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Empresários ajudam a recuperar hospital ameaçado de fechar

Após três meses, leitos de Centro de Terapia Intensivo são reativados em São José dos Pinhais


 

A reabertura de nove dos 12 leitos do Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital e Maternidade São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, é o primeiro resultado concreto do novo modelo administrativo adotado na instituição, que esteve ameaçada de fechar as portas. O CTI voltou a funcionar no dia 1.º, após três meses de desativação, e ontem estava com quatro pacientes.
O quadro de declínio do hospital começou a mudar há dois meses, quando um grupo de empresários e profissionais liberais da cidade assumiu a administração, atendendo decisão judicial. “É o primeiro respiro que estamos dando. Em novembro, o hospital estava a ponto de fechar e revertemos a tendência”, comenta Ivan Rodrigues, empresário que faz parte do novo corpo administrativo.

 

Segundo o diretor-técnico do hospital, o médico Vladecir Demenech, os leitos que voltaram a funcionar fizeram muita falta à cidade, já que não existe nenhuma outra UTI que atenda pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Temos o Centro Municipal de Emergências (CMU), que presta um serviço semelhante, mas não é a mesma coisa”, diz o médico.
Rodrigues explica que o CTI não voltou a funcionar antes porque equipamentos que estavam em manutenção não podiam retornar ao hospital por falta de pagamento. De acordo com o empresário, foi feito um acordo com os fornecedores e os aparelhos, como monitores de sinais vitais, voltaram à CTI. Reparos no ar condicionado também foram necessários.
Para manter a CTI funcionando, uma equipe de médicos intensivistas já foi escolhida – antes do fechamento da unidade eles eram 13, e Demenech estima que o número será mantido. “A lei diz que para cada 12 pacientes é preciso haver um médico na CTI, ininterruptamente”, afirma o diretor-técnico do hospital. Os médicos farão rodízio para garantir que, nas 24 horas do dia, pelo menos um deles esteja na terapia intensiva.
Para Rodrigues, a reabertura da CTI também tem valor simbólico, deixando para trás os dias em que o hospital ficou praticamente fechado, entre 17 e 21 de outubro. “Não tínhamos ninguém internado, faltava dinheiro para comprar comida e medicamentos”, recorda Demenech. No dia 21, o ambulatório voltou a funcionar e o governo do estado enviou mantimentos e remédios. De outubro a dezembro de 2005, a média era de três pacientes internados; no final de janeiro eram 47, pouco mais da metade dos 89 leitos disponíveis. O número total de leitos do hospital é 104, mas, segundo Demenech, 15 deles estão desativados.

Pronto-socorro
O pronto-socorro do hospital, no entanto, continua desativado e sem data para voltar a funcionar. Como a terapia intensiva, o PS foi fechado em outubro. “Esse é um dos setores que mais exigiria do hospital financeiramente – cerca de R$ 300 mil mensais – e no momento não temos condições de arcar com este gasto”, argumenta Rodrigues. Um convênio assinado entre a prefeitura de São José dos Pinhais e o hospital rendeu R$ 1,9 milhão para o funcionamento do pronto-socorro até setembro do ano passado, quando expirou um Termo de Ajuste de Conduta. A prefeitura informou, por meio da assessoria de imprensa, que está analisando maneiras de repassar mais recursos ao hospital por meio de um novo convênio.
Enquanto isso, a maioria dos atendimentos de pronto-socorro que deveriam ser realizados pelo hospital são deslocados para o Hospital Cajuru, em Curitiba. De acordo com a assessoria de imprensa do Cajuru, entre agosto de 2005 e janeiro de 2006 houve um aumento de 36% nos atendimentos de pacientes vindos de São José dos Pinhais, em comparação com o mesmo período entre 2004 e 2005.

