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Consultas em casa, um hábito resgatado

Pode parecer difícil de acreditar, mas, nestes tempos grandes avanços científicos e tecnológicos, existe uma tendência na medicina que prega a volta ao passado – e ela em conquistado cada vez mais pacientes. São profissionais que defendem e praticam a consulta do médico em domicílio. Em São Paulo, clínicas vêm se especializando no atendimento na casa do paciente.

A Med Salva é uma das maiores. Inaugurada em 1999, mantém hoje uma equipe de 5 profissionais na rua que atende uma média de 35 consultas por dia. Os atendimentos variam de simples avaliações clínicas a procedimentos de emergência. Armando Tibério, 85 anos, faz uso do serviço há três anos. “Não tem dada a ver com a frieza de um consultório”, garante ele. “Posso ser atendido na hora que quiser e onde quiser, com todo o conforto. Até mesmo na cama.” Armando já solicitou o serviço no meio da noite, quando teve falta de ar, como também para consultas de rotina.

Uma visita domiciliar dura de 40 minutos a duas horas, pelo menos três vezes mais do que os 15 minutos mínimos recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Boa parte do tempo, porém, acaba sendo consumida em atividades bem diferentes das praticadas em uma consulta tradicional, no consultório médico. Assim como ocorre com um hóspede comum, o médico que atende em domicílio recebe atenção especial dos donos da casa. “Passo o dia tomando café, suco ou beliscando nas casas dos pacientes. Já tive muitas vezes de aceitar convites para almoçar, tendo já comido. Não dá para negar as gentilezas”, conta o clínico-geral Vilmar Bertoleti Carrieiro Junior, da Med Salva. “Na casa do Armando, por exemplo, sei que toda vez vou tomar um copo de guaraná, sempre da mesma marca. É infalível.”

Não há registro de quantos profissionais praticam o atendimento em domicílio. Ele começou com a onda de humanização na medicina, no fim da década de 90. Na época, a maioria dos pacientes era de pessoas com dificuldade de locomoção. “Hoje, são também pessoas que querem conforto, principalmente as que moram nas grandes cidades”, avalia Antônio Gonçalves Pinheiro, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM). A família de Sandra Pereira Bernardo, é exemplo. Na semana passada, chamou o médico no meio da noite para ver a neta Mikaelle, de 7 meses, que estava com febre. “Deus me livre enfrentar um hospital com a criança se ela não tem nada tão grave”, diz ela. “Ficamos aqui, calmas, preparando um café até o médico chegar.” Depois de ver Mikaelle, Sandra pediu ao médico para medir a pressão da mãe, Rosa.

A professora Eni Schwartz, de 62 anos, é atendida na sala de sua casa desde o ano passado, pelo dentista. “Sempre tive pavor de dentista, até o cheiro do consultório me incomodava”, conta ela. “É outra coisa ser atendida perto das minhas coisas, com a vista da minha janela. Acabou meu medo.” O serviço que atendeu a professora é de uma empresa especializada em consulta odontológica domiciliar, a Odonto Active. “No início, em 2001, fazíamos uma consulta por mês e hoje são quatro por dia”, festeja o dentista Mário Sergio de Souza, da empresa.

A parte operacional para o dentista é mais complicada. “Dependendo da casa, temos de levar até uma cadeira portátil para o paciente”, conta Mário. Uma visita na casa do paciente custa R$ 100 e uma prótese, até R$ 1.500. Há dez anos, a dentista Ana Paula Falcão descobriu o mercado domiciliar. “Em 1994, resolvi atender um antigo paciente que havia sofrido um derrame na casa dele e não parei mais”, lembra ela. Nos primeiros anos, Ana Paula atendia sozinha três pacientes do total da clientela. “Hoje, 10% dos meus pacientes do consultório me chamam para atender em casa”, calcula. “O perfil que mais cresce é daquele que não quer sair de casa por comodidade.” O preço do serviço domiciliar da dentista é sempre 30% mais caro em relação ao praticado no seu consultório.

Os planos de saúde não cobrem o atendimento domiciliar. A não ser que exista um acordo preestabelecido. Além de ter seu próprio plano, a Med Salva, por exemplo, tem parceria com alguns tipos de planos da Unimed Paulistana, Itálica Saúde e Royal Saúde. A consulta particular da empresa custa R$ 350.

Os laboratórios de ponta do País também investiram no atendimento domiciliar. Fleury, Delboni Auriemo e Lavoisier oferecem os mais variados exames aos pacientes que simplesmente não querem sair de casa, que vão de simples coletas de sangue a ultra-sonografias e eletrocardiogramas. Além do preço do exame da tabela do laboratório, nos dois primeiros o paciente tem de pagar a taxa de visita de R$ 35. No Lavoisier, R$ 30.

O atendimento domiciliar tem tudo para crescer. “O médico que topa ir até a casa do paciente tem vantagens em relação aos concorrentes”, avalia Antônio Gonçalves Pinheiro, do CFM. “Hoje é fácil encontrar um profissional que domina a tecnologia. Já o que oferece calor humano, nem tanto. E o paciente sabe disso.”