A Pesquisa Mundial de Saúde, projeto desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 71 países, revela que no Brasil 55,9% das mulheres pobres com mais de 50 anos já perderam todos os dentes, os remédios correspondem a 61% do gasto mensal com saúde pelas populações de baixa renda e o principal problema relatado é o estado de ânimo, que engloba ansiedade, tristeza ou depressão. No entanto, só 3% dos entrevistados fazem terapia.
O quadro, porém, não é tão ruim quanto parece: 97,3% dos brasileiros conseguiram assistência médica na última vez de que precisaram, 90,5% esperaram menos de um dia para ser internados, 86,9% obtiveram todos os medicamentos prescritos e 5,4% tiveram acesso a “quase todos”.
“A avaliação do Sistema Único de Saúde não é tão boa, mas a gente tem de reconhecer que um sistema público, universal, é uma grande vantagem para o País”, diz a coordenadora da pesquisa no Brasil, Célia Landmann Szwarcwald.
Orientação – Cinco mil adultos com mais de 18 anos, de diferentes classes sociais, foram ouvidos entre março e setembro de 2003 em todas as regiões. O estudo, patrocinado pela OMS e coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), custou US$ 150 mil e deve orientar as políticas públicas. O Ministério da Saúde recebe os dados hoje.
Os pesquisadores quiseram saber também quem teve diagnóstico e tratamento para doenças comuns, como angina, artrite, asma, diabete. Quase a totalidade dos que tiveram o diagnóstico receberam tratamento adequado. A maior discrepância diz respeito à depressão: 19,3% dos entrevistados tiveram diagnóstico da doença, mas só 14,3% receberam tratamento. “Esse estado de ânimo é um efeito social. As pessoas vivem num contexto de desemprego ou trabalham muito e ganham pouco. É um problema externo, não individual”, diz Célia.
O SUS atende 74,2% da população e 21,2% procuram a rede privada. Apesar de ter acesso à saúde, mais da metade da população está insatisfeita ou muito insatisfeita (57,8%) com a assistência oferecida.
Curiosamente, quanto maior o nível de escolaridade e mais alta a classe social, maior é a insatisfação com a assistência. “Provavelmente ficam insatisfeitos por pagar muito pelo plano de saúde”, calcula Célia. Esses planos correspondem a 39% do gasto com saúde entre os mais ricos. Ela ressalta que o gasto com medicamento é muito alto. “A classe mais abastecida gasta quatro vezes mais do que os mais pobres. Mas, para estes, remédios equivalem a 61% do gasto com saúde.”
A pesquisa identificou ainda fatores de risco para a saúde – 38,5% dos entrevistados estão acima do peso (entre as mulheres com mais de 50 anos, esse índice sobe para 52,4%); 18% fumam diariamente, mas entre os homens a situação é pior e chega a 25,5% da população masculina entre 35 e 49 anos e a 24% entre os que têm mais de 50. O índice cai entre os rapazes (18 a 34 anos): fica em 19%.