 

 

Quadro de funcionários foi enxugado

 

Desde a entrada do grupo de empresários na administração do Hospital e Maternidade São José dos Pinhais, 54 funcionários foram demitidos. Ivan Rodrigues argumenta que o quadro do hospital estava inchado e o número corresponde à quantidade de pessoas contratadas durante o último período de intervenção, que durou de janeiro a novembro de 2005.
O empresário ressalta que os trabalhadores dispensados não são necessariamente os contratados neste período: “fizemos uma avaliação de produtividade”, explica. O hospital, que tinha 304 funcionários, ficou com 250.
As rescisões dos contratos custarão R$ 115 mil ao hospital e um acordo com o sindicato da categoria permitiu o pagamento em quatro parcelas, a primeira delas já quitada. “Felizmente todos os dispensados tiveram seus direitos trabalhistas respeitados”, afirma Isabel Cristina Gonçalves, presidente do Sindesc, sindicato que representa funcionários de hospitais, clínicas e consultórios de Curitiba e região metropolitana.
Ela diz que a discussão foi satisfatória para todas as partes. “A direção nos explicou a situação de maneira ética e transparente. Concordo que, para o número atual de internações, o quadro estava um pouco acima do necessário, mas esperamos também que, com a recuperação financeira do hospital, possamos recontratar estas pessoas”, ressalta.

 

 

Nova equipe que acabar com dívidas e tornar a instituição mais competitiva

 

Não podemos precipitar a reestruturação do hospital. Só reabriremos o pronto-socorro quando pudermos garantir que não haverá outras situações como as que passamos no fim de 2005”, diz Ivan Rodrigues. Embora não adiante uma data para a reabertura do PS, o empresário estima que nos próximos meses o hospital voltará a operar no azul. Com o fim do convênio com a prefeitura e o fechamento do CTI e do PS, as receitas caíram de uma média de R$ 600 mil no primeiro semestre de 2005 para R$ 150 mil mensais no fim do ano passado, para uma despesa que permaneceu na casa dos R$ 400 mil por mês. Doações de empresas ajudaram a manter o funcionamento do hospital, que tem dívida total de cerca de R$ 4 milhões.
A recuperação financeira do hospital passa por um fato inusitado: desde novembro, os responsáveis pela administração do hospital são empresários de São José dos Pinhais, que assumiram o posto por decisão judicial. O presidente da Associação Comercial, Industrial, Agrícola e de Prestação de Serviço de São José dos Pinhais (Aciap-SJP), Júlio Canestraro, é um dos membros da equipe de transição. “Estamos trazendo uma visão diferente para dentro do hospital: o modelo de gerenciamento empresarial, para torná-lo competitivo”, descreve. Além dos cinco nomeados, o grupo conta com outros três voluntários, entre os quais está Ivan Rodrigues. Eles apontam a necessidade de mudanças inclusive na ética de trabalho do local para tornar o atendimento mais eficiente. “As câmaras setoriais da Aciap-SJP também estão colaborando na reestruturação: a de informática vai deixar os sistemas funcionando perfeitamente, e em breve a dos contadores também virão ajudar”, adianta Canestraro.

 

 

Problemas se acentuaram em 2003

 

Março de 2003 – O Ministério Público efetua denúncias contra os médicos que administravam o Hospital e Maternidade São José dos Pinhais. Eles se afastam e o ex-prefeito e ex-deputado federal Moacyr Piovesan é eleito provedor.

Fevereiro de 2005 – O juiz Ivo Faccenda, da 2.ª Vara Cível, afasta Piovesan da provedoria, a pedido do Ministério Público, e nomeia uma junta de interventores. Ao longo dos meses, a composição da junta sofre alterações.

Outubro de 2005 – O pronto-socorro e o Centro de Terapia Intensiva do hospital são fechados. Entre os dias 17 e 21, o hospital inteiro fica praticamente paralisado.

16 de novembro de 2005 – Faccenda confirma o afastamento de Piovesan e decreta o fim da intervenção, dissolvendo a junta e nomeando uma equipe formada por empresários e profissionais liberais do município, que administrará o hospital até uma nova assembléia para eleição de uma diretoria.

Fevereiro de 2006 – A CTI é reaberta e a luta agora é pela viabilização do pronto-socorro.