) para a chamada cirurgia bariátrica em jovens provocou uma corrida de pacientes menores de 18 anos candidatos ao procedimento.             Só no Morgan Stanley, o primeiro hospital americano a abrir um centro específico para esse tratamento, 40 adolescentes estão no programa preparatório de dieta e devem se submeter à operação até março. Por dia, são 12 novos pedidos de todo o país, a maioria rejeitado por uma junta médica, que avalia as condições psicológicas, nutricionais, pediátricas e a capacidade de emagrecimento dos pacientes.

 

            Embora apenas três hospitais tenham licença para o programa, outras clínicas fazem a cirurgia clandestinamente, tamanha a demanda e o lucro. Preço inicial (que varia de acordo com as plásticas pós-operatórias): US$ 30 mil.

 

            Médicos ouvidos pela Folha divergiram quanto à eficácia da intervenção em jovens. O principal argumento contra: os adolescentes ainda não têm estrutura psicológica para suportar efeitos colaterais como depressão, flacidez, desânimo e ressocialização. A operação, contestam especialistas, influencia no crescimento ósseo e pode levar um desequilíbrio das funções vitais no futuro.

 

            "A redução de estômago não deveria ser aberta a crianças e jovens. É um procedimento extremo. É preciso muito cuidado com pacientes em fase de crescimento. O ideal é começar com uma reeducação alimentar", avalia o médico cabo-verdiano Júlio Teixeira, especialista do Hospital São Lucas, em Nova York. "A US$ 30 mil, a operação é muito lucrativa para os hospitais. Esse dinheiro deveria ser empregado em programas pediátricos", completa.

 

            "A classe médica chegou à conclusão de que é melhor intervir cedo. Mas isso é um programa, e a cirurgia é apenas parte dele. Se a sociedade quisesse fazer disso um negócio, ficaríamos felizes em fechá-lo", diz o diretor do Morgan Stanley, Jeffrey Zitsman.

 

 

            O mercado de bens e serviços voltados à obesidade nos EUA movimenta US$ 117 bilhões ao ano, mostra levantamento do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças). Já a indústria do emagrecimento move US$ 33 bilhões anuais.

 

            Segundo o estudo do CDC, 71% dos homens, 61% das mulheres e 33% das crianças estão acima do peso ideal nos EUA. Do total da população, 64% são considerados obesos (quando o índice de massa corporal -peso dividido por altura elevada ao quadrado- é superior a 30).

 

            Sem medo

 

            Adolescentes que optam pela intervenção mostram entusiasmo. O frio de -13C não diminuiu a animação de Junior, 17, para a operação no centro médico da Universidade de Nova York que, crê, mudará sua vida.

 

            "Não tenho medo, vamos lá", disse à reportagem, que acompanhou com os pais os instantes anteriores à cirurgia.

 

            Com 160 kg, Junior é aluno do último ano do ensino médio no Queens. "Quero jogar basquete e beisebol como os meus amigos da escola. Mas, sabe como é, não tenho muita agilidade assim, meio gordinho", ri.

 

            Nesse momento, entram na sala Fielding e uma colega. É aplicada a anestesia geral. Junior vai para a sala de cirurgia.

 

            Duas horas depois, a boa notícia. "Deu tudo certo. Não houve problema", diz Fielding, 4.500 cirurgias de redução de estômago no currículo.

 

            À tarde, de volta ao quarto, a namorada Katherine pergunta: "Sabe quem sou eu?"

 

            "Yeah, uma garota qualquer do Bronx (ela é do Queens)", responde Junior, ainda sob efeitos dos sedativos.

 

            O adolescente é um dos 50 pacientes que receberam ajuda de US$ 20 mil de uma ONG para cobrir os custos da cirurgia.

 

            Fielding, médico famoso no meio artístico de Nova York, tenta levantar mais dinheiro para outros 12 pacientes. "A cirurgia devolve uma vida normal aos adolescentes. Essas pessoas são muito infelizes com a gordura e, em geral, muito doentes também."

 

 

No Brasil, há pacientes de até 12 anos

 

 

            No Brasil, uma resolução do Conselho Federal de Medicina limita em 16 anos a idade mínima permitida para cirurgia de redução de estômago.

 

            Luiz Vicente Berti, 44, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, diz que 22 mil cirurgias de redução de estômago foram feitas no país em 2005, contra 120 mil nos Estados Unidos. "A cirurgia não cura as causas, apenas as conseqüências. É preciso mudança de comportamento", avalia.

 

            Segundo o médico, as barreiras de idade, de 18 e 60 anos, podem ser derrubadas de acordo com as condições dos pacientes. Ele próprio afirma ter operado adolescentes entre 12 e 15 anos.

 

            "Uma avaliação de psicólogos, nutricionistas, pediatras e de uma junta médica é que estuda a viabilidade da cirurgia. Só se a dieta não tiver adiantado", alerta. Berti diz que um estudo feito na favela de Paraisópolis, em São Paulo , revela que 50% dos moradores são obesos, e 8% são obesos mórbidos.

 

            O Brasil só perde para os EUA em número de médicos bariatras (especialistas em obesidade) e em número de cirurgias de redução de estômago. São 2 milhões de obesos mórbidos no país.