Dos 53 hospitais filantrópicos filiados à Associação dos Hospitais do Estado do Ceará (AHECE), apenas 15 atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os demais passaram para outros convênios ou se tornaram hospitais da saúde suplementar. Essa mudança, segundo o presidente da AHECE, Aramicy Pinto, foi a maneira encontrada para driblar a crise financeira que atinge o setor. Ele acrescenta que a demanda por serviço aumenta cada vez mais, porém, a tabela de procedimentos (valores pagos pelo SUS por consultas, exames) paga pelo SUS está defasada, o que compromete o funcionamento dessas unidades. A situação da rede conveniada está sendo abordada na 2ª Conferência de Gestão Hospitalar de países de Língua Portuguesa que termina hoje, 12, no Centro de Convenções, no bairro Edson Queiroz.
Maior procura por atendimento, encargos sociais elevados. Ele observa que os recursos não chegam na mesma proporção e o resultado tem sido o fechamento de unidades hospitalares.
Segundo a Federação Brasileira de Hospitais (FBH), nos último dois anos, 50 no Ceará fecharam ou se descredenciaram do SUS. Entre os fechados, Pinto cita o Pronto Socorro da Criança, Maternidade São Pedro, Hospital dos Arrumadores, Hospital Jesus Sacramentado, em Messejana. "Quem não fechou, mantêm-se com muita dificuldade". Aramicy Pinto observa que o problema é ainda mais grave no interior.
Irmã Maria das Graças Ataíde, diretora do Hospital José Pinto do Carmo, em Baturité, por exemplo, diz que a crise financeira é permanente. Ela observa que a unidade, que é filantrópica, não consegue ter recursos financeiros para atender à demanda. "Recebemos muitas ajudas, mas são ações pontuais". Hoje, 12, a FBH apresentará um panorama da situação dos hospitais conveniados ao SUS no País. De acordo com uma pesquisa realizada pela FBH em 2005, a dívida dos hospitais privados que atendem pelo SUS já ultrapassava a R$ 20 bilhões.
Segundo Pinto, a mobilização por reajuste na tabela do SUS é em todo o País. "Não é só reajustar o valor dos procedimentos, mas também é preciso aumentar os recursos destinado aos estados". Essa também é a luta do secretário Municipal da Saúde, Odorico Monteiro, que lamenta o déficit no teto financeiro (montante de recurso enviado pela esfera federal para pagamento dos serviços de saúde) de Fortaleza da ordem de R$ 3,5 milhões por mês. "Recebemos R$ 25 milhões por mês do Ministério da Saúde para pagar tudo, média e alto complexidade da rede municipal, estadual, filantrópica e privada conveniada ao SUS". Com a municipalização da saúde, em 2000, a saúde passou a ser gerenciada pelo município.
De acordo com Ministério da Saúde (MS), está previsto para julho próximo o reajuste nos valores dos procedimentos do SUS. Ainda segundo o MS, de 1994 a 2002 não houve aumento e o déficit chegou a até 110%, mas de 2003 a 2006, os procedimentos ambulatoriais e de internações foram reajustados chegando a R$ 1.394,66. O Ministério informa que os reajuste foram decorrentes de discussões com os gestores municipais, estaduais e representantes de prestadores filantrópicos e privados.