Falta de recursos reflete na precarização ainda maior do atendimento ao público
Por Leonardo Franklin, de Curitiba
Apesar de a crise ser generalizada no setor hospitalar do Paraná e do Brasil, as instituições de caráter filantrópico têm ainda maior dificuldade. Todas as Santas Casas do Paraná estão passando por uma situação delicada de falta de recursos e, como reflexo, de infra-estrutura, recursos humanos e até medicamentos.
Na sexta-feira, a situação chegou ao extremo. A Santa Casa de Paranaguá suspendeu o atendimento aos beneficiários do Sistema Único de Saúde (SUS), sob a alegação de que os recursos repassados pelo governo federal, por intermédio da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), teriam acabado já no dia 14. A medida resultou em uma precarização ainda maior do atendimento ao público.
Para o diretor da Federação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas do Paraná (Femipa), Charles London, a situação das Santas Casas não é muito diferente da dos demais hospitais. Situação essa que, segundo ele, vem sendo agravada pela defasagem de valores na tabela de repasses do SUS. “Não temos um reajuste significativo há oito ou nove anos. O que houve foi apenas ajustes em casos pontuais, o que não criou impacto nas receitas”, comenta.
De acordo com a Federação dos Hospitais do Paraná (Fehospar), uma pesquisa realizada pelas instituições hospitalares no ano passado dá conta que a dívida das Santas Casas do Estado somam R$ 120 milhões. Grande parte em pendências trabalhistas e com fornecedores.
Braço importante
London ressalta que o modelo de Santas Casas é o mais antigo do país, mesmo sendo um “braço importante no sistema de atendimento”. Hoje, essas instituições respondem por 30% dos leitos no Paraná e por 38% dos internamentos de todo o Brasil.
Aporte
O médico entende que cada um destes hospitais precisa ser modernizado, mas que o poder público “pode e deve” contribuir com um aporte de recursos. “Como em todo os setores, as Santas Casas precisam de uma gestão moderna”, frisa.
Ele destaca o caso de Santa Catarina, em que o governo do Estado “zerou” a dívida dessas instituições. “A Saúde não é apenas uma obrigação da União, mas também dos estados e municípios”, explica, lembrando que em alguns casos as prefeituras complementam o caixa com a receita necessária para suprir os gastos, exatamente porque o atendimento nessas instituições é preferencialmente para pacientes do SUS.
Falência
Em Paranaguá, dos 95 leitos disponíveis na Santa Casa, 90 estão ocupados por pacientes do SUS. No entanto, os baixos valores pagos por procedimentos do SUS fazem com que o hospital não tenha mais dinheiro para comprar remédios ou pagar os médicos, necessários para os atendimentos.
No caso de Paranaguá, o problema é antigo e grave ao ponto de equipamentos de mamografia e ecocardiografia, doados pela Receita Federal, não terem entrado em funcionamento por falta de verba para a instalação.
Colombo
Problema semelhante sofre a Santa Casa de Colombo, na região metropolitana de Curitiba. A entidade tem um histórico de endividamento e sofre processo de insolvência desde 1975, três anos após ser inaugurada. “Sobrevivemos apenas devido a abnegação dos nossos funcionários”, afirma o administrador Luiz Carlos Bonato.
Esse hospital atende uma população de cerca de 220 mil pessoas com apenas 80 leitos. São 300 cirurgias e 400 internações clínica a cada mês, além das consultas de especialidades, para as quais os pacientes atendidos nos postos de saúde são encaminhados.
O risco de fechar as portas é iminente. “Só conseguimos comprar os gases à vista. Quanto aos medicamentos, ainda conseguimos negociar algum prazo para o faturamento”, afirma Bonato, deixando claro que o funcionamento da instituição depende da boa vontade dos fornecedores.
Defasagem
A Santa Casa de Colombo recebe recursos do SUS, que injeta cerca de R$ 70 mil mensais, e da Prefeitura local, que investe outros R$ 300 mil anuais. A despesa, no entanto, ultrapassa a casa dos R$ 200 mil ao mês. “O dinheiro do SUS é suficiente apenas para pagarmos a folha de pessoal e alguns encargos”, explica Bonato. A dívida de curto prazo já chega aos R$ 500 mil.
Nem sequer os plantões estão sendo feitos permanentemente. “Temos dificuldade de encontrar médicos para trabalhar aqui, devido aos baixos valores pagos pelos plantões”, comenta o administrador. “Além disso, as instalações são velhas e precisam de reforma”, comenta.