A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo é das instituições mais antigas do Brasil. Mais antiga do que ela
Apesar de antiga e responsável durante séculos pelo único hospital de São Paulo, a Irmandade é pouco conhecida pela população que ela atende. Com origem na Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, criada no final da década de 1490, pela rainha de Portugal, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo integra uma vasta organização, com centenas de Irmandades espalhadas pelo mundo, destinada a fazer a misericórdia, atendendo aos pobres, aos órfãos, aos presos e aos aflitos.
Entidade privada e independente, sem qualquer ligação com a Igreja Católica ou com o governo, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo é, atualmente, responsável pela gestão de um dos maiores sistemas de atendimento à saúde da América do Sul.
Além do conjunto conhecido como Santa Casa, na Vila Buarque, na região central de São Paulo, que abriga o Hospital Central, o Hospital Santa Isabel e um dos maiores pronto-socorros do País, a Irmandade é responsável pelo Hospital D. Pedro II, Hospital São Luis Gonzaga, Hospital Geral de Guarulhos, Hospital Francisco Morato, Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental e pelo Ambulatório de Especialidades Geraldo Bourroul. Além disso, administra um dos maiores bancos de sangue e um dos poucos bancos de tecidos do País.
Em parceria com a Prefeitura de São Paulo, é responsável pelo atendimento da microrregião Jaçanã-Tremembé, com 19 Unidades Básicas de Saúde, e pelo Programa de Saúde da Família na microrregião Jaçanã-Tremembé, na Barra Funda e no Bom Retiro.
Em parceria com a Prefeitura de Guarulhos, está assumindo a administração das Policlínicas Maria Dirce, Paraíso e São João.
Para atingir seus objetivos, a Irmandade atua essencialmente em conjunto com o poder público, por meio da prestação de serviços e de parcerias com os governos nos três níveis.
Este complexo impressionante atende quase que integralmente a pacientes carentes ou que buscam a rede pública, sendo remunerado principalmente pelo SUS, o que, evidentemente, é insuficiente para fazer frente aos custos elevados de uma estrutura desta magnitude.
Com dezenas de prédios, equipamentos médico-hospitalares dos mais variados graus de sofisticação, estoques de material e medicamentos e mais de 8.500 funcionários, cujos salários, na média, estão acima dos valores praticados no País, as despesas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo são bastante significativas.Como o pagamento do SUS é insuficiente para fazer frente a elas, a Irmandade se vale dos recursos gerados pelo seu patrimônio, especialmente pelos resultados positivos do Hospital Santa Isabel, que é sua unidade paga e funciona com capacidade quase sempre no limite, com seus leitos ocupados por titulares de planos de saúde e particulares.
Além disso, conta com convênios e subvenções do governo do estado e da prefeitura da capital, além de doações feitas pela população e por empresas.
Para dar uma ordem de grandeza do que esta máquina faz em prol da saúde pública (paulistana, paulista, brasileira e sul-americana), ao longo do ano passado, as unidades da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo realizaram perto de 1,1 milhão de atendimentos ambulatoriais, 899 mil atendimentos de emergência, 41 mil cirurgias, 95 mil internações e mais de 3,3 milhões de exames de laboratório.
Atuando em todas as áreas da saúde pública, ela realiza desde o atendimento do médico da família até complexas cirurgias de transplantes de órgãos. Vai da distribuição de sangue e seus derivados para parte da rede hospitalar estadual, até o atendimento psicológico e psiquiátrico o mais sofisticado, completamente gratuito. Garante em seus pronto-socorros o atendimento de emergência de boa parte dos acidentados que se ferem na região central da cidade e distribui milhões de doses de remédios fabricados em seus laboratórios, gratuitamente para os pacientes carentes.
Finalmente, a Santa Casa de São Paulo tem ainda forte vocação para a formação de mão-de-obra qualificada para suas unidades e para os quadros da saúde pública nacional. Hospital-escola, a Santa Casa é responsável por uma das melhores faculdades de medicina do Brasil, avaliada como uma das três primeiras pelo Ministério da Educação. Todos os anos dezenas de alunos saem de suas classes tendo recebido o melhor ensino de medicina existente no País. Sua residência é das mais procuradas e seus estágios não ficam atrás.
Na área do ensino profissionalizante, a Santa Casa disponibiliza 24 cursos, divididos em técnicos, especializações, aperfeiçoamentos e aprimoramentos, formando anualmente 813 alunos, entre auxiliares de enfermagem, enfermeiros, técnicos de laboratório, de raios X, etc.
A administração da Irmandade é feita por uma provedoria e uma mesa administrativa, eleita pelos chamados Irmãos que compõem seus quadros de eleitores. Este ano, pela primeira vez, pelo menos nos últimos 100 anos, concorreram duas chapas, sendo que a chapa vencedora, eleita com a maior votação da história da Irmandade, tem como compromisso fundamental incrementar o grau de profissionalização da instituição pelo reforço dos mecanismos de governança corporativa, planejamento estratégico e transparência com seus públicos, externos e internos.
kicker: Incremento da profissionalização e reforço da governança corporativa
ANTONIO PENTEADO MENDONÇA é membro da Academia Paulista de Letras.